Para uma emergência, um especialista: Roy Hodgson volta ao comando do Crystal Palace
Agora que o objetivo é só escapar do rebaixamento, por que não contratar quem melhor o fez nos últimos anos no Selhurst Park?

Quando contratou Patrick Vieira, o Crystal Palace vislumbrava construir algo que fosse além da mera sobrevivência na Premier League. Um projeto de médio prazo, desenvolvendo jovens talentosos, com um futebol mais agradável de se ver, mas 12 rodadas sem vitória estragaram esse plano. O francês foi demitido na última sexta-feira e, se o objetivo agora é apenas escapar do rebaixamento, por que não trazer um especialista? Roy Hodgson, 75 anos, está de volta ao banco de reservas do Selhurst Park.
Hodgson, agora prestes a completar 47 anos, de carreira, não é exatamente um especialista em fugir da degola, tanto que foi rebaixado com o Watford na última temporada, mas é em fazê-lo com o Crystal Palace. Após uma tentativa mais radical de mudança de filosofia com Frank de Boer, Hodgson engatou quatro temporadas em que terminou confortavelmente no meio da tabela, com boa parte dos jogadores que tem à disposição neste momento. Nunca, na história do futebol, houve um exemplo mais claro de bola de segurança do que esta escolha.
O que não quer dizer que foi unanimidade. O The Athletic publicou que Hodgson foi uma preferência pessoal do co-proprietário Steve Parish, à revelia de alguns dos outros sócios. A percepção é que seria um passo atrás na mudança de filosofia pretendida pelo clube. Manter Paddy McCarthy, técnico das categorias de base com 15 anos de casa desde os tempos de jogador, chegou a ser cogitado, mas a pesada derrota para o Arsenal no último domingo, quando foi o comandante interino, não deixou uma impressão muito boa.
E quando coisa aperta, Parish parece ser avesso a riscos e, em parte por isso, conseguiu a maior sequência da história do Crystal Palace na elite da Inglaterra, completando dez anos. Ele sabe o que terá em Roy Hodgson, mesmo que em uma situação diferente à de 2017, quando o veterano assumiu no começo da temporada, após conduzir uma péssima campanha da Inglaterra na Eurocopa. Ele terá menos tempo para implementar a solidez defensiva e organização que renderam bons frutos no Selhurst Park. Por outro lado, conhece praticamente todo mundo.
O mais uma vez técnico mais velho da Premier League parecia pronto para se aposentar quando deixou o Palace, dois anos atrás. Aceitou tentar salvar o Watford, com um contrato de curto prazo, e fracassou. E aí parecia novamente pronto para se aposentar. Ao receber uma Ordem do Império Britânico pelos serviços prestados ao esporte no Palácio de Buckingham, em maio de 2022, disse com todas as letras que achava que não treinaria mais um time da Premier League e que o Watford seria seu “canto do cisne”. Mas topou mais um acordo emergencial e urgente para salvar um clube com o qual se identifica bastante – onde começou sua carreira como jogador, lá nos anos sessenta.
“É um privilégio ser chamado para voltar ao clube, que sempre significou muito para mim, e receber esta importante tarefa de reverter a sorte do time. Nosso único objetivo agora é começar a vencer jogos e somar os pontos necessários para garantir nosso status de Premier League. O Crystal Palace é conhecido pelo seu espírito de luta e não tenho dúvida de que todos os nossos torcedores lutarão conosco, começando com a visita do Leicester (em 1º de abril)”, disse Hodgson.
Embora os questionamentos sejam compreensíveis, a decisão de Parish também é. Qualquer treinador mais jovem e moderno com objetivos de médio prazo que chegasse agora teria que, em primeiro lugar, assegurar a permanência na Premier League. Não haveria margem para arriscar ou fazer experimentos. Então, talvez seja melhor entregar essa missão para Hodgson, alguém que será dispensado sem atritos ou desgastes ao fim da temporada, e começar novamente durante o verão europeu, com tempo para treinar e acesso ao mercado de transferências.
A dúvida é se Hodgson, há dois anos afastado do Selhurst Park e sem muita coisa para mostrar durante sua passagem pelo Watford, conseguirá tirar o que já tirou do elenco do Crystal Palace. A tabela ajuda. Depois de uma sequência brutal, que teve grande influência na queda de Vieira, os próximos compromissos serão relativamente mais tranquilos – embora não haja jogo realmente tranquilo para um time que ainda não venceu em 2023.