Foi sob o comando de Carlo Ancelotti que Lampard teve sua temporada mais artilheira pelo Chelsea
O ex-pupilo do italiano estará no comando dos Blues nesta terça-feira para encarar o Real Madrid nas quartas de final da Champions League

O destino marcou um confronto entre figuras gigantes do futebol europeu nesta quarta-feira. Em condições normais, Frank Lampard não estaria no comando de um quadrifinalista da Champions League, depois de um trabalho fraco à frente do Everton. Mas o Chelsea precisava dele para terminar a temporada e, além de ser uma boa oportunidade para restaurar um pouco da sua imagem como técnico, ele nunca conseguiria dizer não para o Chelsea. Reencontrará um habitué do mata-mata de competições europeias e um velho conhecido, o cara que conseguiu tirar a temporada mais artilheira da sua carreira como jogador: Carlo Ancelotti.
Lampard não teve a honra de enfrentar uma equipe treinada por Ancelotti quando calçava chuteiras. O italiano passou a maior parte da carreira do meia inglês à frente do Milan e, depois de comandá-lo em duas temporadas pelo Chelsea, trabalhou rapidinho no Paris Saint-Germain e chegou ao Real Madrid mais ou menos ao mesmo tempo em que Lampard se encaminhava ao crepúsculo, com aquele rápida passagem pelo Manchester City antes de jogar no New York City. Mas ambos passaram um bom período juntos no oeste de Londres entre 2009 e 2011 – e com grande sucesso.
A habilidade para marcar gols sempre foi um destaque do futebol de Lampard. É verdade que ele passou mais de uma década vestindo a camisa do Chelsea, mas não é comum que um meio-campista seja o maior artilheiro de um clube importante, que teve nomes como Jimmy Greaves (brevemente) e Didier Drogba em sua história. Marcou 211 vezes em 648 partidas, uma média excepcional para a posição. Por longevidade, o técnico que mais tirou gols de Lampard no geral foi José Mourinho. Nessa mesma época, em 2005, Lampard ficou em segundo lugar tanto na Bola de Ouro quanto no prêmio de melhor do mundo da Fifa.
Mourinho foi demitido, porque Roman Abramovich gostava de demitir técnicos, e Luiz Felipe Scolari não durou muito tempo como seu sucessor. Depois de um período com Guus Hiddink como interino, o Chelsea contratou Ancelotti, que estava na primeira prateleira de treinadores europeus, após conquistar a Champions League duas vezes com o Milan. Muitas vezes rotulado como mais conservador por ser da escola italiana, Ancelotti montou um dos sistemas ofensivos mais letais da história da Premier League e foi campeão com 103 gols marcados. O primeiro time da era moderna do Campeonato Inglês a ter um ataque centenário.
E ele soube muito bem como usar Lampard, aproveitando a experiência de ter tido vários meias que sabiam o que fazer ofensivamente no Milan. “No Milan, eu tinha jogadores ofensivos. Pirlo, Seedorf, Rivaldo, Kaká, Rui Costa. Eu tentei colocá-los em uma boa organização. Seedorf queria jogar atrás do atacante, mas eu o tornei um meia pela esquerda, no mesmo papel que Frank Lampard joga para nós aqui”, disse, em entrevista ao Daily Mail, quando estava à frente do Chelsea.
Ancelotti alternava as formações, entre um losango no meio-campo ou com a sua famosa árvore de Natal. Lampard até começou como o camisa 10 atrás do atacante, mas acabou sendo mais recuado depois, atuando pelos lados de um trio de meias centrais, geralmente ao lado de Michael Ballack e John Obi Mikel, com Deco na ligação e às vezes um sistema mais parecido com um 4-3-3 clássico, com pontas como Florent Malouda e Joe Cole ou Nicolas Anelka deslocado. O começo foi devagar. Marcou apenas uma vez nas nove primeiras rodadas, mas aquela aquela seria a Premier League em que mais faria gols, além de ser líder de assistências, com 14.
Lampard conseguiu dez temporadas consecutivas marcando pelo menos 10 vezes pela liga inglesa. Em 2009/10, chegou ao ápice, com 22 gols. É verdade que ter sido cobrador de pênaltis ajudou – foram dez da marca do cal. Mas ainda é uma marca impressionante, especialmente na reta final do campeonato. Marcou dez vezes nas últimas oito rodadas, com a direito ao segundo jogo de quatro tentos da sua carreira, em um 7 a 1 contra o Aston Villa. Era um momento em que o Chelsea atropelava todo mundo, e Lampard contribuiu a um 7 a 0 sobre o Stoke City e 8 a 0 contra o Wigan. No geral, colocou 27 bolas na rede e foi também sua temporada mais artilheira contando todos os torneios.
1995/96 – 0
1996/97 – 0
1997/98 – 6
1998/99 – 5
1999/00 – 13
2000/01 – 9 (última pelo West Ham)
2001/02 – 7
2002/03 – 8
2003/04 – 15
2004/05 – 19
2005/06 – 20
2006/07 – 21
2007/08 – 20
2008/09 – 20
2009/10 – 27
2010/11 – 13
2011/12 – 16
2012/13 – 17
2013/14 – 8 (última pelo Chelsea)
Olhando para os gols, há muitos com as suas tradicionais patadas de longa distância, mas também entrando na área como elemento surpresa, aproveitando os espaços que o esquema de Ancelotti criava para ele. Destaque para um golaço contra o Watford, com um chute cruzado que morreu no ângulo. Foi decisivo na caminhada na Copa da Inglaterra, que rendeu uma Dobradinha a Carlo Ancelotti, marcando nas quartas de final contra o Stoke City e na semi diante do Aston Villa.
Mesmo tendo ficado apenas dois anos no Chelsea, Ancelotti é o segundo técnico para o qual Lampard mais fez gols: 40 em 83 partidas. Ele ganha de nomes como Harry Redknapp e Claudio Ranieri, que treinaram a lenda em mais de 150 jogos, e perde apenas para Mourinho. Antes de encarar a Inter do português nas oitavas de final da Champions League de 2009/10, Lampard falou sobre as semelhanças entre os dois.
“A coisa que é similar em seus estilos como técnicos é que ambos constroem uma boa ligação com o time. Você sempre descobrirá que, se os treinadores tiverem essa ligação com os jogadores, eles tirarão o melhor deles. É muito importante que, quando trabalhamos, trabalhemos duro, e Ancelotti é muito forte nisso também. Quando estamos fora do campo, ele é alguém com quem você pode falar sobre qualquer coisa que quiser e você não tem medo dele. Todos no Chelsea se identificam com isso”, afirmou.
A temporada seguinte foi menos bem sucedida. Lampard e John Terry tiveram problemas com lesão nos primeiros meses, e Didier Drogba teve que lidar com uma malária. O Chelsea perdeu o título inglês para o Manchester United, não fez nada nas copas inglesas e parou nas quartas de final da Champions League. Impaciente, Roman Abramovich demitiu Ancelotti e interrompeu uma prolífica parceria que certamente renderá um caloroso abraço em Stamford Bridge nesta quarta-feira – como em 2020, quando Lampard era o comandante do Chelsea e Ancelotti estava no Everton.