Tuchel: “É mais fácil aceitar que não podemos fazer nada no momento, além de esperar e nos adaptar constantemente”
Treinador falou sobre o clima interno do Chelsea, diante das sanções que tornam a situação do clube incerta

O Chelsea entrou em campo nesta quinta-feira no olho do furacão. Os Blues venceram o Norwich por 3 a 1, mas em meio a um cenário bastante incerto em seus bastidores. As sanções do governo britânico sobre Roman Abramovich geram uma série de limitações ao clube, embora ainda permitam uma licença especial para que os londrinos sigam em operação e cumpram seus compromissos. A venda deverá ser coordenada pelas autoridades locais, num cenário ainda nebuloso, que pode culminar inclusive com a inviabilidade financeira antes do fim da temporada. Em entrevista à Sky Sports, Thomas Tuchel comentou a maneira como lida internamente com seu trabalho e suas impressões atuais.
“Talvez nunca tenha sido mais verdadeira a ideia de ‘viver o momento', porque tudo parece muito, muito difícil. É muito difícil entender a situação, mas ver para onde ela está indo talvez seja impossível. Então, no final das contas, nos apegamos ao mantra de viver o momento e valorizar onde estamos. Não é fácil, mas está fora de nosso controle. Algumas vezes isso torna as coisas mais difíceis, mas algumas vezes é mais fácil aceitar que não podemos fazer nada no momento, além de esperar e nos adaptar constantemente”, afirmou o treinador.
Tuchel também comentou o momento em que recebeu a notícia: “Soube das sanções quando estava vindo para o CT para me preparar à partida, pegar o ônibus ao aeroporto e voar até Norwich. Honestamente, quando estávamos voando, com meus fones de ouvido e espaço para digerir a notícia, eu me senti muito privilegiado de ter a chance de ser treinador e comandar numa partida de Premier League. Eu me senti muito grato por isso”.
Neste sentido, o treinador faz questão de dizer que seu problema não é maior que o dos outros: “É difícil focar apenas no futebol, mas, por pior que seja a situação na Ucrânia, e a situação com a Rússia por começar essa guerra, que é inaceitável e horrível, há muitas coisas mais importantes que o futebol, e já era assim antes dessa guerra começar. Há crianças morrendo e outras guerras acontecendo no mundo que não estão muito no foco, há pessoas morrendo de coronavírus, trabalhos muito mais importantes que o meu”.
Na última semana, Tuchel se incomodou com as insistentes perguntas sobre a situação de Roman Abramovich e a relação, mesmo que distante, do Chelsea com a invasão na Ucrânia. De novo, o treinador apontou que não entende os motivos do questionamento para ele sobre o tema. De qualquer maneira, enfatizou como está numa posição de privilégio.
“Isso me deixa desconfortável, porque ninguém pergunta a uma enfermeira sobre cuidar de sua família, ir ao hospital e estar absolutamente incerta sobre seu futuro pessoal ou lidar com o corona. Há tantas pessoas por aí ajudando em zonas de guerra, ajudando crianças a ter água e remédios, há tantos trabalhos mais importantes que ser técnico de futebol. Isso me deixa desconfortável para dizer que é um problema estarmos onde estamos. Porque ainda somos muito, muito privilegiados, e é assim que me sinto”.
“Talvez seja por isso que minha obrigação está em focar no que faço, no que tenho, e ainda sou parte de um grande clube, e ainda somos muito privilegiados, só posso repetir isso. E é por isso que tentamos viver o momento e ver o que acontecerá nas próximas horas, porque as coisas estão mudando rapidamente”, complementou o alemão.
O Chelsea volta a campo no domingo, quando enfrenta o Newcastle pela Premier League. Será a primeira partida em Stamford Bridge desde o início das sanções. Apenas os torcedores com carnê de temporada ou com ingressos comprados antecipadamente poderão comparecer. Além disso, os Blues não estão autorizados a vender produtos oficiais.