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Dois textos que recontam, cheios de detalhes, os dois primeiros títulos do Napoli na Serie A

Confira duas matérias de arquivo da Trivela, nas quais reconstruímos as caminhadas do Napoli em 1986/87 e em 1989/90

“E não sabem o que estão perdendo”. A frase famosa há mais de três décadas provavelmente voltará às ruas de Nápoles nesta semana. Em 1987, quando o Napoli conquistou pela primeira vez o Scudetto, tal afirmação apareceu numa faixa colocada bem na frente do cemitério da cidade. Era uma piada um tanto quanto mórbida, mas que acabou simbolizando a loucura que tomou aquelas ruas depois do título inédito liderado por Maradona. Muita gente com quem os napolitanos gostariam de compartilhar o novo momento não poderão estar presentes desta vez, incluindo o próprio Diego. E, agora, são gerações mais jovens que descobrirão o que se perdeu nos últimos 33 anos, mas que, finalmente, chegou a hora de experimentar.

As ruas de Nápoles estão decoradas há semanas. Diferentes cantos da cidade têm referências ao time, aos ídolos atuais, à identidade que se construiu ao longo do tempo. A hora de comemorar o Scudetto chegou. De certa maneira, tantos detalhes relembram aquilo que o Napoli viveu no passado, como se os torcedores quisessem voltar no tempo – o tempo de Maradona. Querem, e vão, resgatar a glória. Poderão também reforçar o orgulho por ser quem são, algo que demarcou as primeiras conquistas e volta a ressoar, como uma resposta do povo historicamente discriminado que encontra seu caminho de se elevar através dos gols. E não mais dependentes de uma deidade como Diego.

A caminhada dos últimos 33 anos foi bastante dura. Começa pela ferida aberta de perder Maradona, primeiro no plano físico, em meio aos maus-tratos da imprensa e ao escândalo de doping em 1991. Passa por se acostumar com tempos mais modestos, sem o maior dos craques. Passa por descobrir novos xodós, que não sejam mais Diego. Passa por uma falência, por um processo de reconstrução nas divisões de acesso, por um renascimento em suas estruturas. Passa por novos times fortes, de talentos célebres de diversos cantos do mundo, capazes de fazer os napolitanos sonharem novamente. Passa por títulos da Copa da Itália e vagas costumeiras na Champions, grandes feitos por si, mas que não saciam pela Serie A que demora a se concretizar. Passa por aprender a lidar com o fato de Maradona não estar mais conosco em vida, e transformar o antigo San Paolo em seu templo. Até que termina neste Scudetto, catártico não apenas por toda a peregrinação no deserto, mas também pela forma como vem: contundente e avassalador, de grande entendimento coletivo e lampejos individuais. Com Diego onipresente em forma de Estádio Maradona, em forma de lembranças. Definitivamente completo.

Ainda assim, o novo Scudetto, lógico, não apaga o que foi escrito muito antes no passado. Não nega que, para sentir a dor da seca, o napolitano já tinha experimentado a felicidade da bonança na virada dos anos 1980. É algo que também se exalta diariamente em Nápoles e que continuará se exaltando. Os outros dois títulos também tiveram suas completitudes em si. Tiveram Diego Armando Maradona, outros episódios, outras fantasias, outros craques. O que se soma ao imaginário, o que faz o Napoli ser um time tão especial. A história se constrói a partir daquilo que se vive continuamente. Se tal momento é mágico no presente, também se explica porque carrega traços de magia do passado.

Abaixo, sugerimos a leitura de dois especiais produzidos aqui na Trivela: os dois textos que recontam as trajetórias dos primeiros títulos do Napoli na Serie A. Outras agruras aconteceram, porque o drama parece inerente aos celestes, mas a apoteose no final reflete o que se consuma nesta quinta-feira. Um passado rico, com Maradona, que dá mais cor ao hoje tão glorioso.

>>> Alegria de uma torcida, orgulho de uma região: o primeiro scudetto do Napoli

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>>> O segundo scudetto do Napoli: da rebelião à redenção, magistral Maradona

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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