O que Ivan Toney falou sua punição por apostas e como isso se relaciona com caso Paquetá

A relação entre casas de apostas e futebol tem questões complexas e uma delas é exemplificada pelo caso de Ivan Toney. O atacante inglês foi punido por apostar, algo que é contra as regras para jogadores profissionais, e foi suspenso por oito meses. O jogador não pode sequer treinar com seu clube, Brentford, até setembro. O caso chama muito a atenção no Brasil porque recentemente Lucas Paquetá passou a ser investigado por apostas.

Toney, de 27 anos, deu uma entrevista para contar sobre o que aconteceu. Ele admitiu 232 infrações de apostas relacionadas a futebol em uma investigação conduzida pela Football Association (FA). A investigação demorou um ano: de maio de 2022 até maio de 2023, quando as punições foram determinadas.

Na temporada passada, 2022/23, Ivan Toney marcou 20 gols pelo Brentford na Premier League. Estreou pela seleção inglesa em março, em uma partida de Eliminatórias da Eurocopa, diante da Ucrânia. Toney questionou a natureza da sua punição, especialmente a parte de não poder sequer treinar no seu clube.

“É como um garoto no Natal — estou contando os dias até poder treinar e estar perto dos rapazes, estou em uma prisão de futebol no momento”, afirmou o jogador em entrevista ao Diary of a CEO podcast. “Estar perto dos meninos vai ficar um pouco mais fácil, mas no final da semana não há objetivo final ou recompensa porque você não pode jogar a partida”.

“Sinto que me deixar sem poder treinar, se eu não fosse tão forte na minha mente, isso quebraria algumas pessoas. Nós falamos sobre saúde mental e essas coisas, o que isso faz a um jogador que não é autorizado a poder entrar no ambiente? Deixar o jogador longe do campo de treinamento sabendo que o futebol é a sua vida e que isso é tudo que ele faz desde muito cedo, como isso irá o ajudar?”, questiona. “Não é um sentimento bom e todo o propósito de não ser autorizado no centro de treinamento é desconcertante para mim”.

Por que Ivan Toney foi punido?

O processo todo que levou à punição de Ivan Toney começou em maio de 2022. O jogador foi inicialmente interrogado no dia 20 de julho e entregou o seu telefone celular. Em setembro e outubro, o atacante cedeu à FA dados sobre duas contas bancárias separadas.

Em 10 de outubro de 2022, a FA fez uma segunda entrevista com Toney e pediram extratos bancários detalhados, o que foi feito dois dias depois. No dia 26 de outubro, foi confirmado que Toney tinha uma terceira conta bancárias e a FA pediu extratos também dessas contas.

Depois de coletar todas as informações, a FA decidiu indiciar Toney em novembro por 232 violações da regra E8, que fala sobre proibição de pessoal envolvidas no futebol de apostarem no esporte. A entidade conseguiu comprovar que foram feitas apostas de fevereiro de 2017 a janeiro de 2021. Depois, mais 30 acusações foram acrescentadas um mês depois.

Em fevereiro de 2023, Toney admitiu 190 das violações em que era acusado e questionou outras 72. Em março, a FA retirou 30 acusações e continuou disputando as 42 que restavam. No dia 21 de abril, Toney admitiu as 42 acusações restantes. Toney, então, se declarou culpado das 232 acusações e foi a uma audiência no dia 16 de maio para tratar sobre a questão. Depois da audiência, uma comissão regulatória independente decidiu pela punição de oito meses de suspensão para o jogador. Toney, assim, só pode voltar a jogar no dia 17 de janeiro de 2024.

A regra que impede os jogadores de apostarem tem motivos óbvios: manter a integridade do esporte. Isso para evitar, por exemplo, que jogadores apostem em si mesmos para receber um cartão. Parece bastante evidente o porquê ser proibido que um jogador aposte.

Toney apostou 13 vezes que seu próprio time perderia em sete partidas diferentes e fez outras 16 apostas que seu próprio time venceria em 16 jogos diferentes. Toney também apostou 15 vezes que ele mesmo marcaria em nove jogos diferentes, em momentos que ainda não era de conhecimento público que ele estaria relacionado para o jogo — o que faz a cotação, ou odd, estar mais alta.

“Sobre as 2323 violações, há algumas apostas por lá que eu não lembro de ter feito, eu estava disposto a assumir a responsabilidade por isso e concluir o processo com isso, porque ter isso sobre mim e tentar me concentrar na minha carreira estava longe de ser o melhor sentimento. Eu fui bem em terminar com 20 gols com isso na minha cabeça”, disse Toney.

“Havia pessoas dizendo que eu estava manipulando resultados, mas nada disso era manipulação de resultados. Eu estava apostando em mim para fazer o gol primeiro um tempo atrás. Eu estava tentando fazer a coisa certa, não é como se eu estivesse agredindo alguém e recebendo um cartão amarelo aqui, ali e em qualquer lugar”, contou ainda Toney.

A punição inicial de Toney foi de 15 meses, mas foi inicialmente reduzida a 11 quando ele se declarou culpado e vai mais três meses após um psiquiatra diagnosticou Toney como viciado em apostas. A conclusão foi que ele precisava de ajuda e, por isso, a sua punição foi reduzida, com a condição que ele fizesse um tratamento.

“Foi senso comum entre os envolvidos que a sanção deveria ser reduzida por causa de mitigações pessoais disponíveis para o senhor Toney. Elas incluem sua relativa juventude na época das violações (entre 21 e 25 anos), seu histórico bom em relação a outras violações fora de campo e o remorso genuíno que expressou diante da comissão. A falta de controle do jogador a respeito de apostas é claramente uma reflexão do seu vício em apostas que foi diagnosticado”, disse o relatório.

Como o caso Toney se relaciona com o de Paquetá?

Por enquanto, há poucas coisas que dá para relacionar entre os dois casos. O processo está em apuração e as informações iniciais são que as apostas não foram feitas por Paquetá, mas por pessoas ligadas a ele e no Brasil. Isso já diferencia muito os casos. É preciso lembrar que as regras contra apostas não valem apenas para os jogadores, mas também por seus familiares. E é aí que as coisas se relacionam.

Segundo informações apuradas pela Trivela, a violação teria sido cometida por um familiar do atleta em uma partida que ele atuou pelo West Ham na Premier League. Toney apostou em jogos em que jogaria e isso foi um agravante do seu caso. Em algumas das apostas, ele usou contas de outras pessoas. Por isso, será preciso entender qual é o envolvimento de Lucas Paquetá com as apostas feitas em um jogo que atuaria, se é que tem alguma relação.

O que pode complicar o caso de Paquetá, caso sua participação seja comprovada, e é um grande “se”, é que a possível violação pode estar ligada a um esquema de manipulação de resultados. Isso tornaria o seu caso ainda mais grave.

Segundo matéria do ge.globo, as investigações começaram por uma aposta casada de duas ligas, da Espanha e da Inglaterra. A aposta previa que Paquetá receberia um cartão amarelo no jogo entre West Ham e Aston Villa, enquanto Luiz Henrique, do Betis, receberia um cartão amarelo na partida entre o Betis e Villarreal. Os dois jogadores receberam esses cartões.

As apostas foram feitas em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, no site Betway, que é patrocinadora do West Ham, time de Paquetá. Chamou a atenção também por não ser uma casa de apostas popular no Brasil. As apostas seriam de pessoas próximas a Paquetá e Luiz Henrique.

O que levanta suspeitas ainda maiores é que novas contas foram criadas no site da Betway no dia 12 de março e os apostadores colocaram o valor máximo permitido em cada uma delas. A aposta casada, combinando dois eventos, no caso de dois cartões de jogos separados e ligas diferentes, serve para aumentar as cotações e, claro, os potenciais ganhos.

As investigações ainda são preliminares e os vínculos suspeitos precisarão ser esclarecidos antes de qualquer coisa. Como visto no caso de Toney, essa investigação não é simples e pode demorar para ser realizada.

O que diz a regra da Football Association sobre apostas

Informação disponível no site da FA fala que qualquer participante (jogador ou qualquer pessoa envolvida no futebol) “está proibido de apostar no futebol ou em qualquer assunto relacionado a futebol”, o que inclui, por exemplo listado pela entidade, transferências de jogadores, emprego de técnicos ou jogadores que serão escalados. “Passar informações internas para alguém que use a informação para apostar também é proibido”, avisa o site.

Em outro ponto, a FA trata especificamente de manipulação de resultados e possíveis punições. A entidade trata como manipulação de resultados “organizar antecipadamente o resultado ou a conduta de uma partida ou competição, ou qualquer evento dentro de uma partida ou competição”.

Descreve ainda que “oferecer ou aceitar qualquer suborno relativo de alguma forma a influenciar indevidamente o resultado ou a conduta de uma partida ou competição, ou qualquer evento dentro da partida ou competição é igualmente proibido e sério”.

“Se você tentar manipular resultados, provavelmente será pego e será indiciado pela FA. Se comprovado, é provável que isso leve a uma suspensão significativa e, em alguns casos, o banimento vitalício”, diz a entidade. “Se você for abordado ou suspeitar que um colega ou alguém que você conhece foi abordado ou está envolvido em manipulação de resultados, você deve denunciá-lo à FA imediatamente. Não relatar tais propostas pode resultar em um indiciamento da FA contra você”.

A regra E8, relativa a apostas, pode ser liga também por completo no site da FA.