Inglaterra

Rose e o racismo cotidiano que sofre fora dos gramados: “Fui parado pela polícia semana passada”

Danny Rose foi um dos jogadores negros da seleção inglesa que foram alvo de ofensas racistas durante um jogo contra Montenegro, ano passado, e chegou a dizer que não via a hora de deixar o futebol para trás, devido ao preconceito tão presente e que passa impune no jogo ao qual dedicou toda sua vida. Agora, falou também sobre o racismo que precisa enfrentar no dia a dia, como, por exemplo, semana passada, quando foi parado pela polícia porque era um negro dirigindo um carro caro.

“Acontece regularmente sempre que volto para Doncaster, onde nasci”, afirmou ao podcast Second Captains, segundo a Four Four Two. “Todas às vezes é: ‘Este carro foi roubado? Onde você achou este carro? O que você está fazendo aqui? Pode provar que comprou este carro?’.  Isso acontece comigo desde que tenho 18 anos, desde que comecei a dirigir, e todas as vezes eu apenas dou risada porque sei o que vai acontecer”.

“Especialmente quando vou para Doncaster, eu não gosto de dirigir, geralmente pego o trem, mas sempre que eu dirijo, eu sou parado em algum momento, parado e questionado. Meus amigos estiveram comigo várias vezes quando isso aconteceu. Na última vez, semana passada, quando eu fui para a casa da minha mãe, eu parei em um estacionamento, e o motor estava desligado”.

“A polícia apareceu, trouxeram uma van, três carros de polícia e me questionaram. Disseram que tinham recebido denúncia de que um carro não estava sendo dirigido corretamente. E eu: ‘ok, por que seria o meu carro, então?’. Eu mostrei minha identidade e passei pelo bafômetro. É só mais uma dessas coisas para mim agora. O que posso fazer?”

“Uma das última vez em que fui de trem, eu entrei com minhas malas, e a atendente disse: ‘Você sabe que esta é a primeira classe?’. Eu disse: ‘sim, e daí?’. Pediram para ver meu bilhete, eu mostrei, e juro que não é mentira, duas pessoas, duas pessoas brancas, entraram no trem depois de mim e ela não disse nada”.

“Perguntei: ‘Você não vai pedir os bilhetes deles?’. E ela disse apenas: ‘ah, não, não preciso’. As pessoas podem achar que isso acontece, mas, para mim, isso é racismo. São as coisas que tenho que tolerar, ser parado o tempo inteiro, questionado se sei que é a primeira classe ou para mostrar meu bilhete”.

“É a vida cotidiana para mim, mas eu até fico envergonhado de reclamar, de certa maneira, quando vejo o incidente nos Estados Unidos no qual um homem, um homem negro, perdeu a vida nas mãos de pessoas que deveriam protegê-lo. Sempre que digo essas coisas e reclamo, ouço de pessoas que tenho dinheiro e deveria ignorar. Eu desisti de esperar que as coisas mudem porque essa é a mentalidade de certas pessoas em relação ao racismo”.

“Não entendo o que posso fazer ou para quem posso reclamar. Isso aconteceu pela primeira vez quando eu tinha 15 anos e ainda acontece com 30. Faz 15 anos que isso acontece, dentro e fora de campo, e não há mudança nenhuma”, completou.

A morte de George Floyd por um policial branco nos EUA causou uma onda de protestos ao redor do mundo, incluindo manifestações generalizadas na Premier League, com jogadores ajoelhando-se como fazia Colin Kaepernick, ex-jogador da NFL, em um marcante gesto contra a brutalidade policial. Rose ficou chocado com a magnitude do movimento, mas segue cético em relação a quanto tempo esse sentimento durará.

“E parece que as pessoas estão fazendo sua parte, mas um dia por ano usamos uma camiseta dizendo ‘chute o racismo do futebol’ e é isso até a próxima temporada. Fazer isso uma vez por ano não transmitirá a mensagem”, disse, em relação a ações anteriores da Premier League.

“Temos que esperar para ver o que acontece agora. É uma pena que um homem precise ter perdido a vida daquela maneira para que este movimento acontecesse. Obviamente, nunca houve um incidente tão devastador quanto o que aconteceu nos EUA”.

“Para mim, essa é uma das maiores coisas que vi no mundo, imagine no futebol. Tudo que posso dizer é que coisas aconteceram no passado, nem perto do que aconteceu nos EUA, e um mês ou dois depois, tudo voltou à normalidade”.

“Então espero que isso seja algo que chame a atenção dos olhos, ouvidos e mentes de todo mundo. Tudo que podemos fazer agora é esperar e torcer para que nada assim aconteça novamente”, encerrou.

.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
Botão Voltar ao topo