‘Uma vergonha’: Fifa esconde campanha antirracismo no Mundial de Clubes
Entidade máxima do futebol foi criticada por ativistas por não manter mensagens pró-inclusão mais firmes nos EUA
O novo Mundial de Clubes expandido com 32 representantes de todos os continentes é o projeto mais ambicioso da gestão de Gianni Infantino. Entretanto, a entidade máxima do futebol omitiu sua campanha antirracismo nos Estados Unidos e foi criticada por ativistas.
Nenhum vídeo, sinalização ou material de marketing pró-inclusão será exibido nos locais-sede do torneio, segundo o portal “The Athletic”. Contudo, a Fifa chegou a desenvolver materiais promocionais durante a preparação do Mundial para promover as mensagens “sem racismo” e “sem discriminação”.
A entidade, por sua vez, está usando um slogan bem mais brando: “O Futebol Une o Mundo”. Fontes ligadas à Associação Europeia de Clubes, que representa o interesse dos afiliados da Uefa e que participaram da comercialização da competição, afirmam que a entidade não foi consultada sobre ativações ou campanhas que a Fifa planejou para o Mundial de Clubes.
O FIFPro, sindicato internacional de jogadores profissionais, também não foi comunicado pela entidade máxima do futebol sobre quaisquer mudanças na política antidiscriminação para o torneio nos EUA. A ausência de mensagens mais firmes contra o racismo no novo Mundial de Clubes causou indignação entre defensores da inclusão.
Governo de Donald Trump influenciou na postura da Fifa no Mundial?

A Fifa não respondeu se as tensões políticas dos Estados Unidos foram uma questão determinante para não aplicar a campanha antirracismo no torneio. Por outro lado, a entidade se baseou em seu próprio estatuto, que diz que a organização é “neutra” em questões governamentais.
Antes do início do Mundial, o presidente Donald Trump cortou os programas DEI — sigla em inglês para Diversidade, Igualdade e Inclusão. Evan Whitfield, presidente da Human Rights Soccer Alliance (HRSA), grupo estadunidense de ex-jogadores, ONGs, advogados e organizações de futebol de base, se mostrou decepcionado com a postura da Fifa.
— O futebol existe em um espaço onde os valores de não discriminação e inclusão são claros, mas eles precisam ser constantemente enfatizados para o mundo.
“A mensagem básica de que ‘o futebol une o mundo' não é clara o suficiente. E certamente não reflete a necessidade de uma mensagem entre aqueles que estão começando a conhecer o futebol como esporte ou assistindo a um torneio mundial pela primeira vez”, continua Whitfield.
O presidente da HRSA também transmitiu sua preocupação para a Copa do Mundo de 2026, que será realizada nos Estados Unidos, México e Canadá. Evan Whitfield defende que a entidade máxima do futebol deve ter valores consistentes, independentemente do país que realiza suas competições.
— Se a Fifa consegue ter uma mensagem forte na Rússia, no Catar, na Nova Zelândia e na Austrália, o mesmo deve se aplicar aos Estados Unidos. (Antirracismo) é uma questão do futebol, independentemente da administração do país-sede.
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Campanha antirracismo era incentivada no passado

Cabe ressaltar que, nas últimas edições das Copas do Mundo masculina (2022) e feminina (2023), a Fifa exibiu mensagens antirracismo e antidiscriminação regularmente. Contudo, o mesmo não aconteceu durante o Mundial de Clubes nos Estados Unidos.
Não houve anúncios nos estádios durante a nova competição explicando os protocolos antirracistas ou o “gesto antirracista universal”, que foi lançado em setembro de 2024 e deveria ser aplicado em todos os torneios da entidade.
Piara Power, ativista antidiscriminação no futebol, classificou a mudança da Fifa nos EUA como “mais do que uma vergonha”. Já Nick McGeehan, da FairSquare — grupo de defesa dos direitos humanos –, acredita que Infantino quis se alinhar à agenda política de Trump.
— Isso parece, mais uma vez, a Fifa apoiando o programa Make America Great Again (MAGA) e abandonando seus princípios em um esforço para manter o presidente Trump ao seu lado.





