O adeus a Trevor Francis: o homem que deu uma Champions ao Nottingham Forest
Trevor Francis surgiu como um grande talento, fez história pelo Nottingham Forest, foi ídolo na Sampdoria e disputou Copa do Mundo pela Inglaterra
A cabeçada certeira vencendo o goleiro do Malmö na decisão da Copa dos Campeões (antigo formato da Champions League) de 1979 fez valer cada centavo do lendário milhão de libras pago pelo Nottingham Forest por Trevor Francis no início daquele ano. A carreira do atacante – falecido nesta segunda-feira (24) aos 69 anos – não se resume, porém, ao histórico lance, conquista e etiqueta com o preço. Garoto-prodígio no Birmingham, onde começou, Francis disputou (e bem) uma Copa do Mundo pela Inglaterra e foi ídolo na Sampdoria na Era de Ouro do Calcio, além de ter feito um ótimo trabalho como jogador-técnico no Sheffield Wednesday.
Do talento precoce ao reforço milionário
Atacante habilidoso, inteligente, rápido, bom no controle de bola e cabeceio e finalizador preciso com os dois pés, Trevor Francis nasceu em Plymouth, região de Devon, no sudoeste inglês, em 19 de abril de 1954, e iniciou sua carreira profissional com meros 16 anos, defendendo o Birmingham City na segunda divisão inglesa na temporada 1970/71. Era considerado um prodígio: em seus primeiros 15 jogos pelo clube, balançou as redes 15 vezes. Numa partida contra o Bolton, em fevereiro de 1971, anotou os quatro gols na vitória por 4 a 0.
Ao longo daquela década, Francis conseguiria o feito de brilhar por uma equipe que passava a maior parte da temporada lutando contra o rebaixamento, ou pelo menos acomodada na metade de baixo da tabela. Em fevereiro de 1977, faria sua estreia pela seleção inglesa num amistoso com a Holanda em Wembley. Um mês depois, deixaria sua marca nos 5 a 0 sobre Luxemburgo pelas Eliminatórias da Copa de 1978. Dois anos depois, era nome estabelecido no English Team de Ron Greenwood que buscava uma vaga na Eurocopa de 1980.
Com o tempo foi se tornando nítido que Trevor Francis simplesmente não cabia mais na realidade um tanto modesta do Birmingham City. Em 3 de fevereiro de 1979, quando ele entrou em campo pela última vez defendendo os Blues (numa derrota de 2 a 1 para o Chelsea em Stamford Bridge), o time ocupava a lanterna do campeonato com apenas oito pontos ganhos em 23 jogos. Até que Brian Clough, técnico do Nottingham Forest, bateu à porta de St. Andrew’s disposto a contratar o atacante de qualquer maneira para seu ambicioso clube.
O Forest era o atual campeão inglês, tendo conquistado o título de maneira surpreendente, já que havia sido promovido apenas na temporada anterior – e como terceiro colocado na segundona. Mas agora o perfil do clube mudara de uma hora para a outra: o time de Brian Clough brigava em várias frentes, entre elas a europeia: estava nas quartas de final da Copa dos Campeões e já havia eliminado ninguém menos que o Liverpool, bicampeão do torneio. E sentia a necessidade de reforçar seu elenco por meio de uma contratação de impacto.
Trevor Francis se torna o jogador de um milhão de libras
No dia 9 de fevereiro, a contratação era concretizada: Trevor Francis deixava o Birmingham após 279 jogos e 118 gols marcados para se juntar ao Forest. Mas o que chamava a atenção e ganhou destaque nas manchetes era o valor da transferência: o atacante se tornava o primeiro jogador do país a ser negociado por uma quantia superior a um milhão de libras, quase dobrando a marca anterior, os £516 mil pagos pelo West Bromwich Albion ao Middlesbrough pelo atacante David Mills pouco mais de um mês antes, em 7 de janeiro.
Curiosamente, o montante pago pelo Forest só ultrapassou o valor lendário quando entraram na conta as taxas e impostos referentes à transação, que elevaram as cifras para £1,18 milhão. Já ao Birmingham City coube a quantia de £950 mil. Brian Clough, por sua vez, sempre alegou que o valor real fora de £999.999, um jeito de tirar dos ombros do novo reforço o peso da movimentação econômica feita para trazê-lo. Mas, fazendo justiça aos fatos, o valor foi estipulado pelo próprio Birmingham, ciente de que não poderia segurar mais seu astro.
O que também pesou na decisão dos Blues de vendê-lo foi a nova legislação de transferências que entrara em vigor no Reino Unido em abril do ano anterior e que estabelecia a chamada “liberdade de contrato”, aprovada por pressões da Uefa e da Comunidade Europeia (atual União Europeia, à qual o Reino Unido ingressara em 1973), que dava pela primeira vez ao jogador o poder de recusar propostas de renovação com o clube em que atuava e, neste caso, mudar de camisa por um valor acordado pelos clubes ou estipulado por um tribunal.
Para contratá-lo, o Forest teve que dobrar a concorrência do Coventry, então presidido pelo ex-jogador, dirigente e apresentador de televisão Jimmy Hill. Mas ganhou a parada quando Brian Clough permitiu que Francis passasse as férias de verão atuando por empréstimo pelo Detroit Express (franquia pertencente a Hill) na NASL, a liga norte-americana. A assinatura do contrato se tornou um evento anedótico, protagonizado por um Clough vestindo um agasalho vermelho e brandindo uma raquete de squash em frente às câmeras.
Decidindo um título europeu
Não foi apenas nas cifras que Clough tentou minimizar a chegada retumbante de Trevor Francis. No anúncio da contratação, ele afirmou que o jogador, o qual já somava 12 partidas pela seleção inglesa, tinha “um grande potencial”. Em sua estreia – que demorou mais de duas semanas devido a um grande imbróglio envolvendo sua regularização – ele só recebeu uma orientação do técnico ao entrar em campo para enfrentar o Bristol City em 24 de fevereiro: “Entregue a bola para [o ponta-esquerda] John Robertson. Ele é melhor jogador que você”.
Francis também levou certo tempo para fazer seu primeiro gol pelo novo clube, quase dois meses depois, ao balançar as redes do Bolton num empate em 1 a 1 no City Ground no dia 31 de março. Era seu sétimo jogo pela equipe, o sexto como titular. Mas voltou a marcar nas duas partidas seguintes, contra Aston Villa e Chelsea. Até o fim da liga faria mais três preciosos gols, entre eles o da vitória de 1 a 0 sobre o West Bromwich nos Hawthorns, em briga direta que levou o Forest a tomar do adversário o segundo posto na classificação final.
Mas o gol mais importante de toda a sua passagem pelo clube – e de sua carreira como jogador – seria marcado 12 dias após o fim do campeonato. Francis já havia sido obrigado a ficar de fora da final da Copa da Liga, na qual o Forest bateu o Southampton por 3 a 2, por ter atuado antes pelo Birmingham. Também não pôde ser inscrito na FA Cup, na qual o clube seria eliminado pelo Arsenal nas oitavas de final. E até aquele momento ainda não havia participado de nenhum jogo na campanha rumo à final da Copa dos Campeões.
O que vinha restringindo sua presença era a janela de inscrições da Uefa, que só era reaberta para a final dos torneios europeus. E o meia-atacante teve que aguardar até o jogo contra o Malmö no Estádio Olímpico de Munique, no dia 30 de maio, para fazer sua estreia nas copas continentais. Mas a espera valeu. Quando a etapa inicial já entrava nos descontos, o ponteiro John Robertson recebeu passe do meia Ian Bowyer, desceu pela esquerda, gingou na frente dos marcadores, foi à linha de fundo e cruzou alto até a segunda trave.
Trevor Francis, dono da camisa 7 no lugar do lesionado Martin O’Neill, acompanhou toda a jogada e surgiu na área para cabecear sem defesa para o goleiro sueco Jan Möller e escrever seu nome na história do clube e da competição. Nas palavras imortais de Barry Davies, narrador do jogo pela BBC, “Trevor Francis, the million-pound man, puts his name onto the scoresheet and returns the great deal of the cheque” (algo como “Trevor Francis, o homem de um milhão de libras, põe seu nome no placar e paga a grande quantia do cheque”).
Em sua única partida disputada em toda aquela campanha, Francis anotava o gol do improvável título europeu de um clube que dois anos antes estava na segunda divisão de seu país. Dali em diante, entretanto, nem tudo foi um mar de rosas em sua passagem pelo City Ground. A discórdia começou justamente após retornar da experiência nos Estados Unidos, onde ele sofreu uma lesão na virilha defendendo o Detroit Express. De fora dos dois primeiros meses da temporada, acabou tendo seus salários suspensos durante o tempo inativo.
A temporada 1979/80 foi de altos e baixos. Pela liga, ele atuou em 31 dos 42 jogos e marcou 14 gols, incluindo um hat-trick na goleada de 4 a 0 sobre o Manchester City no fim de fevereiro, mas o Nottingham Forest terminou apenas na quinta colocação, bem abaixo dos dois anos anteriores. Francis também esteve em campo na conquista da Supercopa Europeia em dois jogos contra o Barcelona e na derrota na final da Copa da Liga para o Wolverhampton em Wembley, que impediu o tricampeonato seguido do clube naquela competição.
Tempos de instabilidade
Já no outro título levantado na temporada, o bi da Copa dos Campeões, Francis teve participação curta, mas decisiva. Após ter sido baixa nas duas primeiras fases em decorrência da lesão na virilha sofrida nos Estados Unidos, ele voltou ao time para o duelo das quartas de final contra o Dynamo Berlim, da Alemanha Oriental. Surpreendido na ida, ao perder por 1 a 0 em pleno City Ground, o Nottingham Forest deu o troco na volta, vencendo por 3 a 1 na casa do adversário, com o atacante anotando os dois primeiros gols da partida.
Nas semifinais, diante do Ajax, ele abriu o placar e o caminho para a classificação na vitória por 2 a 0 em casa. Na volta, em Amsterdã, o time pôde suportar uma derrota pelo placar mínimo e sair com a vaga na decisão. Por ironia, o autor do gol do título europeu de 1979 em sua única partida naquela edição ficaria de fora da final seguinte, contra o Hamburgo, por uma séria lesão no tendão de Aquiles. Mesmo assim, os ingleses venceriam por 1 a 0, gol de John Robertson. Mas a lesão acabaria tirando Francis também da Eurocopa de 1980.
E ele seria ausência sentida no torneio europeu de seleções: a equipe dirigida por Ron Greenwood foi eliminada na fase de grupos depois de empatar com a Bélgica (1 a 1), perder da anfitriã Itália (1 a 0) e, já sem chances de classificação, derrotar a Espanha (2 a 1). Mas a maior medida da gravidade de seu problema físico só seria percebida na temporada seguinte, quando o atacante só conseguiu retornar à atividade na metade de dezembro. Vestindo a camisa 9, ele perambularia por várias posições no meio e no ataque naquela campanha.
Essa constante troca de posição, aliás, acabaria sendo um ponto que prejudicaria seu rendimento ideal no Forest: nem Clough, nem seu auxiliar Peter Taylor conseguiam chegar a uma conclusão sobre onde seria melhor escalá-lo – se aberto pela direita, ou como segundo atacante, ou como homem de área, ou mesmo como armador. A temporada 1980/81 se mostraria indiscutivelmente frustrante para o Forest e para Francis, que atuaria apenas 18 vezes pela liga – menos da metade de uma temporada regular – e balançaria as redes cinco vezes.
Vivendo malfadada transição, o Nottingham Forest terminaria em sétimo na liga, cairia antes das semifinais nas duas copas nacionais e ainda na primeira fase da Copa dos Campeões para o CSKA Sofia, além de perder a Supercopa Europeia para o Valencia e o Mundial Interclubes, realizado pela primeira vez em Tóquio, para o Nacional de Montevidéu. Francis ainda iniciaria a temporada 1981/82 no clube, marcando os gols da vitória de 2 a 1 sobre o Southampton na abertura, em 29 de agosto. Mas deixaria o City Ground no início de setembro.
Presidido por Peter Swales, o Manchester City vivia fase de gastança desde o retorno do excêntrico técnico Malcolm Allison, em 1979. A falta de resultados em campo derrubaria Allison no fim de 1980, mas seu sucessor, o ex-Norwich John Bond, manteria a política de contratações caras. E logo após perder a FA Cup para o Tottenham, ele intimaria Swales a abrir os cofres para trazer Trevor Francis para Maine Road, desembolsando £1,2 milhão pelo atacante, pouco mais do que havia custado ao Nottingham Forest dois anos e meio antes.
Francis marcaria duas vezes em sua estreia pelo City, uma vitória de 3 a 1 sobre o Stoke fora de casa. Naquela temporada, atuaria 29 vezes e marcaria 14 gols somando todas as competições. Mas os anos de dinheiro jogado pela janela em Maine Road logo começariam a cobrar seu preço: durante a temporada, o clube entrou em crise financeira e não tinha mais como arcar com os salários do atacante. Negociá-lo era imperioso para evitar um rombo maior nos cofres. E a Copa do Mundo da Espanha seria uma oportuna vitrine.
Destaque na Copa a caminho da Itália
A Inglaterra chegara desacreditada ao Mundial depois de se classificar de maneira dramática nas Eliminatórias. Na imprensa internacional, havia quem apostasse que a equipe de Ron Greenwood sequer avançaria na primeira fase, com França e Tchecoslováquia favoritas às duas vagas do Grupo 4. Para piorar, dois jogadores-chave da equipe – o meia Trevor Brooking e o atacante Kevin Keegan – chegavam à Copa lesionados. Francis, por sua vez, era teoricamente reserva, mas a lesão nas costas de Keegan poderia abrir espaço para ele no time.
Em meio a tantas incertezas, os Three Lions trataram de responder aos críticos com desempenhos sólidos. Formando dupla de frente com Paul Mariner, o homem de área do Ipswich, Trevor Francis foi crucial na primeira fase do torneio. Na estreia contra a França, favorita da imprensa, participou de dois gols na vitória inglesa por 3 a 1. Em seguida, diante da Tchecoslováquia, abriu a contagem na vitória por 2 a 0. Na última rodada, com os ingleses já classificados e poupando meio time, saiu de seus pés o único gol na vitória de 1 a 0 sobre o Kuwait.
Na segunda fase, os ingleses se viram tendo de enfrentar a fortíssima Alemanha Ocidental e a anfitriã Espanha – ambas, entretanto, vindo de campanhas irregulares na fase anterior. De saída, um 0 a 0 com a Nationalelf não indicou nenhuma definição ao triangular. Mas quando os alemães bateram os espanhóis por 2 a 1, a Inglaterra se viu obrigada a fazer o mesmo. Mas nem contando com Keegan e Brooking, lançados durante o jogo ainda longe da melhor forma física, a equipe pôde vencer: o 0 a 0 fez os dois times morrerem abraçados.
Semanas após o Mundial, o futuro de Trevor Francis estaria definido: a então milionária Serie A italiana, mais exatamente a Sampdoria, que retornava à máxima categoria depois de cinco temporadas e, graças ao aporte financeiro fornecido pelo presidente Paolo Mantovani, tinha planos ambiciosos. No clube de Gênova, Francis teria a companhia de outro oriundo do futebol inglês, o meia irlandês Liam Brady, revelado pelo Arsenal e que chegara ao Calcio assim que os portos foram reabertos, em 1980, para conduzir a Juventus a um bicampeonato.
O contingente de atletas das ilhas britânicas na Serie A na época era significativo, ainda mais em vista do reduzido número de vagas para estrangeiros – apenas dois por clube entre as temporadas 1982/83 e 1987/88. Neste período, além de Francis e Brady (que defenderia ainda Inter e Ascoli), o Calcio abrigaria os ingleses Luther Blissett, Mark Hateley, Ray Wilkins (todos Milan), Gordon Cowans, Paul Rideout (ambos Bari) e Paul Elliott (Pisa), o galês Ian Rush (Juventus) e os escoceses Joe Jordan (Milan e Verona) e Graeme Souness (Sampdoria).
Embora as lesões restringissem sua participação em três das quatro temporadas em que atuou pelos blucerchiati, Francis teve uma das trajetórias mais consistentes entre seus contemporâneos britânicos na Itália. Fez-se ídolo dos torcedores Samp – ganhando até música em sua homenagem feita pelo cantor e compositor Carlo Celi, fanático pelo clube – e muito respeitado pela imprensa, ocupando com frequência as primeiras posições nos rankings de notas médias por atuação entre os estrangeiros – numa era de ouro do Calcio, vale lembrar.
Seu melhor momento no clube foi a temporada 1984/85, quando conduziu a Sampdoria ao quarto lugar na Serie A – igualando a melhor colocação da história até então, obtida em 1960/61 – e ao primeiro título da Copa da Itália, derrotando o Milan na decisão. A equipe dirigida por Eugenio Bersellini era pontuada por ótimos nomes, entre eles o experiente goleiro Ivano Bordon (ex-Inter), o lateral-direito Moreno Mannini, o zagueiro Pietro Vierchowod, o meia escocês Graeme Souness e os jovens atacantes Gianluca Vialli e Roberto Mancini.
Trevor Francis se despediria dos blucerchiati ao fim da temporada 1985/86, pouco depois de ter feito sua 52ª e última partida pela seleção inglesa na vitória de 2 a 1 sobre a Escócia em Wembley em 23 de abril de 1986. Preterido pelo técnico Bobby Robson na lista final dos 22 convocados à Copa do Mundo do México, ele trocaria a Sampdoria pela Atalanta. Na temporada 1986/87, ele atuaria 21 vezes pela Serie A, marcando apenas um gol. A Dea chegaria à final da Copa da Itália, perdida para o Napoli, mas amargaria o descenso na liga.
De volta ao Reino unido
Aos 33 anos de idade, chegava a hora de retornar ao Reino Unido. Mas seu destino, ao menos de imediato, não seria o futebol inglês, e sim o escocês. Mais exatamente o Rangers, onde Graeme Souness, seu ex-companheiro de Sampdoria, conciliava os postos de jogador e treinador e reunia uma verdadeira legião inglesa no elenco. Em outubro de 1987, apenas um mês após sua chegada, Francis ajudaria o clube a levantar a Copa da Liga vencendo o Aberdeen nos pênaltis na final. Seria, porém, sua única conquista pelos Teddy Bears.
Seu período na Escócia duraria apenas seis meses: em março de 1988, o Queens Park Rangers o levaria de volta à liga inglesa. Em Loftus Road, ele ficaria por quase dois anos (exceto por um breve período na Austrália defendendo o Wollongong City em apenas três partidas). Nesse intervalo, ele teria sua primeira experiência como jogador-técnico, dirigindo os londrinos por cerca de um ano, de novembro de 1988 a novembro de 1989. Sua passagem terminaria pouco depois, em fevereiro de 1990, quando acertou com o Sheffield Wednesday.
Em Hillsborough, ele voltaria a criar laços com um clube inglês como não fazia talvez desde os tempos de Birmingham. Embora não pudesse evitar o descenso à segunda divisão ao fim de sua primeira temporada, 1989/90, na segunda ele ajudaria os Owls a retornarem de imediato à elite e ainda participaria da campanha vitoriosa na Copa da Liga, levantada com vitória de 1 a 0 sobre o Manchester United de Alex Ferguson na decisão em Wembley. Logo após a conquista, o técnico Ron Atkinson deixaria o cargo e Francis herdaria o posto. Continuaria como jogador-técnico em outro lugar.
As duas primeiras temporadas sob o comando de Francis seriam marcantes para os torcedores do Wednesday. Na primeira (a derradeira antes da criação da Premier League), o clube alcançaria um excelente terceiro lugar, sua melhor colocação na elite em mais de 30 anos. Já na posterior, os Owls chegariam às finais da FA Cup e da Copa da Liga, mas em ambas seriam derrotados pelo Arsenal em Wembley. Ao fim da temporada seguinte, 1993/94, Trevor Francis enfim decidiria, aos 40 anos de idade, pendurar de vez as chuteiras.
O agora ex-atacante seguiria como técnico do Sheffield Wednesday por mais uma temporada. Em maio de 1995, após temporada mediana, ele deixaria Hillsborough de vez após cinco anos e três meses. Curiosamente, três anos antes, ele esteve perto de contratar Eric Cantona. Era fevereiro de 1992, e o técnico convidou o atacante francês para um teste. Após treinar na grama sintética (era inverno e nevava muito), Cantona se recusou a estender o período de experiência para ser avaliado na grama natural e assinou com o rival Leeds.
Entre inúmeras passagens como comentarista de televisão, Trevor Francis teria ainda outras duas experiências como treinador. A primeira seria um retorno ao lar: o Birmingham City, entre maio de 1996 e outubro de 2001. Apesar dos progressos na tabela a cada temporada, os Blues bateriam na trave na disputa pelo acesso à Premier League, caindo nos playoffs por três anos consecutivos. No fim da passagem, ele também levaria a equipe à final da Copa da Liga (a primeira do clube em quase 40 anos), mas perderia nos pênaltis para o Liverpool.
Pouco mais de um mês após deixar St. Andrew’s, Francis seria contratado pelo Crystal Palace, em uma passagem que duraria até abril de 2003. Apesar de bons resultados isolados, o desempenho geral não satisfaria os dirigentes, que decidiriam encerrar seu vínculo. Deixando de lado a carreira de treinador, o ex-atacante passaria a dividir seu tempo entre a presença como comentarista na Sky Sports e no BT Sport e a família – até esta ser abalada pelo falecimento de sua esposa Helen (com quem era casado desde 1974) em abril de 2017.
A morte repentina de Trevor Francis, vitimado por um infarto aos 69 anos, desencadeou uma onda de homenagens e lembranças carinhosas de ex-companheiros de clubes, de seleção e ainda de colegas da imprensa, além das próprias agremiações. Capitão do Forest campeão europeu em 1979, John McGovern destacou a modéstia do ex-atacante: “Ele não era arrogante, apesar do valor de sua contratação”. Tido como um homem reservado, mas muito gentil, Trevor Francis deixa saudade em seu país como jogador e como pessoa.