Ranieri volta para casa e tenta apagar o incêndio na Roma, enquanto Monchi sai pela porta dos fundos
A necessária renovação da Roma começou já nesta semana. O primeiro anúncio importante aconteceu nesta quinta-feira, um dia depois da eliminação na Liga dos Campeões, com a demissão de Eusebio Di Francesco. Já na sexta-feira, duas notícias impactantes, embora esperadas. Monchi também não ficará na capital. O executivo vinha sendo cortejado pelo Arsenal e, mesmo sem um acordo fechado com os ingleses, oficializou sua saída da diretoria. Enquanto isso, o bombeiro no banco de reservas durante os próximos meses será um velho conhecido: Claudio Ranieri. O veterano retorna ao comando romanista, assinando contrato até o final da temporada.
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Ranieri é o que se pode chamar de “romano da gema”. Ele nasceu em San Saba, região próxima ao Circus Maximus, e começou sua carreira como jogador da Roma, seu clube de coração. Profissionalizou-se com a camisa giallorossa, mas realmente viveu sua trajetória como atleta no sul do país – defendendo Catanzaro, Catania e Palermo. Após pendurar as chuteiras e assumir a prancheta, o reencontro com a Roma aconteceu em 2009.
O treinador já tarimbado vinha de um trabalho razoável com a Juventus, ao dirigir o time em seu reinício na Serie A. E o desempenho de Ranieri com os romanistas foi digno, suplantando Luciano Spalletti. Na primeira temporada, em 2009/10, o clube sonhou com a conquista da Serie A e da Copa da Itália. Acabou com o vice em ambas as competições, no ano da tríplice coroa da Internazionale. O problema maior aconteceu na temporada seguinte, quando as oscilações no Italiano e o conflito com os medalhões do elenco, sobretudo Francesco Totti, resultaram em seu pedido de demissão durante o mês de fevereiro.
O ambiente é outro desta vez. O próprio Ranieri é outro, respaldado pelo milagre com o Leicester, mesmo que não tenha se dado bem em suas empreitadas com Nantes e Fulham. E parece ser um nome interessante para algumas lacunas do momento. Será capaz de motivar o time e fazer as mudanças necessárias para tentar salvar a classificação à próxima Liga dos Campeões, por mais que pareça difícil. Seu maior entrave será a organização do time, um catado nos últimos tempos com Eusebio Di Francesco. E primando mais pela simplicidade do que pelo arrojo tático, talvez o veterano encontre dificuldades para lidar com um grupo de jogadores limitado. É complicado até mesmo montar uma defesa sólida, como o seu costume, considerando a falta de talento à disposição na zaga. Seu discurso precisa gerar algum efeito em Trigoria.
Ranieri não escondeu a sua satisfação por trabalhar mais uma vez no clube de coração: “Estou muito feliz por retornar para casa. Quando a Roma te chama, é impossível dizer não”. Mesmo Totti demonstrou que as rusgas do passado ficaram para trás. Trabalhando na diretoria romanista, o Capitano fez uma ligação para convidar Ranieri ao cargo. Publicamente, elogiou o técnico: “Claudio é da cidade e torce para a Roma, mas, acima disso, é um dos treinadores mais experientes do mundo do futebol. O que precisamos agora é um par de mãos seguras para nos guiar de volta ao G-4 e nos assegurar na Champions para a próxima temporada. Temos 12 jogos pela frente e necessitamos ganhar o máximo possível”.
Por outro lado, Monchi sai pela porta dos fundos. Referendado pelo seu excelente trabalho na direção do Sevilla, o espanhol chegou com a fama de encontrar grandes jogadores a preços módicos no mercado e pela possibilidade de transformar a Roma em um time mais competitivo. Não aconteceu. Apesar do sucesso na última temporada, com as semifinais da Liga dos Campeões, as decisões dos giallorossi no mercado foram contestáveis. O plantel perdeu alguns jogadores importantes, sem repor à altura, da mesma forma como muitas apostas não deram certo. A impressão é que, juntamente com o trabalho coletivo ruim de Di Francesco, a equipe dependeu demais de seus jogadores-chave ao longo deste ciclo.
Nesta semana, Monchi chegou a discutir com torcedores no desembarque após a eliminação da Champions. Mesmo assim, guardou palavras boas para o seu adeus: “O clube e a cidade são duas das coisas mais apaixonadas que o futebol pode oferecer. Por isso eu me apaixonei. Por isso que nunca separei a paixão do trabalho nesta aventura. Por isso que o desejo de fazer essa cidade feliz e dar meu melhor ao clube foram prioridades em todas as decisões que eu tomei. Por isso que, na busca constante de nossa felicidade e dos que amam a Roma, coloquei tudo que tenho dentro de mim. Sei que não alcançamos todos os resultados pelos quais trabalhamos, pelos quais somos apaixonados e pelos quais também entramos em conflito por vezes. Gostaria de agradecer o carinho e o apoio de todas as pessoas com quem trabalhei nestes anos. Não me esquecerei de ninguém, todos me ajudaram a tornar Trigoria minha casa. Levei um segundo para escolher a Roma e será impossível esquecê-la. Daje Roma!”. O espanhol garantiu que não possui qualquer acerto com o Arsenal para a próxima temporada.
Sem Monchi e à procura de um técnico que conduza o trabalho na próxima temporada, a Roma agora busca uma nova direção ao seu próprio projeto como clube. Precisa ter consciência de que este é o momento de colocar os pés no chão, considerando as ambições alta demais que não se concretizaram com Monchi ou Di Francesco. Se a vaga na Champions não vier, apesar das implicações financeiras que isso significa, não seria de todo ruim disputar a Liga Europa para tentar se recuperar no próximo ano. Os giallorossi precisam avaliar bem suas condições nesta nova fase para se reerguer e almejar níveis maiores. E, diante de tudo o que está envolvido, não seria má ideia que o próprio presidente James Pallotta repensasse sua continuidade na capital. A falta de investimentos e a porção de decisões ruins o colocam em xeque. Certamente não deixaria os torcedores infelizes.