Comissão disciplinar relativiza racismo contra Muntari e mantém cartão contra o ganês

Cada vez mais, o episódio de racismo envolvendo Sulley Muntari beira o surreal, de tão vergonhoso. No último domingo, o meio-campista se retirou de campo durante a visita do Pescara ao Cagliari. Insultado desde o primeiro tempo por parte da torcida local, o ganês pediu ao árbitro Daniele Minelli que paralisasse o jogo durante os minutos finais, na tentativa de conter os que o insultavam. O juiz não só se recusou a aceitar o pedido, como também advertiu o jogador com um cartão amarelo. Diante da situação, o veterano abandonou o gramado – antes disso, no intervalo, já havia entregado sua camisa a uma criança que o atacava, para “dar o exemplo”. E, nesta terça, a comissão disciplinar da Serie A se posicionou sobre o caso: ratificou a postura de Minelli e deixou o Cagliari impune.
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A decisão se baseou na súmula do jogo. A comissão disciplinar optou por manter o cartão amarelo a Muntari. Assim, o jogador está suspenso para a próxima partida do Pescara. Além disso, o relato oficial da partida relativizou o racismo nas arquibancadas. Segundo as palavras de Minelli, “os cânticos racistas vieram de apenas 10 pessoas, uma parcela ínfima diante dos dois mil presentes”. Ainda conforme a súmula, um protesto silencioso do resto dos torcedores teria permitido aos presentes escutarem os gritos. Assim, os dirigentes da Serie A lavaram as mãos.
Postura diferente tomou a comissão disciplinar sobre as torcidas de Internazionale e Lazio – mas, ainda assim, branda. Ambos os clubes tomaram uma suspensão condicional das penas. Se forem reincidentes em casos de racismo no período de um ano, terão setores das arquibancadas fechados. Os nerazzurri insultaram no domingo o senegalês Kalidou Koulibaly, enquanto os biancocelesti atacaram horas antes o alemão Antonio Rüdiger, ambos negros. As únicas multas aplicadas na sessão desta terça foram contra “discriminação territorial” (€15 mil à Inter) e contra o uso de sinalizadores (€10 mil ao Genoa).
Que a discussão sobre punições coletivas em relação a atos individuais seja pertinente, não foi este o caso. A comissão menosprezou episódios que deveriam ser combatidos exemplarmente e tratados criminalmente. O Pescara se manifestou defendendo Muntari, “lutando contra o racismo cometido por uma ou por 100 pessoas”. Já a FIFPro, entidade que protege os interesses dos jogadores profissionais, emitiu uma nota cobrando uma postura mais enérgica da federação italiana para investigar a situação e a rescisão o cartão ao ganês.