Serie A

Montella não correspondeu às novas expectativas do Milan e, por isso, pagou com o emprego

A equação é tão simples quanto cruel e implacável: mais investimento, mais pressão. O Milan excedeu os € 200 milhões em contratações para, no mínimo, conseguir uma vaga na próxima Champions League. Por mais que o trabalho de Montella em sua primeira temporada fosse elogiável, o parâmetro rapidamente cresceu. Outro sexto lugar não bastaria. E o Aeroplanino não conseguiu voar tão alto quanto se esperava. A pelo menos 11 pontos do quarto lugar após 14 rodadas, Montella foi demitido. Gattuso assume até o fim da temporada.

LEIA MAIS: Pirlo pendura as chuteiras: o meia ofensivo comum que, ao recuar, se tornou lenda

A esperança presente no primeiro jogo do Milan em casa nesta temporada, com 65 mil pessoas e as apresentações de Bonucci e Biglia, dissipou-se em tempo recorde. O ponto de inflexão foi a goleada para a Lazio, no começo de setembro. A equipe acumulava seis vitórias seguidas, mas ainda não tinha encarado um grande adversário. Quando encarou, levou 4 a 1, sem contestações, e apareceu a pulga atrás da orelha.

Vitórias burocráticas em casa contra Udinese e Spal não foram o bastante para minimizar o que viria a seguir: três derrotas, para Sampdoria, Roma e Internazionale e um empate com o Genoa. O Milan ainda conseguiu ganhar de Chievo e Sassuolo, fora de casa, mas sucumbiu perante a Juventus e o Napoli. O empate sem gols contra o Torino, no último domingo, foi a gota d'água.

Apesar de todo o investimento, o Milan tem os mesmos 20 pontos de Chievo e Bologna e está a 18 do líder Napoli. A Roma, quarta colocada, tem 11 pontos a mais e um jogo a menos. São apenas duas vitórias nas últimas nove rodadas. Com 19 gols, tem o pior ataque entre os sete primeiros colocados, com certa distância para o segundo colocado (a Roma, com 23). Há quatro jogos, o Milan não faz gol, e consequentemente não vence, diante da sua torcida.

Esses são os sintomas de uma doença mais grave. Mesmo considerando o tempo necessário para encaixar tantas peças novas, o Milan está longe demais do nível de desempenho das melhores equipes da Itália, apesar de ter o terceiro elenco mais valioso do país – muito próximo do segundo colocado, o Napoli, segundo o Transfermarkt. Além da equipe de Sarri, líder da Serie A, Juventus, Roma, Internazionale e Lazio são coletivamente mais competentes que os rossoneri. Em médio prazo, sem uma mudança de panorama, isso significa que o Milan provavelmente terminaria no máximo em sexto lugar.

Não basta para os novos donos chineses do Milan. Li Yonghong, o sucessor de Silvio Berlusconi, pegou um empréstimo de € 300 milhões de um fundo de investimentos chamado Elliott Management para completar a compra do clube e reforçar a busca por reforços. O prazo dos pagamentos é outubro do ano que vem. Em entrevista ao Observer, publicada pelo Guardian, em agosto, o executivo do clube, Marco Fassone, afirmou que o reembolso será realizado “em breve”, possivelmente no começo do próximo ano, mas que existe um cenário pessimista: “O pior possível é que, em outubro do ano que vem, o Elliot será dono do Milan”.

Parte crucial desse planejamento é a classificação para a Champions League por causa das rendas polpudas que a principal competição europeia proporciona. O próprio Fassone admitiu, ao La Stampa, que o Milan seria obrigado a vender “um ou dois” dos seus principais jogadores caso não conseguisse a vaga na Champions para compensar a lacuna nas receitas projetadas. Logo, além do sucesso esportivo, ficar entre os quatro primeiros da Serie A é uma questão de sobrevivência financeira para uma diretoria que apostou alto para tentar reviver um gigante.

Pressão pesada demais para Montella. Depois de treinar Catania, Fiorentina e Sampdoria, além de uma passagem como interino pela Roma, o ex-atacante começou bem no Milan. Conquistou a Supercopa da Itália, em cima da Juventus. Trata-se de título de menor importância, mas, ainda assim, o primeiro troféu do clube desde 2011. Chegou a esboçar uma briga pelo scudetto, derrotando a Velha Senhora no primeiro turno, mas os tropeços tornaram-se abundantes na virada do ano e o Milan acabou apenas em sexto lugar. Decepção à parte, devolveu o clube às competições europeias após três anos ausente.

Com vaga em torneios continentais e um troféu na bagagem, mais o investimento realizado para esta temporada, a única saída para Montella seria subir o Milan de patamar. Não deu. “Claramente, eu falhei, mas continuarei apoiando essas cores.”, escreveu no Instagram. “Deixar o Milan me machuca muito. Tentei e tentei dar tudo de mim por este clube, mas aceito a decisão que foi tomada. Quero agradecer aos jogadores e aos torcedores pelos momentos bonitos que compartilhamos, esperando que o Milan retorno ao topo”.

Gattuso assume as rédeas, passando a sensação de que está apenas aquecendo o assento para um nome mais pesado no futuro – Ancelotti, Conte? O terceiro ídolo recente do Milan a se tornar treinador da equipe, após Seedorf e Inzaghi, chegou no começo da temporada para trabalhar nas categorias de base. Gattuso teve passagens conturbadas pela Suíça e pela Grécia antes de conseguir o acesso à segunda divisão com o Pisa. Na Serie B, mostrou a capacidade de montar uma boa defesa: apenas 36 gols sofridos em 42 rodadas. Mas o ataque deixou a desejar: apenas 23 bolas na rede. O Pisa foi vice-lanterna e retornou à terceira divisão. Gattuso ainda é um técnico em começo de carreira, agora com uma missão do tamanho do Milan nas mãos.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
Botão Voltar ao topo