“Sem paixão, fogo, desejo de vencer”: Guardiola criticou o seu time com uma contundência rara
Mesmo com a virada por 4 a 2 sobre o Tottenham na última quinta-feira, o técnico catalão não poupou palavras para apontar os problemas de postura dos seus jogadores

Pela primeira vez desde que chegou ao Manchester City, e talvez na carreira, Pep Guardiola cobrou de maneira tão contundente os seus jogadores em público – e isso depois de uma grande virada contra o Tottenham, na última quinta-feira. Segundo o treinador catalão, eles não tiveram o fogo, a paixão e o desejo de vencer desde o primeiro minuto e reagiram apenas depois de estarem atrás no placar. Como esse tipo de reviravolta não acontecerá todas as vezes, Guardiola acredita que, se algo não mudar, o City nunca alcançará o Arsenal no topo da tabela.
O Manchester City está fazendo uma temporada estranha, com mais tropeços do que o comum, o que tem sido atribuído ao processo de adaptação de Haaland a um time que joga de uma maneira diferente. O próprio Guardiola chegou a dizer que precisa encontrar uma maneira de dar mais bolas para o norueguês finalizar, mas, em sua entrevista coletiva após a partida no Etihad Stadium, deixou claro que o problema é muito mais profundo.
“Eu quero uma reação. Não apenas dos jogadores. Dos funcionários, de toda a organização. Somos um time de flores felizes, eu não quero isso. Quero vencer o Arsenal. Não posso negar quão felizes estamos (de ter vencido o Tottenham), mas estamos muito longe do time que éramos. Em muitas coisas, estamos muito, muito longe. Jogamos porque ‘meu técnico me disse para fazer isso e aquilo’, mas não há nada do estômago, das entranhas. Tivemos sorte (de virar) e, se não mudarmos, cedo ou tarde, vamos perder pontos. Sem paixão, fogo, desejo de vencer desde o primeiro minuto”, disse.
“Talvez eles estejam muito confortáveis porque ganhamos quatro edições da Premier League em cinco anos. Depois de marcarmos um gol, eles reagiram, mas esse não é o ponto. Estamos longe, muito longe de conseguir competir no nível mais alto. Você acha que vamos tirar a diferença para o Arsenal do jeito que estamos jogando? De jeito nenhum. Tivemos sorte. Se quisermos vencer algo ou competir – mas reclamar, reclamar, reclamar (os jogadores) – sem chance de ganhar qualquer coisa”, acrescentou.
Sobrou até para os torcedores. “É a mesma coisa com os nossos torcedores. Ficaram em silêncio por 45 minutos. Eles vaiaram porque estávamos perdendo, mas não porque jogamos mal. Jogamos bem. Eles vaiaram porque estávamos perdendo, mas talvez seja que nem nosso time”, afirmou.
O City havia sido eliminado da Copa da Liga Inglesa pelo Southampton, com um jogo muito pobre, e foi derrotado pelo Manchester United, no grande clássico da cidade, antes de receber o Tottenham. A derrota parcial por 2 a 0 na altura do intervalo parecia um desastre, mas, liderado por Mahrez, o City conseguiu vencer e está a cinco pontos do Arsenal – que tem um jogo a menos.
“Temos um adversário no Arsenal que tem o fogo. Duas décadas sem vencer a Premier League. Estou explicando a realidade. Tudo é tão confortável (no City), mas os adversários não esperam. Eu não reconheço meu time. Eles tinham a paixão e o desejo de correr. Estamos muito longe do time que tivemos nas temporadas anteriores. Você acha que essa virada acontecerá todas as vezes? Não acontecerá”, disse. “Dormirei que nem um bebê hoje à noite, mas não é sobre isso. Em 14 anos, eu venci 11 títulos de liga. Isso é muita coisa. Isso significa que todo dia eu vejo coisas que vocês não veem porque vocês não estão lá. Não é um único jogador. São todos”.
A primeira chance dos jogadores (e dos torcedores) mostrarem a Guardiola que entenderam o recado será no Etihad Stadium, contra o Wolverhampton, no próximo domingo.