Goleiros provam no Mundial que futebol brasileiro precisa focar em atualizar outra posição
Atuações de John, Fábio e Weverton no torneio mostram a variedade de escolhas que o país tem à sua disposição

O Mundial de Clubes proporcionou uma visibilidade para o futebol doméstico do Brasil que deve desafiar alguns mitos.
Por exemplo, ainda é comum ouvir que no Brasil se pratica um futebol alegre, uma forma de “Carnaval de chuteiras”, onde todo mundo vai para o campo para se expressar, defesa não existe e ninguém liga demais para o resultado. Me divirto bastante contando para uma audiência estrangeira que até o desfile de Carnaval é super competitivo, e sempre um motivo para brigas sobre a arbitragem.
E, se tem uma lição que os interessados devem tirar desta Copa do Mundo de Clubes é que os times brasileiros sabem competir, e são capazes de defender como o resultado fosse questão de vida ou morte. E, que nessa tarefa, tem a ajuda de uma linha de produção impressionante de goleiros.
Não é uma posição que normalmente se pensa com um ponto forte do futebol brasileiro, embora o desempenho na Europa de Dida e Julio Cesar, e nos últimos anos, de Alisson e Ederson, ajudou claramente a mudar a percepção.
Impressionante que, de todos os goleiros brasileiros neste torneio, Ederson talvez tenha se saído pior. O jogador do Manchester City veio de uma temporada difícil e, embora não tenha falhado feio na partida fatal contra o Al Hilal, não conseguiu passar uma sensação de segurança — diferente de John, Fábio e Weverton.
Espero que essas não sejam palavras perigosas antes da grande sexta-feira [dia em que Palmeiras e Fluminense disputam seus confrontos pelas quartas de final do torneio] — não por nada existe a crença que goleiro ou juiz somente deveriam ser elogiados depois do apito final –, mas os três tem sido entre os melhores na posição neste torneio. Realmente, os avanços da preparação física e os métodos de treinamento estão deixando o futebol brasileiro muito bem servido nesta posição.
Futebol brasileiro precisa apostar em mais Jorginhos?

Mas pode ser que isso não se aplica a todas as posições — e especialmente no centro do meio-campo. No início, tem a ideia — e durante muito tempo, a ideia dominante no futebol brasileiro foi a necessidade de separar o quarteto de meio em dois que defendem e dois que atacam.
Foi o modelo da Copa de 1994, mas sem jogadores da qualidade de Mauro Silva e Dunga na primeira linha. Em consequência, acredito que o jogo aqui perdeu muita fluência com a bola. E como já frisei neste espaço, não tem nada a ver com o futebol europeu.
O grande Zizinho fez uma grande alerta em 1985, fechando a sua autobiografia com um lamento. O mestre Ziza andava preocupado com a falta de segurança do emprego dos técnicos e um consequente apego à cautela. Aí, “deram para o cabeça-de-área, um homem que tem em seu poder 70% da posse da bola da sua equipe, a função específica de destruir, quando devia ser de criar as jogadas.”
Dá para imaginar o Jorginho lendo isso com grande entusiasmo. O recém-contratado meio-campista do Flamengo teve que ir para Europa desenvolver e ser valorizado. No Brasil ninguém estava procurando um volante com as suas características. Queriam um pitbull, um atleta para correr, e não um jogador franzino, mas inteligente, com a técnica para fazer a bola correr.
No Mundial de Clubes, o Flamengo teve o azar de cruzar cedo contra o Bayern. Mas aposto que a combinação de Jorginho e os velocistas vai funcionar muito bem no Campeonato Brasileiro. Mais importante ainda é ter esse tipo de jogador aqui como espelho, recuperando uma velha tradição e ajudando o Brasil a ser tão proficiente na produção de volantes-pensadores quanto já virou como celeiro de goleiros.