Afinal, qual é a motivação por trás do novo Mundial de Clubes?
As versões de Tim Vickery poderiam entrar em uma conversa para tentar entender se vale a pena se empolgar

Um amigo meu achou uma maneira original e sensacional para contar a sua história. A sua autobiografia tem uma estrutura pouco comum — trata-se de uma chamada de Zoom, onde os participantes são todos ele, mas com idades diferentes.
Tem, então, ele de oito anos dialogando com ele com quinze, vinte e cinco, quarenta e por aí em diante. Fascinante.
Eu estava pensando sobre isso num momento de contemplar o novo Mundial de Clubes. Porque me vejo em um conflito interno sobre o torneio, de um modo que dá para imaginar uma briga acontecendo numa chamada de Zoom em que os participantes são todos eu em várias idades.
Não tenho dúvida. Para o eu de oito anos, essa taça é um sonho feito realidade. Sempre quis uma coisa assim, reunindo clubes de continentes diferentes.
Acredito que todos nós, fãs de futebol, temos uma criança de oito anos ainda lá dentro, procurando se expressar. E tem uma coisa desse torneio que estabelece uma conexão fácil com tal jovem.
O Mundial de Clubes tem um aspecto que lembra as Copas do Mundo da minha infância — a graça de mistério.
Antigamente, antes da globalização do esporte, se sabia muito pouco dos outros times antes da Copa. O grande charme do torneio era justamente a oportunidade para conhecer jogadores, que no período de algumas semanas forneceram uma multitude de narrativas frescas e fascinantes.
E isso deveria acontecer de novo agora. Atletas que chegaram no certame desconhecidos vão embora com nomes consagrados.
Quem vai resistir? Na minha chamada de Zoom, com certeza as minhas versões com oito, quinze e até vinte e cinco anos estão pulando de alegria. As versões maiores nem tanto.
A chatice da idade? Com certeza, faz parte. O jovem só enxerga os positivos. O ancião já foca em cima dos riscos.
Mundial expandido tem motivações políticas e financeiras

Com mais idade, você tem mais noção do jogo político por trás e acaba questionando: quanto esse torneio tem motivação nobre esportiva para dar uma oportunidade para todos?
E quanto é uma luta para poder e, especialmente, dinheiro, com a FIFA se esforçando para pegar a grana gerada pelo futebol europeu?
Claro, pode ser as duas coisas juntas. A idade traz uma visão com mais nuances, em que as coisas não se dividem tão facilmente em luz e sombra.
Existe, também, o risco de desequilibrar a pirâmide de futebol. Os clubes participando neste mundial, especialmente da periferia do jogo, vão receber tanto dinheiro que deveriam ficar muito mais fortes, quase imbatíveis, em suas ligas domésticas.
Daí, rivalidades longas entre rivais locais do mesmo tamanho vão sofrer um baque considerável. Como competir com um adversário tradicional que passou a receber uma fortuna da FIFA? A capacidade destrutiva do novo torneio também merece ponderações.
E, no curto prazo, tem o risco de expor os jogadores em condições de calor extremo – e como frisei neste espaço na semana passada, isso pode ser bem nocivo para os atletas, para os torcedores e para o futuro da competição.
O calor incentiva a cautela e realmente tem a grande possibilidade de uma fase mata-mata (a parte de um torneio que fica na mente e na história) prejudicada como espetáculo pelas temperaturas do jogo.
Para o novo Mundial vingar, precisamos sair dessa versão já antecipando a próxima, e não se parabenizando porque conseguimos chegar até o apito final.
Se você me desculpar agora, chegou o momento de dar click em cima desse link aqui e abrir a chamada de Zoom. Para enfrentar essa maratona de jogos no Mundial de Clubes, preciso muito ouvir o entusiasmo puro de eu com oito anos.