
O Milan estava entre os times mais temidos do mundo em 1995. Treinada por Fabio Capello, a equipe havia conquistado a Champions no ano anterior e contava com talentos inegáveis, incluindo os temíveis Weah e Roberto Baggio na linha de frente. Desafio e tanto, ainda mais para quem tinha apenas 17 anos, estreando como profissional logo como titular. A partida faria qualquer goleiro sentir medo. Menos um gênio. Buffon não só entrou em campo, mas segurou o empate por 0 a 0 com os rossoneri e saiu como o melhor da partida. Em 19 de novembro de 1995 iniciava a sua lenda.
Buffon se tornou goleiro por acaso. Mas começou a se interessar pela posição durante a Copa de 1990, vendo as atuações de Thomas N’Kono na meta de Camarões. A partir de então, a sugestão do pai para vestir as luvas não se tornou tão rejeitável assim. Em pouco tempo, o adolescente se transformava em uma das maiores promessas do Parma. Em cinco anos, já virava goleiro do elenco profissional.
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“Como todas as crianças, eu não comecei a jogar como goleiro. Eu gostava de marcar gols. No fim das contas, tudo se resume a isso. Então, a partir dos seis ou sete anos, eu joguei como meio-campista, até como líbero. E, para ser honesto, gostava muito disso. Mas parece que o destino fez eu me tornar goleiro. Meu pai sugeriu que eu mudasse e tentasse jogar no gol. Eu sempre gostei de estar no coração das ações, tentando experimentar diferentes situações e desafios. Por um ano, eu decidi tentar jogar no gol, depois disso eu voltaria para a linha. Eu penso que em cinco ou seis meses eu me tornei um goleiro muito bom e tinha talento”, contou Buffon, em entrevista ao site da Uefa.
Buffon ascendeu rapidamente na base, graças às lesões de outros goleiros de sua categoria. Entretanto, não dá para atribuir apenas à sorte a trajetória meteórica. Em 1995, participou pela primeira vez da pré-temporada com os gialloblù, que contavam com um time forte na época. E, outra vez, o destino acelerou os processos. Uma contusão na clavícula de Luca Bucci (o goleiro que, em tempos de limites a estrangeiros no time, barrou Taffarel) abriu espaço para a promessa da base ser chamada de volta ao time principal.
Naquele momento, entretanto, o técnico Nevio Scala percebeu que tinha um fenômeno a sua frente. “Ele começou a treinar conosco na terça e fazia coisas extraordinárias, que pareciam normais a ele. Então, começamos a fazer alguns exercícios com os atacantes e ninguém conseguia marcar gols. Virei para o meu treinador de goleiros e perguntei se ele podia ver o que eu estava vendo. ‘Esse garoto é um fenômeno’. Nós dois ficamos sem palavras. O momento mais difícil foi explicar a escolha para o goleiro reserva, Nista. Disse que não era emocional, mas uma decisão necessária. Ele ficou magoado, mas tinha visto a qualidade de Gigi”, contou o ex-comandante, atual presidente do Parma, em entrevista ao Goal.com.
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Na concentração, às vésperas do duelo com o Milan, Nevio Scala foi até o quarto contar a Buffon as novidades. “Foi a partida mais significativa para mim, minha introdução na liga. A minha memória sobre esse dia é indelével, a trepidação e também a confiança que eu senti para esta importante partida contra o Milan. A empolgação e a felicidade nunca me deixaram. Nevio Scala bateu na minha porta e perguntou se eu me sentia pronto para jogar. Eu disse: ‘é claro, senão o que faria aqui?’”, conta o veterano.
Naquela tarde, Buffon transmitiu muita segurança à torcida no Ennio Tardini. Fez ao menos três defesas sensacionais, para salvar o Parma da derrota. “Buffon fez uma partida extraordinária, mas não comemorou. Mesmo depois do jogo, ele agradeceu ao técnico e ao clube pela confiança depositada. Isso foi sua força. Era como se ele tivesse feito a coisa mais normal no mundo. Talvez como se ele não tivesse percebido o que tinha feito. Ele tinha grandes qualidades técnicas, mas, acima disso, uma incrível força interna”, completa Scala.
Buffon não se tornou titular em sua primeira temporada do Parma, disputando nove partidas e sofrendo apenas oito gols. Entretanto, estava claro que aquela situação seria passageira. Na temporada seguinte, Buffon já se tornou dono da meta gialloblù e também começou a ser convocado para a seleção italiana. Na sequência da carreira, transferiu-se para a Juventus como goleiro mais caro da história, justificando o preço com idolatria. E, na Azzurra, serviu como um dos pilares na conquista da Copa do Mundo de 2006. Nevio Scala, há 20 anos, foi um visionário sobre o que hoje parece mais do que óbvio: Buffon se tornou um dos melhores goleiros da história.