A gente precisa se dar conta do tamanho da sorte que é poder dizer: “Eu vi Buffon jogar”

Quando o jogo acabou no Stade de France, italianos e espanhóis caminharam juntos na mesma direção: foram cumprimentar Gianluigi Buffon. De maneira natural, os rivais de instantes atrás pareciam imbuídos com o mesmo espírito. Saudavam um companheiro de profissão, dos melhores com quem puderam ou poderão compartilhar o campo. Reconheciam a tarde inspirada do goleiro histórico. Mais do que isso, ofereciam uma boa dose de gentileza a quem se faz gigante não apenas pela qualidade de seu trabalho, mas também pela paixão e pelo respeito que entrega ao futebol.
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De Piqué, a quem negou dois gols, ganhou um sorriso. O amigo Casillas, rival em campo e companheiro nos livros, deu seu aperto de mão. Trocou a camisa com Iniesta, o planeta com quem colidiu em Saint-Denis, parando um chute lindo com uma defesa mais linda ainda. Em Giorgio Chiellini, o leão de sua zaga há tantos anos, veio um abraço emotivo em agradecimento desta vez também pelo gol. Recebeu o afago de Antonio Conte no círculo central, enquanto caminhava ao outro lado do campo, para aplaudir o apoio incondicional da torcida da Azzurra. E, então, repetiu a comemoração que já se tornou tradição nesta Eurocopa: o velho Buffon, a lenda que não joga só com a história e se constrói maior a cada dia, virou novamente o garoto Gigi, se pendurando no travessão como se tivesse ganho a pelada no campinho de seu bairro.
A vontade de Buffon na Euro 2016 se evidencia a cada partida. Na estreia, diante da Bélgica, o capitão já tinha dado o seu show particular. E cresceu no início dos mata-matas, não apenas por sua vibração, mas também pela sua importância para o sucesso da Azzurra. A competição continental segue como uma lacuna na carreira tão vitoriosa do goleiro. A cada gesto, ele escancara que não quer perder a última oportunidade de triunfar. Durante o hino nacional, o coração saía pela garganta na hora de cantar. E, no primeiro tempo, o camisa 1 manteve a energia, mesmo sem trabalhar tanto. Pôde explodir quando Chiellini abriu o placar.
Já na segunda etapa, Buffon foi Buffon: um gigante. Começou a aparecer mais diante dos cruzamentos incessantes da Espanha. Se, do outro lado, De Gea aparecia com grandes intervenções, o camisa 1 italiano acabou sendo mais decisivo nos 15 minutos finais. Sem ser tão brilhante como nas primeiras partidas, Iniesta teve a sua grande chance aos 30 minutos, em um lindo chute de fora da área. Buffon estava lá, desviando com os dedos. E voou ainda mais quando, instantes depois, Piqué soltou a bomba mirando o canto. Por fim, o melhor aconteceu aos 44, no lance que definiu o resultado. Cara a cara, Piqué desviou tentando tirar do alcance do goleiro. Buffon, inacreditavelmente, reagiu a tempo de salvar o empate. De operar o milagre que permitiu, logo depois, o contra-ataque da Azzurra, fechando a conta com o gol de Graziano Pellè. O lance que explica todos os abraços ao apito final.
A Itália se agiganta na Eurocopa. De um time visto com muitas desconfianças, prova seu peso em campo, na bola. Uma força que começa se afirmando sob as traves. Dizer que a equipe de Antonio Conte não tem craques é uma enorme injustiça. Afinal, um dos maiores da história veste as luvas, e receberia a camisa 10 se a 1 já não lhe caísse tão bem. Se todo o ímpeto credencia a Itália na competição, Buffon reitera esse sentimento através de sua liderança. Passionalidade que merece mais alguns capítulos nesta Euro, apesar de todas as dificuldades que enfrentará contra a Alemanha nas quartas de final.
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