Thiago Silva não ser capitão após lesões é um desrespeito de Pochettino — e jogadores do Chelsea que pensam isso
Mesmo com Reece James e Ben Chilwell lesionados, Mauricio Pochettino passa a faixa de capitão do Chelsea para garotos ao invés de Thiago Silva e gera mal-estar

É difícil de acreditar, mas o Chelsea parece ter mais um problema além da campanha de meio de tabela na Premier League, das recentes derrotas e das muitas lesões no elenco. Com os laterais Reece James e Ben Chilwell no departamento médico, o clube de Stamford Bridge passou a não ter suas duas primeiras opções de capitão disponíveis. Isso não é novidade, mas acontece que Mauricio Pochettino causou um desconforto ao não selecionar Thiago Silva como portador da braçadeira nesta situação. E o clima ruim no vestiário não é entre o zagueiro e o treinador, até porque foram os demais jogadores dos Blues que acharam a atitude desrespeitosa.
Segundo o jornal The Guardian, boa parte do elenco do Chelsea teria ficado perplexa com a decisão do treinador argentino e não tornar o veterano brasileiro capitão com as ausências. O zagueiro de 39 anos é sem sombra de dúvidas o atleta mais experiente da equipe formada majoritariamente por garotos e com mais familiaridade com a faixa, tendo capitaneado a Seleção Brasileira e o Paris Saint-Germain por anos e tendo história suficiente no clube inglês para estar neste posto. Pochettino, no entanto, tem priorizado os jovens.
Até sub-20 usou a braçadeira e Thiago Silva não
Com as saídas de Jorginho em janeiro deste ano e de César Azpilicueta ao fim da temporada 2022/23, o Chelsea precisou escolher um novo capitão para o início da atual Premier League. Em agosto, o recém-chegado Mauricio Pochettino resolveu premiar Reece James como novo dono da braçadeira. O lateral-direito tem apenas 24 anos, mas é formado nas categorias de base do clube e tem mais de 150 partidas pelo time londrino.
A decisão foi surpreendente, mas foi vista como um grande voto de confiança no início de um novo trabalho e com tantos garotos assumindo papéis importantes. Inicialmente, Thiago Silva era visto como uma escolha óbvia, mas James foi selecionado depois da pré-temporada nos Estados Unidos para a missão de capitanear um Chelsea que aposta em jovens para voltar brigar na parte mais alta da tabela.
— Esta é uma decisão minha e do clube. Estamos muito satisfeitos por Reece ser o capitão do time nesta temporada. Ele lidera pelo exemplo e sua atitude e dedicação ao Chelsea foram claras durante a pré-temporada. Ele orgulhosamente usou a braçadeira durante nossa turnê de verão e aceitará o desafio de liderar nosso time com sua própria abordagem e ideias — afirmou Pochettino na época.
Chelsea captain. ? pic.twitter.com/tS7s8iX4aU
— Chelsea FC (@ChelseaFC) August 9, 2023
Reece James, no entanto, tem convivido com problemas musculares nos últimos anos, tendo até perdido a Copa do Mundo de 2022 com a Inglaterra por isso. Com a nova contusão no primeiro tempo da derrota por 2 a 0 para o Everton no domingo (10), inclusive, ele deve estar na lista de desfalques por pelo menos três meses. Ben Chilwell, então, foi nomeado o vice-capitão, mas o lateral-esquerdo se recupera de uma lesão no tendão da coxa e não entra em campo desde o fim de setembro.
Em oito dos nove jogos dos Blues nesta temporada em que os dois não começaram jogando, foi Conor Gallagher quem usou a faixa. Assim como Reece James, meio-campista de 23 anos também é formado na base do clube, mas soma somente 63 atuações com a equipe principal. Já na derrota para o Manchester United por 2 a 1, o garoto Levi Colwill — que tem 20 anos e faz sua primeira temporada como profissional pelo Chelsea — foi o capitão.
As escolhas de Pochettino com as lesões não foram compreendida por alguns jogadores, que veem Thiago Silva como a opção natural para liderar o time durante um momento conturbado e de reestruturação. Além disso, consideram que o zagueiro estaria sendo desrespeitado e que as opções do treinador evidenciam uma falta de rumo. O tópico ainda estaria sendo cada vez mais comentado no vestiário.
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O técnico argentino, por sua vez, segue com o discurso de que Thiago Silva é um líder natural e não precisa usar a braçadeira para ser um dos capitães do Chelsea. Ao anunciar Reece James e Ben Chilwell como capitão e vice, respectivamente, a fala de Pochettino indicava que o grupo havia compreendido que o zagueiro brasileiro auxiliaria nesta passagem de bastão, até porque tem contrato até o fim de junho e não deverá permanecer em Stamford Bridge.
— Por muitas razões diferentes, olho não só para o presente, mas para o futuro. Foi uma situação boa porque Reece (James) está pronto para ser capitão. Quando o jogador é esperto como o Thiago, que tem 38 e quase 39 anos, você acha que ele está pensando em usar a braçadeira? Ele é capitão assim como Reece e Chilwell. Você não precisa da braçadeira para se sentir um capitão. Ele também é capitão e ajudará Chilwell e Reece — disse o comandante.
O histórico de Thiago Silva como capitão
Como jogador de futebol profissional, os registros apontam que Thiago Silva começou uma partida usando a braçadeira de capitão pela primeira vez em outubro de 2010, em um amistoso entre Brasil e Ucrânia quando tinha 26 anos. O zagueiro viria a usar a faixa pela Seleção em outras 51 ocasiões, acumulando recordes e polêmicas.
Pelo lado positivo, Thiago Silva se tornou o atleta que mais vezes capitaneou o Brasil em partidas de Copas do Mundo, chegando a 12 e ultrapassando ninguém menos que Cafu e Dunga, ambos com 11, durante o Mundial do Catar. Com a faixa, o defensor ainda levantou a taça da Copa das Confederações em 2013.
Já pelo outro lado, Thiago Silva ficou marcado negativamente em sua primeira Copa do Mundo como capitão, justamente na edição realizada no Brasil em 2014. Nas oitavas de final contra o Chile, ele não aguentou e acabou chorando após o apito final e antes da disputa por pênaltis. A atitude foi vista pela grande maioria da imprensa como um descontrole e não condizente com o posto que ele exercia.
Nas quartas de final, parecia que ele daria a volta por cima ao abrir o placar contra a Colômbia, mas recebeu um cartão amarelo totalmente desnecessário e bobo quando o placar era de 2 a 0 e acabou ficando suspenso no fatídico 7 a 1 para a Alemanha na semifinal.
Há exatos 9 anos…
Capitão da Seleção, Thiago Silva ficou marcado pelo choro antes da disputa de pênaltis contra o Chile nas oitavas de final da Copa de 2014.
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— Futebol Nostálgico! (@futnostalgico) June 28, 2023
Após a Copa, Dunga substituiu Luiz Felipe Scolari e retornou ao comando da Seleção. Foi ele quem chamou Thiago Silva para vestir a camisa pentacampeã mundial pela primeira vez em 2008, mas o capitão do tetra em 1994 não quis manter o zagueiro com a braçadeira e a entregou para Neymar, então com 22 anos. A decisão não agradou o defensor, que admitiu publicamente a chateação por perder a faixa e por não ter sido chamado para conversar sobre com o companheiro e o treinador.
Neymar, no entanto, também não satisfez a opinião pública como capitão. Por mais que tenha sido o grande líder no inédito ouro olímpico no Maracanã em 2016, o craque se descontrolou na derrota para a Colômbia na fase de grupos da Copa América de 2015 e foi suspenso por quatro jogos, ficando de fora dos últimos dois compromissos do Brasil no torneio — incluindo a precoce eliminação nos pênaltis para o Paraguai nas quartas de final.
No ano seguinte, Neymar foi aos Estados Unidos durante a Copa América Centenário, mas imagens do atacante em festas enquanto a equipe de Dunga sofria e era eliminada na fase de grupos, ficando atrás de Peru e Equador. Logo depois, Tite assumiu e estabeleceu um rodízio da braçadeira, que eventualmente também foi criticado quando os primeiros resultados ruins apareceram e tratado como uma “falta de liderança”.
Na reta final de sua passagem pela Seleção, Tite definiu Thiago Silva como capitão. Em nova chance, o zagueiro acumulou boas atuações com a faixa e fez uma bela Copa do Mundo no Catar, mas sua imagem como líder do Brasil acabou mesmo vinculada ao mata-mata de 2014.

Já por clubes, Thiago Silva começou uma partida como capitão pela primeira vez quando estava no Milan, em 2012. No Paris Saint-Germain, ele usou a braçadeira sete vezes já em sua primeira temporada e eventualmente se tornou um dos maiores ídolos e talvez o maior exemplo de líder da história do clube.
Por fim, o brasileiro foi capitão do Chelsea em 21 jogos até aqui, sendo dez vezes logo em sua primeira Premier League pelos Blues e a última em maio, na vitória por 3 a 1 sobre o Bournemouth pela 35ª rodada da edição passada do Campeonato Inglês.