Guardiola aponta culpados para tantas demissões de técnicos no futebol brasileiro
Em entrevista à "TNT Sports", técnico do Manchester City foi questionado sobre a alta rotação de treinadores no Brasileirão

Revolucionário e considerado por muitos o melhor técnico da história, Pep Guardiola fez seu diagnóstico da razão para tantas demissões de treinadores do futebol brasileiro em comparação a outros centros.
Na Premier League, apenas três profissionais foram despedidos na última temporada, enquanto no Brasileirão 2024 foram 20. Em entrevista ao repórter Fred Caldeira, do canal “TNT Sports”, o catalão usou seu caso no Manchester City como um exemplo positivo de apostar em um projeto a longo prazo.
Guardiola chegou a Manchester em 2016, mas não venceu títulos na sua primeira temporada. Porém, o que se viu nas oito temporadas seguintes foram diversos títulos ingleses (incluindo um tetra inédito em mais de 100 anos) e uma Champions League inédita, além de outras taças nacionais e internacionais.
— É impossível [um time ter a identidade de um técnico sem tempo para trabalhar]. No meu primeiro ano [no City], eu não ganhei. Se tivessem me demitido, não teríamos vivido os oito anos [seguintes] como vivemos. E agora não me demitiram nesta temporada porque ganhamos muito no passado — detalhou, também abordando sua má fase recente com uma vitória em 13 jogos entre outubro e dezembro de 2024.
‘Deveriam demitir os dirigentes': Guardiola critica gestões do Brasileirão
Segundo Pep, a maior culpa por tantas demissões no Brasil está nos executivos que contratam e despedem tantos técnicos, fato que os clubes deveriam se atentar.
O comandante dos Citizens ainda explicou a importância de entender o seu elenco, as características dos jogadores e identidade do técnico antes que um dirigente o contrate.
— Não sei a razão pela qual isso acontece [demissões no Brasil], mas os clubes também precisam pensar que, quando vivem uma temporada com três ou quatro treinadores diferentes, o problema é quem escolheu esses treinadores! Então deveriam demitir os dirigentes que escolheram esses treinadores. […] Saber qual razão é uma pergunta para os dirigentes brasileiros — disse.
— Quando se escolhe um treinador, deve-se saber que pode ganhar ou perder, mas joga por uma razão, porque vê que, com esse técnico e com as ideias que ele tem, coincide com a sua forma de gestão, com os jogadores que tem nesse momento, que a ideia pode funcionar. E se depois você vê que ele não trabalha, que é preguiçoso, o problema é seu [do dirigente] por ter contratado ele. É preciso saber a razão da contratação — completou.
Guardiola vê esse “resultadismo” como um mal em todas as áreas, não apenas no futebol, sendo obrigado a “vencer uma tríplice coroa” todo ano para que os desejos sejam realizados.
— Os outros 19 times da liga brasileira são fracassados e ruins? Nós estamos muito mal-educados no mundo todo, em que só o que ganha é quem tem triunfos. […] Parece que todo mundo precisa ganhar uma tríplice coroa por temporada para ter uma satisfação pessoal de uma vida. E isso acontece em tudo, não só no esporte, como também na política e em tudo. Penso que às vezes todos precisamos parar e pensar um pouco.
O City do técnico catalão vive agora outro momento de instabilidade e pode ficar de fora do mata-mata da Champions caso não vença o Club Brugge na última rodada, nesta quarta-feira (29). Isso o faz também exaltar as equipes que disputaram a competição ao invés de apontar culpados.
— No meu caso, o próximo jogo vale a classificação. Sei que, se a gente não conseguir, vamos dormir mal um ou dois dias e tudo mais, mas também penso que outros 24 times foram melhores que nós, que também merecem poder estar aqui, que fazem bem as coisas — finalizou.