Crystal Palace encontrou um pouco do que queria com Vieira – mas aparentemente não o suficiente
Ele foi contratado para equilibrar um futebol mais empolgante com a permanência na Premier League, mas, após uma sequência muito ruim aproximar os londrinos da zona de rebaixamento, as prioridades foram recalibradas

O Crystal Palace está em sua sequência mais longa na história da primeira divisão inglesa. Claramente encontrou a fórmula para evitar o rebaixamento, mas tinha razão em não estar satisfeito. Às vezes apenas existir é o pior dos destinos, e era isso que o clube vinha fazendo: emplacava uma ou outra zebra, mas, em nove campanhas, nunca fez menos do que 40 pontos, nunca fez mais do que 50. Após a saída de Roy Hodgson, viu a chance de buscar um tempero, um técnico novo que pudesse desenvolver um futebol mais agradável, um nome forte da história da Premier League. E Patrick Vieira até entregou um pouco do que lhe foi pedido, mas aparentemente não o bastante, e uma sequência horrível de resultados custou o seu emprego.
Prioridades: o Palace não ganhou um jogo em 2023 e está há 11 rodadas sem vencer pela Premier League. A gordura que foi construída para a zona de rebaixamento foi dizimada, e apenas três pontos o separam da zona da degola. Se empolgar um pouco mais é uma ambição justificável, ficar na elite é essencial para a sobrevivência do clube, e o co-proprietário Steve Parish decidiu que era a hora de fazer uma mudança. “É com enorme lamentação que esta decisão foi tomada. No fim das contas, os resultados nos últimos meses nos colocaram em uma posição precária na liga e sentimos que uma mudança é necessária para nos dar a melhor chance de ficar na Premier League”, disse.
Em números brutos, as campanhas de Vieira não foram muito diferentes das anteriores sob o comando de Roy Hodgson. Mas dava para ver pelo menos a ambição de buscar algo a mais, e ele não recebeu muito respaldo no mercado de transferências. Os jogadores que têm à disposição são praticamente os mesmos. O Palace tem uma das mais baixas taxas de investimento em elenco, entre compras e vendas, da Premier League nos últimos cinco anos. E mesmo nesse cenário, o treinador francês conseguiu produzir alguns bons momentos.
Terminou onde o Palace costuma terminar na sua primeira temporada, mas o fez derrotando Tottenham, Manchester City, Arsenal e Manchester United e conseguiu chegar à semifinal da Copa da Inglaterra goleando o Everton nas quartas de final. Os gastos de cerca de € 45 milhões no mercado de transferências não foram muito relevantes, dados os preços praticados hoje em dia, e para piorar, Connor Gallagher, o craque daquele time, retornou de empréstimo para o Chelsea.
A nova campanha começou relativamente positiva. O Palace atingiu a parte de cima da tabela por volta das 14ª e 15ª rodadas, mas o pós-Copa do Mundo foi trágico, e as prioridades tiveram que ser recalibradas. Nomes como Ralph Hasenhüttl, ex-Southampton, Vincent Kompany, do Burnley, e Michael Carrick, do Middlesbrough estão sendo considerados. Assim como o retorno de Roy Hodgson, agora com 75 anos. Ele parecia prestes a se aposentar quando deixou o Selhurst Park, mas aceitou mais um desafio ao assumir o Watford. Após o rebaixamento na temporada passada, indicou que não estaria mais disposto a trabalhar. No próximo domingo, contra o Arsenal, o responsável pelas decisões será Paddy McCarthy, ex-capitão do Palace e comandante do sub-21.
Patrick Vieira pode argumentar que a sua sequência ruim de resultados foi circunstancial. Os 11 jogos sem vitória na Premier League foram contra Tottenham, Chelsea, Manchester United (duas vezes), Newcastle, Liverpool, Manchester City e Brighton (também duas vezes), todos clubes milionários ou que brigam na ponta de cima da tabela. O craque do time, Wilfried Zaha, não esteve em quatro desses duelos. A derrota para o Brighton, que acabou sendo o último jogo do francês no comando do Palace, porém, doeu. A rivalidade entre os clubes é grande e foi a primeira derrota dos londrinos nesse confronto após quatro anos.
A demissão é um golpe à carreira de Vieira, que ainda não conseguiu demonstrar o quão promissor é como treinador. Teve duas boas temporadas no New York City, duas pelo Nice, mas ainda não emplacou um trabalho longo. Como no Crystal Palace, também foi demitido pelos franceses após uma sequência ruim de resultados. Após o Arsenal, no fim de semana, teria uma sequência um pouco mais tranquila para mostrar serviço, mas o Palace não quis pagar para ver.