Itália

Gigi Riva, o Estrondo do Trovão, marcou o Cagliari como nenhum outro

Cagliari em luto: morreu, aos 79 anos, o maior de todos os tempos do clube, Gigi Riva

Ele não nasceu na Sardenha, muito menos cresceu por lá, mas, neste 22 de janeiro de 2024, cada sardo rossublu sentiu que perdeu um parente com a partida do ex-atacante Luigi “Gigi” Riva, aos 79 anos, o maior ídolo da história do Cagliari, onde é o goleador máximo da história – e também da Seleção Italiana. Extremamente técnico, forte, batedor de faltas e ótimo nas jogadas aéreas, tinha uma potência inigualável na perna esquerda, que lhe rendeu o apelido Rombo di Tuono, em português o Estrondo do Trovão.

Existe um Cagliari antes e depois de Riva, e a Trivela vai contar a história deste que é um dos maiores jogadores italianos, brilhando na mágica década de 60 do futebol na Terra da Bota.

Com apenas 19 anos, Gigi Riva chegou ao Cagliari para colocar o time na Serie A

A contratação do jovem atacante, vindo do Leggiuno, da Lombargia, onde nasceu, aconteceu enquanto ele servia a seleção italiana júnior, em julho de 1963. Tinha apenas 19 anos, mas isso não pareceu importar muito ao garoto Luigi. Logo na primeira temporada na Serie B, foi essencial no primeiro acesso da história do Rossoblu e marcou oito gols, um deles no empate em 1 a 1 com a Udinese, resultado que garantiu a ida à primeira divisão na penúltima rodada.

Primeira temporada na Serie A, alguma pressão? Nenhuma para aquele segundo atacante que era conhecido pela coragem desde os primeiros chutes na Lombargia, marcando mais nove em 32 partidas e deixando seu clube em sétimo. Nesta temporada, pela primeira vez terminou como artilheiro de uma competição, no caso a Copa da Itália. O ótimo nível do jovem lhe rendeu a estreia na seleção principal da Itália, em 1965, iniciando uma trajetória vencedora também com a Azzurra. Foi defendendo seu país que sofreu a primeira grave lesão da carreira, uma fratura na fíbula do pé esquerdo no amistoso contra Portugal em março de 67.

O problema físico o fez terminar a temporada 66/67 mais cedo, mas, de toda forma, cada vez mais brilhante e inteligente dentro do campo, terminou como artilheiro daquele Campeonato Italiano com 18 gols. Riva repetiu o feito em 68/69, dessa vez com 20. Nesta temporada, ele terminou como segundo melhor jogador do mundo na eleição da Bola de Ouro, atrás do compatriota Gianni Rivera, dupla decisiva na Eurocopa conquistada pela Itália em 1968, com Gigi cravando um na decisão frente a Iugoslávia.

Gigi Riva na final da Eurocopa de 1968, conquistada pela Itália com gol do atacante (Foto: Icon Sport)

Vale citar que a temporada finalizada em 1969, o Cagliari terminou como vice-campeão, apenas quatro pontos atrás da Fiorentina, preparando o terreno para o que viria pela frente.

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O auge na maior conquista da história Rossoblu

Não há nenhum asterisco ao citar o único título italiano do Cagliari em 1969/70. Sob comando do histórico treinador Manlio Scopigno, o “Filósofo”, a equipe era mágica no ataque, não apenas por Gigi, mas também pela qualidade dos companheiros de frente, casos do meia brasileiro Nenê, do ponta Angelo Domenghini e do centroavante Sergio Gori, que abria muito espaços para o camisa 11 balançar as redes.

Inclusive, de Riva, foram 21 gols na conquista do Scudetto Rossoblu, o artilheiro isolado em um sistema ofensivo que marcou 42 vezes. O mais marcante dos tentos do maior ídolo da Sardenha foi uma lindíssima bicicleta na vitória por 2 a 1 frente ao Lanerossi Vicenza. Mas não foi a única pintura, teve de tudo: gol de cabeça, de bate pronto, de cavadinha, em cobranças de faltas (todas com uma potência impressionante), pênaltis, que colocava jeito ao invés de força, e até com 40 graus de febre – neste dia, a vítima foi o gigante Dino Zoff, do Napoli, tomando dois de Luigi doente. Quando não concluia de cabeça, era sempre de canhota, até porque, a perna direita, “só servia para subir no bonde”, como brincava Scopigno.

A caminhada para o título iniciou em 14 de setembro de 1969, ficando no zero com a Sampdoria, e foi concluída em 12 de abril de 1970, na vitória de 2 a 0 frente ao Bari, com duas rodadas de antecedência. Só poderia ser Riva a abrir o placar, de peixinho, e Goril fechou o triunfo do título, se aproveitando de uma derrota da Juventus. No fim, a vantagem foi de quatro pontos para Internazionale e sete para Velha Senhora. Era uma vitória também simbólica do ponto de vista social. Renegada, a Sardenha era tratada pelo Norte da Itália – onde fica Milão e Turim, os dois rivais abaixo na tabela -, como região “de bandidos e pastores de ovelhas”, como citou o próprio Riva posteriormente.

Se o ataque daquele time era mágico, a defesa foi ainda mais especular, sofrendo apenas 11 gols em 30 partidas. Até hoje, ninguém superou essa marca, seja em números ou média. A equipe de Scopigno ainda teve as melhores campanhas dentro e fora de casa, foi a líder dos dois turnos, quem mais venceu (17) e menos perdeu (2). Definitivamente, irretocável.

O amado Gigi Riva (Foto: Reprodução/Cagliaricalcio.com)

As lesões, a recusa à Juventus e a aposentadoria precoce

Tudo parecia que o Cagliari conquistaria o bi em 1970/71. Meses antes, Gigi Riva participava da campanha do vice da Itália – com mais cinco jogadores rossoblu – para o Brasil na Copa do Mundo de 1970 e seguia em grande fase. Começou na liderança e teve uma vitória memorável frente a Inter, em San Siro, com dois do atacante, um deles uma bomba, que lhe rendeu o apelido Rombo di Tuono, dado pelo jornalista Gianni Brera. No entanto, os meses seguintes da temporada o reservaram outra lesão, de novo pela seleção: em 31 de outubro de 1970, fraturou a perna e foi desfalque por quatro meses.

Nesse período, então líder da Serie A, o Cagliari despencou na tabela e terminou em sétimo. Na Copa dos Campeões, o Rossoblu conseguiu passar do Saint-Étienne na primeira fase, mas caiu para o Atletico de Madrid, sofrendo uma virada de 3 a 0 na partida de volta após vencer a ida por 2 a 1.

Na temporada seguinte, sem liderar, a equipe lutou ponto a ponto pelo título italiano contra Juventus, Torino e Milan, mas a taça ficou com a Velha Senhora, com quatro à frente do clube da Sardenha. Ao término do campeonato, Scopigno finalizou sua passagem como técnico e nada seria igual.

Após terminar as três temporadas seguintes em oitavo e décimo lugar (duas vezes), o Cagliari foi rebaixado à segunda divisão com duas rodadas de antecedência em 1975/76. Na campanha da queda, em 1º de fevereiro de 1976, Gigi Riva sofreu uma grave ruptura do músculo adutor, que encerrou precocemente sua carreira aos 31 anos.

Mesmo em meio a esse período instável, o camisa 11 rossoblu recusou uma proposta milionária da Juventus., em 73 “Sair teria sido como uma traição. Fomos jogar na península e a torcida adversária gritou tudo para nós: ‘bandidos, pastores'. Achei que não era certo, nosso povo não merecia aqueles insultos”. Um verdadeiro ídolo, leal e com empatia ao torcedor, um herói da Sardenha. No total, foram 208 gols – apenas dois com a perna direita – em 378 partidas para o maior de todos no Cagliari, clube de 103 anos.

gigi riva cagliari
O amor do torcedor rossoblu com Luigi (Foto: Divulgação/Cagliari)

A carreira como dirigente no Cagliari

Depois de pendurar as chuteiras, o ídolo virou presidente do Cagliari em 1985, passando por diferentes funções até chegar ao posto máximo. Ficou apenas até metade de 1986/87, temporada marcada pelo rebaixamento à Série C da Itália após 25 anos longe da divisão. O mesmo time que caiu avançou às semifinais da Copa da Itália, eliminado pelo Napoli de Diego Maradona, partida que garantiu uma renda necessária para evitar uma falência do clube.

Fora do clube que era ídolo, foi para o selecionado no qual é o maior artilheiro. Na Federação Italiana de Futebol, foi, por 25 anos, coordenador técnico da seleção, fazendo a ponte entre a gestão, a comissão técnica e o grupo de jogadores. Esteve em seis copas, incluindo o vice de 1994 e o título de 2006.

As homenagens em vida a Gigi Riva

Em 2005, como uma gratidão ao que fez nos gramados, recebeu a cidadania honorária de Cagliari. No mesmo ano, o clube da Sardenha aposentou a camisa 11 em um amistoso entre Itália e Rússia.

Mais de 40 anos depois do título, em 2019, foi nomeado presidente honorário do clube.

Para os próximos anos, está prevista a conclusão das obras do novo estádio do Cagliari, chamado Gigi Riva.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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