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De todas, a ida de Alex Teixeira para a China é a mais difícil de entender

O êxodo de jogadores de ligas relevantes em direção à China alcançou um novo patamar nesta semana, quando o Shakhar Donetsk anunciou a venda de Alex Teixeira para o Jiangsu Suning, equipe que já havia tirado Ramires do Chelsea. Depois de fazer a rapa no futebol brasileiro, os chineses voltaram-se à Europa e estão levando bons jogadores, mas nenhum deles estava em um momento tão crucial da carreira quanto o ex-jogador do Vasco.

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Ao contrário de Jackson Martínez ou Gervinho, jogadores já testados em grandes ligas e próximos dos trinta anos, Alex Teixeira, 26 anos, estava prestes a dar o salto. Foi sondado por Liverpool e Chelsea, em janeiro, e muito provavelmente concretizaria uma transferência para a Inglaterra ao final da temporada. Com 22 gols em 15 partidas pelo Campeonato Ucraniano, começava a ser cotado para a seleção brasileira.

Em outras palavras, teria a chance de passar de um centro secundário para um dos principais da Europa, ganharia a chance de realizar todos os sonhos de um jogador de futebol hoje em dia (atuar em um grande europeu, disputar a Champions League, conquistar títulos e jogar uma Copa do Mundo). Mais ambição esportiva impossível.

O salário também seria excepcional, com a libra valendo quase seis vezes o real. Usando o Liverpool como exemplo, o clube que ficou mais próximo de contratá-lo em janeiro, Alex Teixeira provavelmente receberia um salário no patamar dos líderes da equipe. O mais bem pago é Christian Benteke, que leva € 180 mil por semana, aproximadamente € 8,6 milhões por ano.

Mesmo que ele chegasse ao Liverpool já no topo do ranking de salários, o valor seria provavelmente menor do que receberá na China. Fala-se em € 10 milhões, valor da primeira proposta chinesa que ele recusou, no final de janeiro. Ramires, contratado pelo mesmo Jiangsu Suning, receberá € 13 milhões anualmente. O inflacionado mercado inglês paga essas cifras aos seus principais jogadores – Rooney leva € 19 milhões por temporada -, mas não a recém-chegados da Ucrânia.

No entanto, ao contrário de Jadson e Renato Augusto, que receberam propostas financeiras inatingíveis para o futebol brasileiro, Alex Teixeira poderia ganhar o mesmo salário que receberá na China em alguns anos. Precisaria apenas continuar jogando bem, como pode fazer, e de um pouco de paciência. Os argumentos de qualidade de vida, de instabilidade do campeonato e dos dirigentes brasileiros, também não podem ser aplicados com a mesma força à Premier League.

Alex Teixeira estava crescendo, cumprindo as expectativas que pairavam sobre ele desde os tempos de Vasco e desenvolvendo o seu futebol. Não estava em declínio técnico como Martínez e Ramires. Muito pelo contrário. Tinha uma acentuada curva de crescimento e poderia ser convocado à seleção brasileira. “Neste momento, a Seleção ficará um pouco longe de mim”, admitiu. Trocou isso e todo o resto por um salário pouco maior do que receberia se fosse para a Inglaterra, como tudo indica que faria.

“Tudo aconteceu tão rápido que eu nem tive tempo de perceber (o que estava acontecendo”, afirmou Alex, que recebeu a ligação do seu empresário no aeroporto, preparando-se para viajar com o Shakhtar Donetsk, e fechou tudo muito rapidamente. “Todos sabiam que eu queria ficar na Europa e jogar em um clube da Premier League, mas infelizmente todas as propostas que chegaram eram meio vazias e não tinham nada concreto. Agora, recebi uma proposta séria da China. Claro que vou para lá”.

O Liverpool teve uma proposta inicial € 31 milhões recusada pelo Shakhtar Donetsk, segundo a BBC. A exigência do clube ucraniano era € 70 milhões, valor da cláusula de rescisão. Havia deixado implícito aos Reds que cederia mais na negociação a partir de junho porque não queria perder Alex Teixeira no meio da temporada em que briga pelo título nacional com o Dínamo Kiev e está nos 16 avos de final da Liga Europa.

No entanto, cedeu à proposta de € 50 milhões do Jiangsu, um negócio muito bom para o clube, que havia pagado apenas € 6 milhões para tirá-lo do Vasco, em 2010. Mas Alex Teixeira não precisava aceitar o negócio. Poderia ter batido o pé para ficar e ser negociado apenas no meio do ano. O Shakhtar, provavelmente, entenderia, e mesmo se não entendesse, não desvalorizaria um jogador com o qual poderia fazer tanto dinheiro deixando-o na geladeira ou se recusando a vendê-lo para outros clubes.

Tudo aconteceu muito rápido, como disse Alex Teixeira, e é possível que não tenha parado para pesar todos os prós e contras. Ele tem todo direito de fazer o que quiser com a carreira dele, e esperamos que seja muito feliz na China e não se arrependa da sua decisão, mas de todos os jogadores relevantes que foram atraídos pelos dólares que os chineses estão oferecendo, a ida de Teixeira é a mais difícil de entender do ponto de vista esportivo, e mesmo financeiro.

 

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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