Inglaterra

Gabriel Jesus e a pergunta que pode decidir a temporada da Premier League

O Arsenal realmente precisa de um homem gol para conquistar o tão sonhado título? Ou será que o cara já está lá, vestindo a camisa número nove?

Na neblina do inverno londrino, não ficou clara a resposta de uma pergunta muito importante na temporada da Premier League. Na busca do Arsenal para ganhar o título pela primeira vez desde 2004, qual é o verdadeiro valor de Gabriel Jesus?

Pela primeira vez em mais de um ano, o atacante brasileiro foi titular dos Gunners em três jogos consecutivos. Os outros dois foram contra o Crystal Palace, na Copa da Liga e depois no campeonato, e o Gabriel Jesus botou um fim enfático à seca com cinco gols

Mas não dá para jogar sempre contra o Palace. Na partida contra Ipswich, nesta sexta-feira (27), ele não deixou uma impressão tão boa, e foi retirado do campo faltando 20 minutos para acabar a vitória do Arsenal por 1 a 0. 

A dúvida persiste. O Arsenal realmente precisa de um homem gol para conquistar o tão sonhado título? Ou será que o cara já está lá, vestindo a camisa número nove, com o nome de Gabriel Jesus nas costas?

Gabriel Jesus reclama de lance do Arsenal contra o Ipswich (Foto: Imago)
Gabriel Jesus reclama de lance do Arsenal contra o Ipswich (Foto: Imago)

Gabriel Jesus tem uma carreira estranha

Lembro bem de estar no estádio Mineirão em 2016, assistindo a Gabriel e Neymar fazendo misérias com a defesa da Argentina. Parecia que a Seleção Brasileira não iria mais ter problemas com a posição de centroavante. A solução já estava lá, jogando com o Palmeiras e logo partindo para o Manchester City.

E realmente, o Gabriel Jesus já marcou quase 20 gols com a camisa do seu país. Mas tem um problema: somente um gol nos últimos cinco anos e meio.

É uma seca extraordinária. Desde a Copa América de 2019, o único gol internacional de Gabriel veio no acréscimo de um amistoso contra a Coreia do Sul em 2022, quando o Brasil já estava ganhando por 4 a 1. E não é por falta de oportunidades. 

Neste tempo, com amistosos, eliminatórias, uma Copa América e uma Copa do Mundo, o Gabriel Jesus entrou em campo 27 vezes, 16 como titular. Depois da sua última partida, em novembro passado contra a Argentina, ele chegou a declarar que “eu acredito que (fazer gols) não seja o meu ponto forte” — uma frase bizarra saindo da boca de um atacante, especialmente um que cedo na carreira mostrou um farol goleador.

Realmente, ele tem várias virtudes. Tem uma mobilidade muito boa, faz parte da elaboração das jogadas, pressiona muito bem os zagueiros adversários e trabalha forte na recuperação da bola. De onde veio, então, esse problema com o gol?

Acredito que tem muito a ver com a Copa de 2018, na Rússia. 

Num time ofensivo, o Gabriel não marcou um gol sequer, considerado uma vergonha para o centroavante da Seleção. O técnico Tite o culpou publicamente, declarando que deveria ter o trocado por Roberto Firmino durante o torneio, e deixando o Gabriel fora da próxima convocação. 

E a confiança do atleta nunca mais tem sido a mesma. Para alguém que cresceu pintando as ruas do seu bairro a cada quatro anos, fazer uma Copa tão decepcionante foi um baque muito forte. E parece que depois da Copa, o Gabriel começou a declarar uma preferência para atuar no lado do campo, fugindo da responsabilidade de ser o artilheiro.

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Gabriel Jesus disputou as Copas de 2018 e 2022 com a Seleção Brasileira, sem marcar gols (Foto: Imago)

A explicação dentro de campo

Tem uma outra explicação, menos psicológica. Pode ser que, no nível mais alto do futebol, falta ao Gabriel Jesus mais presença física na grande área.

O técnico do Arsenal, Mikel Arteta, parece ter pensado bastante sobre isso, e contra o Ipswich utilizou um esquema com o objetivo de sacar o melhor dos seus atacantes. Usou Gabriel como um nove, pronto para receber a bola por trás da linha da defesa — como aconteceu num gol seu invalidado por impedimento. 

Mas na fase de elaboração contra um bloco baixo, o Gabriel tem a liberdade para recuar, com Kai Havertz, mais alto, mais forte,  avançando para preencher o espaço.  E foi Havertz, com uma finalização de perto, que marcou o único gol da partida.

Isso vai ser a fórmula para a segunda metade do campeonato? Ou o Arsenal vai sentir a necessidade de ir para o mercado em busca de um goleador? A janela abre já…

Foto de Tim Vickery

Tim VickeryColaborador

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos do Tottenham Hotspur.
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