
Era o finalzinho da janela de inverno 2013/14, e Hernanes sabia que sua passagem pela Lazio estava no fim. Tudo havia sido acertado com a Internazionale quando ele deixou o treino no penúltimo dia de janeiro de 2014 e parou para tirar fotos com torcedores. Chorou e foi consolado pelos fãs do time da capital, que reconheceram o valor do jogador durante os quatro anos em que o brasileiro defendeu o azul e branco – que pesem as vais que recebeu, posteriormente, por comemorar quando marcou pela Inter contra seu ex-time.
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A nota oficial que a Juventus redigiu para anunciar a venda de Hernanes para o chinês Hebei Fortune, encerrando seis anos e meio de carreira no futebol italiano, também está carregada de respeito. Parabeniza o jogador pelo comprometimento e disponibilidade que demonstrou para se adequar a uma nova posição de regista, à frente da defesa, sob o comando de Allegri, e exalta a atuação do brasileiro no segundo tempo do jogo de ida das oitavas de final da Champions League 2015/16, quando a Juventus empatou contra o Bayern de Munique depois de estar perdendo por 2 a 0.
Defendeu a Internazionale durante o mesmo um ano e meio que defendeu a Juventus, mas foi uma passagem menos especial – em Turim, Hernanes conquistou seu único scudetto -, com alguns bons momentos, como a já citada atuação contra a Lazio. Ele deixou sua marca no futebol italiano, e será lembrado por muitos torcedores com carinho, mas nunca conseguiu se transformar no craque que pintava ser quando deixou o São Paulo.
Hernanes foi uma das peças centrais do clube paulista em dois títulos nacionais e foi muitas vezes reconhecido como um dos melhores jogadores atuando no futebol brasileiro. Pintava como uma boa possibilidade para a Seleção, um protótipo do meia moderno que às vezes temos dificuldade em encontrar, mas essa profecia só foi se realizar sob o comando de Felipão, que o levou para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo de 2014.
De qualquer maneira, quando foi para a Europa, foi para brilhar. O contrato com a Lazio tinha cara de um intermediário entre o Brasil e um grande clube europeu – o que, de fato, acabou sendo. Mas foi na capital que o brasileiro teve suas melhores sequências depois do São Paulo. Foi titular absoluto durante três temporadas, somando 101 jogos de Campeonato Italiano, 92 como titular, com 30 gols marcados. Foi também essencial em duas campanhas pela Liga Europa – uma delas terminou apenas nas quartas de final – e disputou 84 minutos da decisão da Copa Itália contra a Roma, em 2013, vencida por 1 a 0 pela Lazio.
Caiu um pouco de rendimento no segundo semestre de 2013, assim como toda a Lazio. A equipe que havia ficado em quinto, quarto e sétimo lugar desde a chegada de Hernanes amargava a nona posição na virada do ano, e o brasileiro contribuiu com apenas três gols em seus 17 jogos, 12 como titular, antes de ser negociado. A Internazionale aproveitou a oportunidade para contratar um jogador talentoso e já acostumado com a Serie A. Pagou € 18 milhões pelo pernambucano que, naquela época, já tinha 28 anos.
Seria o salto que se esperava da carreira de Hernanes? Em termos históricos, claro, pois a Inter é tricampeã europeia e foi 18 vezes campeã italiana. Mas o brasileiro pegou um momento complicado dos nerazzurri, longe da Champions League e no meio da tabela da Serie A. Com 14 jogos na segunda metade da temporada 2013/14, e dois gols, contribuiu com a quinta posição que classificou o clube à Liga Europa. Na sua única época completa pela Inter, no entanto, os resultados foram piores: ele jogou 26 vezes no Italiano seguinte, 17 como titular, fez cinco gols, e viu seu time terminar apenas na nona posição, a pior classificação interista desde 1994.
Se a Internazionale passava por um momento ruim, seu próximo clube talvez passasse por um momento bom demais para Hernanes. A Juventus decidiu contratá-lo em 2015, quando pilares do meio-campo da equipe vice-campeã europeia, Pirlo e Vidal, deixaram o clube. A ideia da Velha Senhora era ter um meia experiente para apoiar a reconstrução do setor. E Hernanes serviu apenas de apoio mesmo: disputou apenas 16 partidas de Serie A pela Velha Senhora em 2015/16, apenas 10 como titular. O trio titular foi, geralmente, Marchisio, Khedira e Pogba, com a concorrência de Sturaro e Pereyra entre as alternativas.
Na atual temporada, foi ainda mais reserva. Não entra em campo pela Serie A desde o fim de novembro e, nesse período, atuou os 90 minutos das oitavas de final da Copa Itália contra a Atalanta. Tem 13 partidas, dez como titular, e um único gol. Não surpreende que a Juventus tenha aceitado a proposta de € 8 milhões pelo jogador – valor que pode subir a € 10 milhões. E Hernanes, que certamente teria mercado em times menores da Itália ou em qualquer um do Brasil, decidiu fazer o seu pé de meia. Uma decisão pessoal e compreensível, mas fica a sensação de que, talvez por limitações próprias, talvez por estar no lugar errado na hora errada, deixou a Itália podendo ser maior do que foi.