Rodada da Premier League deu dicas de como os clubes devem se mexer nas últimas semanas do mercado
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Ao contrário das últimas temporadas, a Premier League começou antes do fechamento da janela de transferências, um recuo que provavelmente faria mesmo sem a pandemia abreviando o período entre as edições do Campeonato Inglês. Haverá quatro rodadas até a data final para negócios, em 5 de outubro, e, dependendo de como a bola rolar, o que acontecer em campo pode levar os clubes a mais ou menos negócios, seja pelo pânico, seja pela confirmação de que ainda restam necessidades a serem supridas.
Isso cria também um paradoxo porque, ao mesmo tempo em que ainda há mais duas semanas para contratação, as contas de todos os clubes do futebol europeu estão pressionadas pelos impactos da pandemia e as incertezas sobre a data de retorno das torcidas às arquibancadas. No caso específico da Inglaterra, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou, nesta terça-feira, novas medidas de restrição para frear um aumento de casos de Covid-19 no país e, entre elas, abandonou o plano inicial de abrir os estádios em outubro.
Com o político conservador acrescentando que existe a possibilidade de a proibição a torcidas, mesmo que menores e socialmente distantes, durar “talvez seis meses”, os clubes não podem contar com a volta das receitas dos dias de jogos em um futuro próximo, o que também pode levá-los a revisar seus planos para o mercado. Questionados, diretores de futebol da Europa têm dito que investimentos dependem muito da receita de vendas de jogadores, mas não será fácil encontrar compradores, com todo o continente, em diferentes níveis, ainda sob restrições.
Logo, por mais que a necessidade seja aparente, nem todos os clubes conseguirão supri-las por meio do mercado e há, de fato, maneiras mais baratas, como recorrer as categorias de base e minimizar problemas no campo de treinamentos. Mas, nesta coluna, falaremos sobre os buracos que ficaram evidentes ao longo dos dez jogos da segunda rodada da Premier League – a primeira completa até aqui, com o adiamento dos primeiros compromissos dos dois times de Manchester.
O mais claro de todos estava debaixo das traves do Chelsea no grande jogo do fim de semana, contra o Liverpool. A desconfiança de Frank Lampard em relação a Kepa Arrizabalaga era grande antes mesmo de o goleiro falhar no segundo gol do atual campeão inglês, passando aos pés de Sadio Mané na saída de bola. E talvez até mesmo no primeiro ao tentar interceptar a bola na intermediária antes de Andreas Christensen derrubar o senegalês.
Fico até surpreso que os Blues ainda não tenham anunciado a contratação do goleiro Édouard Mendy, do Rennes, o que deve acontecer nos próximos dias, porque não há mais nenhum clima para Kepa continuar sendo o goleiro titular do Chelsea. O preço pago para retirá-lo do Athletic Bilbao – maior valor por um jogador da posição na história – já era uma fonte de pressão enorme ao jovem de 25 anos. A cada erro, sua confiança pareceu diminuir um pouco mais, ao ponto em que agora o clube precisa trabalhar para preservá-lo e impedir que o seu valor de mercado despenque demais.
Mendy seria o terceiro reforço para a defesa do Chelsea, e nenhum dos outros dois esteve em campo contra o Liverpool. Talvez ele, Chilwell e Thiago Silva sejam suficientes para resolver o principal problema do time de Frank Lampard, mas, se pintar uma oportunidade, outro zagueiro poderia ser interessante. A expulsão de Christensen mudou o panorama da partida e as outras opções – Kurt Zouma e Fikayo Tomori – não passam 100% de confiança. Depois de ficar no banco contra o Brighton e nem ser relacionado para enfrentar o Liverpool, Rüdiger deve sair.
Se as fragilidades defensivas de um lado do clássico ficaram claras, no outro apareceu uma boa opção. A saída de Dejan Lovren deixou o Liverpool com apenas três zagueiros adultos em seu elenco. Joe Gomez, um deles, é especialmente suscetível a lesões. Após contratar Thiago e Diogo Jota, porém, os Reds não devem contratar um quarto zagueiro. Em caso de emergência, Jürgen Klopp recorrerá a Fabinho na linha defensiva, e impressionou a maneira como o volante brasileiro anulou Timo Werner e qualificou o passe na saída de bola.
Mas fica o alerta da situação parecida pela qual o Manchester City passou na última temporada. A saída de Vincent Kompany não foi reposta e, após uma crise de lesões na defesa, Pep Guardiola foi obrigado a improvisar Fernandinho na zaga. O brasileiro foi bem na nova função, mas as mexidas bagunçaram todo o sistema da equipe, mais vulnerável na retaguarda do que de costume. Agora, os Citizens tornaram a zaga sua prioridade: contrataram Nathan Aké e devem fechar com outro zagueiro até o fim da janela.
O favorito era Kalidou Koulibaly, mas a negociação ficou difícil no momento em que o City insistiu em conduzi-la por telefone sem fio. Desde que perdeu Jorginho para o Chelsea, o clube de Manchester se recusa a tratar diretamente com o Napoli, situação que o presidente italiano Aurelio de Laurentiis admitiu que emperra um pouco as tratativas. A opção que surgiu mais recentemente foi Jules Koundé, após ótima temporada pelo Sevilla. Tem, porém, um perfil diferente do de Koulibaly, que seria um reforço badalado e chegaria para resolver a parada. O francês ainda tem apenas 21 anos e, contando também duas campanhas pelo Bordeaux, menos de 100 jogos de experiência na primeira divisão de ligas nacionais.
A estreia do time na temporada, contra o Wolverhampton, foi de tempos distintos, com absoluto domínio no primeiro tempo e muitos espaços no segundo, especialmente pelo lado esquerdo da defesa. Essa partida também mostrou a falta que Diogo Jota faz aos Lobos, após um jogo meramente mediano de Pedro Neto, embora Daniel Podence tenha feito uma linda jogada no gol de Raúl Jiménez – depois de ter perdido umas três boas oportunidades. O principal gargalo das opções de Nuno Espírito Santo claramente está na ala direita.
Com a venda de Matt Doherty para o Tottenham, não há especialista na posição qualificado o suficiente para as ambições do Wolverhampton. Adama Traoré foi colocado na ala direita, onde atuou algumas vezes na última temporada. No entanto, a sua forte chegada ao ataque ficou restrita no primeiro tempo. Depois do intervalo, com mais liberdade para avançar, causou pesadelos a Benjamin Mendy. Os principais especulados no momento são Djibril Sidibé, do Monaco, de passagem recente apagada pelo Everton, e Nelson Semedo, sem moral no Barcelona.
A vexatória, apesar de ultimamente comum, derrota do Manchester United para o Crystal Palace deixou ainda mais clara a necessidade de reforços além de Van de Beek, como escrevemos no fim de semana. Especialmente na defesa, com Victor Lindelöf e Luke Shaw sendo facilmente batidos. Um novo lateral esquerdo deve chegar para ser titular ou pelo menos competir com Shaw. Após perder Sergio Reguilón para o Tottenham, o novo favorito é o brasileiro Alex Telles, no último ano de seu contrato com o Porto. Parece clara também a necessidade de outro zagueiro, mas, com o setor lotado pela recuperação de Eric Bailly e o retorno de Chris Smalling, não será prioridade.
A busca principal do clube nesta janela tem sido por Jadon Sancho, o que parece um pouco tentar matar uma barata com uma bazuca para ter mais uma opção no setor ofensivo, por mais que ela seja necessária. Contra o Palace, Daniel James começou jogando no lugar de Mason Greenwood e o mero desmonte do quinteto ofensivo que embalou nas rodadas pós-paralisação já deixou o United muito similar ao time de antes da chegada de Bruno Fernandes, irritantemente incapaz de furar defesas fechadas e recuadas.
O Tottenham está satisfeito com seus negócios até o momento, especialmente após a chegada de Gareth Bale, mas deve tentar forçar a saída de alguns. Dele Alli é a bola da vez na lista negra de José Mourinho e tem sido oferecido por aí, com o Paris Saint-Germain e a Internazionale pintando como os principais interessados. Um dos reforços dos Spurs foi o volante Pierre-Emile Höjbjerg, o que deixou o Southampton desesperado por uma reposição. Os rumores são Tom Davies, do Everton, ou Florentino Luis, do Benfica – uma lenda no Football Manager, fica a dica.
Continuando a descer pela tabela, há três equipes em desesperada necessidade de fazer mais gols nesta temporada. O Sheffield United ainda não marcou nesta Premier League. O Crystal Palace fez três gols em um jogo pela primeira vez desde a temporada 2018/19, mas principalmente pelas fragilidades defensivas do Manchester United, e o Brighton aproveitou que o Newcastle cometeu um pênalti, aos quatro minutos, para construir a vitória por 3 a 0. Os três estão interessados no garoto Rhian Brewster, do Liverpool, com média de um gol a cada dois jogos em sua passagem por empréstimo ao Swansea, na segunda divisão da temporada passada.
Outros times demonstraram necessidades um pouco mais amplas. O West Ham prometeu reforços após a venda do garoto Grady Diangana para o West Brom, o que gerou a revolta da torcida e de parte do elenco, mas ainda não contratou ninguém. O Leeds ainda deve fazer mais alguns negócios. Marcelo Bielsa tem algumas dezenas de milhões de libras disponíveis e deve começar com a defesa, após dois 4 x 3 nas primeiras rodadas – um a favor, e um contra. Diego Llorente, da Real Sociedad, é o mais próximo no momento.
Nem todos os clubes conseguirão suprir suas necessidades com novos reforços, pelas condições financeiras excepcionais descritas acima, mas podemos nos preparar duas últimas semanas agitadas no mercado inglês e talvez um dia de fechamento daqueles, diferente das temporadas passadas que foram bem mais tranquilas.
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