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Ultras da Inter afirmam que coreografia antirracista em apoio a Lukaku foi censurada pelas autoridades

Torcida da Internazionale preparou um bandeirão com a imagem de Lukaku pedindo silêncio aos racistas, mas a coreografia não foi permitida pelas autoridades

Principal grupo de ultras da Internazionale, a Curva Nord teve uma coreografia proibida nesta quarta-feira. Os nerazzurri pretendiam exibir um bandeirão nas arquibancadas, antes da partida contra a Juventus pela Copa da Itália, vencida pelos milaneses por 1 a 0 no San Siro. E, segundo o próprio grupo, a ideia era fazer um protesto antirracista, que não foi permitido pelas autoridades. Os interistas exibiriam uma imagem gigante de Romelu Lukaku com sua comemoração em que batia continência e pedia silêncio, após ser vítima de insultos racistas – a mesma celebração que desencadeou sua incompreensível expulsão na partida de ida contra os juventinos e também a suspensão, depois revogada.

A torcida da Inter realizou um protesto contra a Juventus, em que retirou suas faixas das tribunas do San Siro. Existiam até versões que a manifestação seria contra problemas na venda de ingressos para o jogo contra o Milan, pelas semifinais da Champions League – o que também seria totalmente legítimo. Contudo, a Curva Nord apontou que o protesto era mesmo contra a proibição da coreografia, que repudiava o racismo sofrido por Lukaku na partida em Turim semanas antes. O bandeirão trazia uma imagem gigante do centroavante, com o dedo em riste sobre a boca. Como não puderam exibir o desenho, os ultras indicaram seu descontentamento de outra forma, sem suas faixas tradicionais.

“O protesto que aconteceu hoje à noite, ou melhor, a remoção das faixas, foi em resposta à desnecessária e estranha injustiça que não nos deixou mostrar um bandeirão antirracismo. Na verdade, nosso ressentimento vem da falta de autorização para exibir a coreografia, que homenageia o gesto de Lukaku. Foi criado um bandeirão contra o racismo, após a controvérsia que apareceu nas colunas esportivas recentes em televisões e jornais. Como sempre, a verdade foi deturpada e disseram que o protesto era por conta da venda de ingressos para o clássico na Champions, quando na verdade a venda nem começou”, explicou a Curva Nord.

Naquela ocasião, Lukaku recebeu o segundo cartão amarelo por sua comemoração. A justificativa era de que o centroavante teria “provocado a torcida” – quando ele mesmo tinha sido atacado pelos racistas. O gesto, além do mais, já tinha sido feito pelo jogador na Data Fifa, com a seleção da Bélgica. Por conta da expulsão, Lukaku estaria suspenso para o jogo de volta, mas o próprio presidente da federação italiana, Gabriele Gravina, interveio para anular a decisão. O comitê disciplinar havia negado o recurso da Inter.

O posicionamento da Curva Nord também é importante pelo próprio histórico dos ultras. Em outros episódios de racismo contra Lukaku, a torcida chegou a lavar as mãos e a indicar que a “culpa era do centroavante por reagir”. Foi o que ocorreu, por exemplo, em 2019: Lukaku foi vítima de insultos contra o Cagliari e a Curva Nord publicou um comunicado surreal dizendo que o racismo “não era um problema real na Itália”, enquanto os gritos imitando macacos eram usados para “ajudar o time e deixar os oponentes nervosos”, mas não eram racistas. Depois daquele posicionamento naturalmente repudiado, desta vez os nerazzurri se colocam enfaticamente ao lado do jogador. Já era tempo.

Agora, resta às autoridades italianas esclarecerem o que aconteceu. Não parece razoável proibir o bandeirão, por qualquer motivo, ainda mais dentro do contexto. A própria Juventus repudiou as ofensas racistas de sua torcida. Enquanto prevalece a inação dos responsáveis por coibir o racismo, cria-se um ambiente ainda mais permissivo a esse tipo de ataque. A censura inexplicável, se ocorreu mesmo, reforça essa noção. Lukaku ao menos terá a chance de se manifestar de novo na decisão da Copa da Itália, para a qual a Inter se classificou após vencer a Juventus por 1 a 0 nesta quarta-feira.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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