O primeiro dérbi de Milão da era chinesa foi como sempre: incendiário, suado e emocionante

Clássicos não costumam decepcionar os espectadores. Seja em termos de futebol bem jogado, emoção dentro das quatro linhas ou show nas arquibancadas. O segundo Derby della Madonnina da temporada da Serie A seguiu exatamente essa linha. Com o mando do time nerazzurro, Internazionale e Milan exibiram mais uma grande partida com o mesmo resultado do jogo de ida: 2 a 2. Só que, desta vez, o empate teve gosto de derrota para os mandantes. Em um duelo incendiário, suado e emocionante como sempre, os rossoneri, agora também sob comando chinês, conseguiram deixar tudo igual em San Siro literalmente no último instante de jogo. Nos acréscimos dos acréscimos, o Milan conseguiu arrancar um ponto da Inter e segue acima da rival na tabela, enquanto continua sonhando com o retorno à Europa.
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A partida já começou com o Diavolo jogando gasolina na rivalidade com a Inter. Os rossoneri colocaram pressão nos minutos iniciais indo para o ataque com insistência, e até levaram um perigo iminente ao gol de Handanovic. Com o passar do tempo, no entanto, a Beneamata tirou o poder do Milan de ditar o jogo e passou a fazer isso. Até que, deste jeito, a Inter abriu o placar depois de uma jogada arquitetada por Gagliardini e finalizada por Candreva. O volante deu um lançamento sensacional do campo de defesa para o compatriota dominar no campo rossonero, ganhar a disputa com De Sciglio, encobrir Donnarumma e colocar os nerazzurri a frente no placar, aos 35 minutos. Foi a primeira vez em cinco anos que a Inter mexeu no marcador no primeiro tempo em um dérbi de Milão.
O gol fez com que a Beneamata quebrasse por completo a pequena superioridade do Milan no jogo e passasse a engolir o adversário. Tanto é que pouco tempo depois, ainda na primeira etapa, o segundo gol dos mandantes aconteceu. Icardi, que ainda não tinha sacado sua arma ofensiva em um Derby della Madonnina, aumentou a vantagem para o lado azul e deixou os rossoneri em maus lençóis. Mais uma vez a defesa do Milan foi mal e permitiu que Perisic avançasse em velocidade pelo corredor esquerdo e avistasse o argentino na área, completamente livro. Àquela altura da partida, a Inter era melhor e poderia ter feito até 3 a 0 ainda no primeiro tempo.
Na volta do intervalo, o jogo ficou equilibrado porque começou morno e assim permaneceu até os 35 minutos do segundo tempo, mais ou menos. O Milan tentava chegar ao ataque sem muita eficiência, assim como na primeira hora da partida. Deulofeu se arriscava nas jogadas individuais, porque ninguém aparecia no ataque para dar ajudá-lo e empurrar a bola para o fundo da rede quando ele ganhava as jogadas pelo canto e cruzava. Mas ele sozinho não poderia produzir muita coisa. Ainda mais diante da dupla de zaga formada por Miranda e Medel indo muito, muito bem no jogo. Aliás, os laterais da Inter, Nagatomo e D'Ambrosio, também tiveram uma excelente atuação para anular as ofensivas do Milan. Principalmente o japonês, fazendo valer a oportunidade que Pioli o deu de entrar de titular em um jogo de peso como esse.
Se a defesa nerazzurra estava se saindo bem em seu ofício, os defensores tinham tirado o dia para brilhar fora de seu campo. Em um duelo entre defensores, Romagnoli levou a melhor fugindo da marcação e, após Suso ter cruzado no meio da área, foi o zagueiro quem mandou a bola para trás de Handanovic e fez 2 a 1, quase aos 33 minutos do segundo tempo. Logicamente o tento inflamou o confronto e deu um gás ao Diavolo, que tentou buscar o empate até o fim. E conseguiu. Porém, depois do fim. O árbitro Orsato tinha dado cinco minutos de acréscimo, mas o jogo prosseguiu até os 52 minutos da segunda etapa por conta do tempo perdido em saída de bola e cobrança de falta e lateral demoradas, por parte da Inter, depois de terem subido a placa de tempo extra. E isso, naturalmente, gerou muita polêmica e descontentamento entre os jogadores e os torcedores do lado azul.
O 2 a 2 veio com Zapata, que sempre foi muito contestado pela torcida milanista, mas que quase sempre se sai bem em clássicos e voltou muito bem desde sua última lesão. Se o ataque não deu conta, com Bacca participando muito pouco e Lapadula entrando só no fim para fazer dupla com ele, os defensores deram seus pulos para subir ao ataque e fazer acontecer. Com a pressão que os rossoneri estavam fazendo nos últimos instantes, eles conseguiram um escanteio como a última chance de saírem de San Siro com um ponto. Foi chegando nos 52 minutos que Zapata aproveitou a bola sobrando para ele pela esquerda e deixou tudo igual. No último suspiro, de maneira heroica, com a tecnologia apontando o gol. Para ratificar a magia que mora nos dérbis entre a dupla de Milão, que briga pau a pau na tabela de classificação.
Mesmo com o empate, o Milan acabou levando a melhor no primeiro Derby della Madonnina da era chinesa, que já mostrou sua influência com o jogo acontecendo em um horário bom para os espectadores e torcedores que moram na China e nos outros países asiáticos. Os rossoneri tinham conseguido ultrapassar a Beneamata na rodada anterior depois de golearem o Palermo por 4 a 0 e terem visto a Inter tropeçar diante do Crotone, fora de casa. Dois pontos separam a Inter (56) do Milan (58), o último time na zona de classificação para a Liga Europa.
Nas arquibancadas, o espetáculo também ficou empatado. Mas, lá, não teve quem levasse a melhor. Tanto a Curva Nord, quanto a Curva Sud deram um show, como de praxe, com suas coreografias e bandeirões. Enquanto a torcida da Inter segurava bandeiras que diziam “mesmo ao meio-dia, viva a Inter!”, a do Milan, mais ácida, fazia uma crítica à partida no horário de almoço com um bandeirão de uma mão dando dinheiro entre hashis para um homem comer e outro escrito “bom apetite, liga italiana”. Com seu tom mais ríspido, Curva Sud também produziu uma coreografia com uma bandeira gigante a qual tinha os seguintes dizeres: “para nós, vocês ladrões não são bem-vindos”.
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