Caicedo virou um leilão, mas seu potencial também justifica o pago pelo Chelsea
Moisés Caicedo rende um valor estratosférico ao Brighton e ao Independiente del Valle, diante da disputa entre Liverpool e Chelsea por sua contratação
Moisés Caicedo se tornou um tesouro no elenco do Brighton, à medida que progrediu meteoricamente na Premier League. O meio-campista era, desde a temporada passada, uma das figuras mais cobiçadas do campeonato. A princípio ainda permaneceu com as Gaivotas, quando muita gente queria tirá-lo de lá logo após a Copa do Mundo. A venda de Caicedo, de qualquer forma, era questão de tempo – mesmo saindo apenas nos termos do Brighton. E o que se viu nos últimos dias foi uma briga ferrenha entre Chelsea e Liverpool para levar o equatoriano. Quando tudo parecia favorável aos Reds, o jovem indicou que só assinaria com os Blues. Melhor para o Chelsea, que compra o volante de 21 anos por €133 milhões, valor recorde do mercado inglês. O contrato também impressiona pela duração de oito anos.
As circunstâncias auxiliaram a elevar o custo de Moisés Caicedo. Primeiro, pela postura do Brighton em ceder o meio-campista apenas sob uma condição favorável. Depois, pelo leilão que Liverpool e Chelsea protagonizaram nos últimos dias. Os Reds pareciam dispostos a quebrar a banca pelo equatoriano e ofereceram um valor muito acima de seus padrões recentes. Os Blues, entretanto, não deixariam barato e aumentaram o sarrafo ainda mais. O acerto com o Chelsea chegou a ficar sob dúvidas por conta do Fair Play Financeiro, mas a vontade do volante era atuar em Stamford Bridge e a diretoria optou por tentar enquadrar as contas. A essa altura, a compra de “Niño Moi” também tinha um quê de ego para Todd Boehly.
A contratação de Caicedo supera o recorde de negócio mais caro da história da Premier League, que também era do Chelsea. Apenas seis meses depois de quebrar a marca com Enzo Fernández, o clube faz um movimento ainda maior para levar Caicedo. A vinda do equatoriano eleva os gastos dos Blues para €340 milhões na atual janela de transferências. É verdade que o clube arrecadou €255 milhões com vendas e liberou a folha de pagamentos sem alguns dos salários mais altos. Ainda assim, o nível de investimento de Todd Boehly desde sua chegada à presidência é altíssimo, mesmo para os padrões de quem estava acostumado com Roman Abramovich.
It’s only ever been Chelsea. pic.twitter.com/LCYf6A2BQr
— Chelsea FC (@ChelseaFC) August 14, 2023
Reforços do futebol inglês que superam €100 milhões
- 1° – Moisés Caicedo, do Brighton para o Chelsea por €133 milhões
- 2° – Enzo Fernández, do Benfica para o Chelsea por €121 milhões
- 3° – Jack Grealish, do Aston Villa para o Manchester United, por €117,5 milhões
- 4° – Declan Rice, do West Ham para o Arsenal, por €116,6 milhões
- 5° – Romelu Lukaku, da Internazionale para o Chelsea, por €113 milhões
- 6° – Paul Pogba, da Juventus para o Manchester United, por €105 milhões
A trajetória de Moisés Caicedo
Aos 21 anos, Moisés Caicedo possui um preço tão alto mais por potencial do que por feitos na carreira. O talento do meio-campista é espantoso, mas ainda assim suas mostras em alto nível são relativamente pequenas. Todavia, ele queimou etapas desde que surgiu nas prolíficas categorias de base do Independiente del Valle. Niño Moi fez sua fama a partir do time sub-20 do IDV, com o qual conquistou a Libertadores Sub-20 contra o River Plate de Enzo Fernández em março de 2020. Depois disso, o volante se firmou com o time de cima dos negriazules. E mostrou rapidamente como oferecia algo diferente.
Caicedo disputou 31 partidas pelo time profissional do Independiente del Valle. Seis aparições aconteceram na Libertadores de 2020, com destaque aos 5 a 0 sobre o Flamengo no Equador, quando ofereceu gol e assistência diante dos então campeões continentais. Ao mesmo tempo, Niño Moi também estreou na seleção principal do Equador e impressionou. O garoto virou titular de imediato e participou do grande início de La Tri nas Eliminatórias. Uma de suas melhores partidas aconteceu nos 6 a 1 sobre a Colômbia em Quito.
O Brighton acertou a contratação de Moisés Caicedo no fechamento da janela de inverno da temporada seguinte, pagando €5 milhões pelo adolescente em janeiro de 2021. Era a venda mais cara da história do Independiente del Valle e que, mesmo assim, saiu por um preço bastante módico pelo lucro que gerou depois. De início, Caicedo não teve espaço na equipe principal das Gaivotas. Tanto é que o jovem começou a temporada 2021/22 emprestado ao Beerschot, da Bélgica. Em janeiro de 2022, os alviazuis buscaram o equatoriano de volta para o segundo turno da Premier League. A partir de então, ele se tornou um dos donos do time, diante da oportunidade que ganhou após a lesão de Jakub Moder.
Caicedo disputou apenas as oito rodadas finais da Premier League 2021/22. Fez o suficiente para se tornar titular absoluto e ter um impacto impressionante no Brighton, então treinado por Graham Potter. As expectativas se elevavam para a temporada de 2022/23. E, mesmo com os holofotes sobre si, Niño Moi conseguiu se superar. O rendimento do equatoriano cresceu ainda mais sob as ordens de Roberto De Zerbi, numa equipe de veia ofensiva. Ajudou a liderar as Gaivotas rumo à participação inédita na Liga Europa. De quebra, Caicedo disputou sua primeira Copa do Mundo. Não fez um torneio fora de série, mas deixou seu gol contra Senegal.
Quem lucra com o negócio
Se o Brighton quisesse vender Moisés Caicedo antes, teria feito um bom dinheiro em janeiro. A contratação do equatoriano foi pauta do mercado de transferências até a última semana da janela. O Chelsea já estava no páreo em busca do equatoriano, mas o Arsenal também via no jovem uma alternativa para encorpar seu elenco em busca do título da Premier League. No fim, nenhum acerto aconteceu. O Brighton sabia que poderia valorizar ainda mais seu talento, mesmo que Caicedo tentasse forçar sua saída. O volante chegou a publicar uma carta nas redes sociais, para que as Gaivotas o liberassem.
No fim das contas, as duas partes chegaram a um entendimento. Caicedo ficou inicialmente afastado do elenco, mas acabou reintegrado e, em março, assinou um novo contrato – recompensado com um salário maior. Enquanto isso, o Brighton mostrou para o meio-campista que seria melhor ele continuar no time e se destacar um pouco mais. Deu certo. Se naquele momento as propostas dos londrinos eram avaliadas em €60 milhões, bem abaixo dos €90 milhões exigidos pelas Gaivotas, o teto da negociação se elevou bem mais. Além do mais, o equatoriano de 21 anos pôde negociar um salário mais gordo para si.
O Brighton é um dos clubes mais rentáveis da Premier League no mercado de transferências. Nas últimas três temporadas, as Gaivotas chegaram à casa de €420 milhões em vendas. O atual mercado é abastado, também pelas saídas de Alexis Mac Allister rumo ao Liverpool e Robert Sánchez ao Chelsea. Antes deles, outros negócios graúdos foram feitos com Marc Cucurella (Chelsea), Yves Bissouma (Tottenham), Leandro Trossard (Arsenal) e Ben White (Arsenal). E o mais importante é como o bom desempenho se manteve independentemente dos nomes, sobretudo a partir dos bons trabalhos técnicos de Graham Potter e Roberto De Zerbi.
Na atual janela, o Brighton gastou quase €75 milhões em reforços. As Gaivotas garantiram as compras de João Pedro (Watford), Bart Verbruggen (Anderlecht) e Igor (Fiorentina), além de buscarem James Milner (Liverpool) e Mahmoud Dahoud (Borussia Dortmund) ao final de seus empréstimos. As perdas de dois talentos como Mac Allister e Caicedo causam impacto. Entretanto, a estreia na Premier League saiu melhor do que a encomenda, com os 4 a 1 sobre o Luton Town. O Brighton é gerido por Tony Bloom, torcedor do clube e de uma família com diferentes gerações de dirigentes dos alviazuis. O proprietário consegue sua margem de lucro, mas já indicou ser alguém que vai preservar sempre os interesses do clube. Prova disso está no jogo duro no mercado.
E quem também pega uma fatia gorda da transferência é o Independiente del Valle. Os negriazules, que continuam ligados a Moisés Caicedo através de seus empresários, mantinham 20% dos direitos econômicos do meio-campista. Com isso, €26,6 milhões serão redirecionados aos equatorianos. É um negócio de dimensões estratosféricas não apenas dentro do país, mas também comparando na própria América do Sul. Não deve significar loucuras dos equatorianos em busca de reforços, mas valoriza ainda mais a capacidade do clube em desenvolver talentos – uma aptidão que se reflete inclusive na seleção.
Como Caicedo chega ao Chelsea
Até pelo preço, Moisés Caicedo deverá se transformar numa figura central do Chelsea repensado por Mauricio Pochettino. É um meio-campista muito dinâmico, com qualidade para preencher a intermediária de área a área. De certa maneira, ocupa a lacuna deixada por N'Golo Kanté em Stamford Bridge – ninguém menos que seu ídolo na adolescência, em quem também se inspira em seu jogo. O equatoriano consegue cobrir grandes faixas do campo e tem pegada defensiva, fantástico nos desarmes, mas também contribui na construção de jogo e na condução para se livrar da pressão. Além disso, aos 21 anos, a margem de evolução é claramente enorme.
Caicedo, em teoria, chega para ser o volante titular do Chelsea ao lado de Enzo Fernández. Será uma das melhores duplas jovens do mundo, com tempo para se firmar em alto nível no clube. Os dois parecem se complementar muito bem, entre a intensidade de Caicedo e a criatividade de Enzo. Outras opções para o setor também são muito novas, a exemplo de Andrey Santos e Lesley Ugochukwu, dois garotos que agradaram na pré-temporada. A estreia contra o Liverpool na Premier League contou com Connor Gallagher ao lado de Enzo Fernández – e o argentino esteve entre os melhores em campo, numa atuação muito consistente.
O Chelsea ainda deverá buscar mais um reforço para a cabeça de área nesta janela de transferências – e, assim, dará outro balão no Liverpool. Segundo a imprensa inglesa, os Blues estão próximos de fechar com Roméo Lavia, volante de 19 anos que se destacou na temporada passada pelo Southampton. Os Reds estavam mais próximos de um acerto com os Saints, mas o jovem também prefere defender os Blues. A chegada de mais uma promessa para a faixa central parece até supérflua, considerando que os londrinos sequer disputarão as copas europeias na atual temporada. Contudo, a maneira como o Liverpool tentou vencer a concorrência por Moisés Caicedo parece ter mexido com os brios em Stamford Bridge.
O Chelsea contratou sete novos jogadores na atual janela de transferências. Outro reforço de peso foi Christopher Nkunku, uma grande perda pela lesão nesse início de temporada. Também vieram o goleiro Robert Sánchez (Brighton), o zagueiro Axel Disasi (Monaco) e o atacante Nicolas Jackson (Villarreal), todos titulares na primeira rodada da Premier League, enquanto o garoto Lesley Ugochukwu (Rennes) entrou no segundo tempo. Outro a se juntar aos Blues foi Ângelo Gabriel, mas o ex-santista foi emprestado ao Strasbourg, mais um clube de propriedade de Todd Boehly.
O Chelsea supera os €950 milhões gastos em reforços desde a temporada passada, quando passou a ser administrado por Todd Boehly. Já as vendas de jogadores representam cerca de um terço desse montante. Os Blues investem especialmente em jovens, que podem se valorizar e transformar a equipe num esquadrão. Além disso, com os contratos amortizados ao longo de até cinco anos, não é que os gastos incidem totalmente nos balanços atuais – o que evita um impacto imediato nas finanças. De qualquer maneira, o Fair Play Financeiro é um ponto de observação numa gastança nessas dimensões. Especialmente se os planos esportivos não se cumprirem, como ocorreu na ausência do time na atual Champions League.