Sacchi: “Nas duas últimas temporadas, as ideias ganharam do dinheiro na Serie A”

Arrigo Sacchi é visto como o mais revolucionário dos treinadores na história do futebol italiano. Durante seu auge, o Milan tinha uma maneira de jogar inconfundível e que amassava qualquer tipo de adversário. A construção do esquadrão dependeu de grande investimento, é claro, mas também de ideias inovadoras que rompessem o padrão. E o veterano avalia como positivo o momento da Serie A, especialmente pela maneira como times que fugiram dos padrões e investiram em ideias conseguiram derrotar os favoritos com mais dinheiro.

“São dois anos em que as ideias superaram o dinheiro, no título do Milan e agora no do Napoli. O time mais rico não venceu o campeonato. Com ideias, é possível vencer. Dois times que não eram favoritos venceram o Scudetto. As ideias ganharam do dinheiro. A Lazio terminou em segundo, mas os times que mais gastaram foram Juventus, Inter e Roma”, analisou Sacchi, em entrevista à SportMediaset.

Sacchi exalta os estrategistas, não os táticos

O veterano relacionou a recuperação do futebol italiano à criação de um estilo que se imponha sobre os adversários: “O futebol italiano nunca teve um estilo, pensamos que somos muito criativos para dar um estilo ou então somos muito táticos. Não ter um estilo se torna ainda mais difícil para a seleção, porque você tem poucos dias para tentar aprender. Ninguém aprende em dez dias. Agora algo está se movendo, os times menores competem e causam problemas aos grandes como não acontecia mais”.

Para Sacchi, desenvolver ideias seria a diferença entre os vices dos clubes italianos nas competições europeias e eventuais conquistas no futuro: “Devemos aprender a ser menos presunçosos. Chegamos à final, bem, isso já é muito. Agora devemos colocar mais ideias de jogo e melhorar os times. Mas fazer isso na Itália é improvável, seria a maior riqueza do país. Porém, somos um povo individualista e nossa dívida está na casa dos bilhões. Vamos seguir em frente, o futebol leva muito da cultura e da história de um país. E aqui eles nos ensinam que ser espertalhão é algo bonito, mas não é assim”.

Por outro lado, o veterano avalia como o futebol italiano reúne treinadores com capacidade de desenvolver esse tipo de trabalho inovador: “Pep Guardiola é um grande treinador, mas há muitos bons técnicos italianos. É a primeira vez que temos cinco ou seis estrategistas, mas não é só no futebol que há poucos estrategistas e muitos táticos. Os táticos esperam pelo o erro, o momento de te bater. O estrategista tem um projeto maior e sabe como chegar lá. Amo o futebol e espero que a Itália tenha um estilo, mas enquanto estivermos desunidos como país, é improvável que possamos ter sucesso”.

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A relação de Sacchi com Berlusconi

Por fim, Sacchi relembrou sua relação com Silvio Berlusconi, antigo dono do Milan falecido recentemente: “Não tínhamos muito contato recentemente porque ele teve muitos problemas. Sou grato a ele, ele foi bom comigo e também deu muito ao futebol. Se você olhar, nos anos 1980 e 1990 os clubes italianos conquistaram múltiplos títulos, enquanto isso se reduziu depois. Ele foi muito bom comigo, entendeu que eu poderia ajudá-lo e me ajudou muito. Ninguém pode ter um grande time se não tiver um grande clube por trás e ele criou isso”.