FA quer mais Harry Kanes na Premier League. E tem novos planos para isso
Esta é a primeira vez em que Harry Kane participa da temporada da Premier League desde seu início. Ganhou sua primeira chance no Tottenham apenas em abrl do ano passado. Conseguiu se firmar, foi subindo de produção e, após 30 rodadas em 2014/15, é o artilheiro da competição, com 19 gols. Mostrando um excelente faro de gols, o atacante é apenas uma exceção em um sistema que não privilegia atletas criados nos clubes ingleses, mas a FA quer mudar isso, sobretudo para evitar que o país caia no esquecimento no futebol de seleções. E Greg Dyke, presidente da federação, acabou de apresentar propostas para que outros novatos surjam.
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Os planos têm bastantes pormenores, mas, resumidamente, buscam aumentar o número dos chamados “home grown players” (atletas registrados em clubes ingleses por um período de três temporadas ou de um ano e meio antes de completarem 21 anos) nos elencos da Premier League e tornar mais restritas as regras de admissão de jogadores extracomunitários.
Para a primeira, a ideia é aumentar a exigência atual de oito home grown players para 12, em um elenco de 25 jogadores. O processo de transição levaria quatro anos, começando a partir de 2016. Além disso, pelo menos dois desses 12 home grown players precisariam ser “treinados pelo clube”, estando registrados há pelo menos três anos, a partir.
“Precisamos fazer isso negociando com diferentes ligas e com os clubes. Precisamos convencê-los de que isso faz sentido para o futebol inglês. E somos ajudados pelo Harry Kane, para falar a verdade. Somos ajudados ao vermos um jovem garoto entrando nos Spurs e se tornando o artilheiro do futebol inglês. Quantos outros Harry Kanes estão por aí, nas categorias de base dos clubes da Premier League? Foi quase que por sorte que o Tim Sherwood se tornou o técnico do Tottenham por um momento e o colocou no time. Caso contrário, ele ainda estaria emprestado ao Milwall ou em outro lugar”, afirmou Dyke, em entrevista à BBC.
Já em relação à segunda parte, o plano é restringir as já duras exigências para contratações de extracomunitários. Embora os clubes sempre achem brechas para a regra atual, ela institui que os atletas precisam ter atuado em 75% dos jogos da seleção de seu país para ganharem a permissão para trabalhar na Inglaterra. A ideia de Dyke é mudar para exigências baseadas no ranking da Fifa. Se a seleção estiver no top 10, o jogador precisa de 30%. Se estiver entre a 11ª e a 20ª posições, 45%. Entre 21º e 30º, 60%, e entre 31º e 50º, 75%.
“Se você aplicar o sistema que estamos apresentando aos últimos cinco anos, um terço dos jogadores extracomunitários que chegaram não conseguiriam entrar. Não queremos impedir que jogadores de talento espetacular cheguem, mas há muitos jogadores comuns também”, comentou Dyke.
Danny Mills, ex-jogador da seleção inglesa e parte da comissão criada na FA por Dyke para a implementação de mudanças, também apoia essa restrição a extracomunitários. “Por volta de 95% dos vistos de trabalho são aceitos. Baseados em quê? Queremos o crème de la crème. Queremos os melhores jogadores, mas estamos começando a ter jogadores estrangeiros na segunda e na quarta divisões. Isso reduz o número de jogadores ingleses que podem surgir pelo sistema. Isso importa para o futebol inglês. Harry Kane é adorado. Os torcedores sempre terão afinidade com o cara local, com os jogadores ingleses. Isso estreita a distância entre estrela e torcedor, entre o excepcional e o normal. É importante que essa ligação permaneça”, afirmou Mills.
A grande dificuldade para a FA será convencer os clubes da Premier League a embarcarem na ideia. A federação precisará de pelo menos dois terços de aprovação das equipes. Interessada no desenvolvimento do futebol local, a instituição tem sua razão em querer que os clubes desenvolvam seus próprios atletas em vez de ter de recorrer a um francês, um belga ou um espanhol, como aconteceu nos diferentes ciclos recentes de “invasão inglesa” no mercado de outras ligas. Mas será que é a partir de limitações na entrada de estrangeiros que conseguirá isso? Seria mais efetivo (e atrativo) se desse motivações para que os clubes apostassem mais em suas categorias de base. Por que não trabalhar numa maior promoção de suas competições de base? Por que não reservar uma parte daquela bolada de dinheiro do novo acordo de TV para investimento em centros de treinamento para jovens atletas? A Federação Alemã, por exemplo, em conjunto com o governo, implementou novas instalações por todo o país para desenvolver melhor seus atletas e já tem tido sucesso colhendo os frutos disso.
Desde que assumiu a FA, Greg Dyke tomou como missão quase pessoal recolocar a seleção inglesa entre as grandes potências do mundo. O desenvolvimento de jovens atletas e a exigência de que os clubes tenham em seus elencos jogadores locais sempre estiveram presentes em seus discursos, mas ele precisará de argumentos mais atraentes para convencer os clubes a deixar de aproveitar de seu forte poderio econômico para dar chances a garotos que podem ou não dar certo. Até porque, com o novo acordo de TV, a tendência é que os ingleses sigam com ainda mais ímpeto (e mais dinheiro, claro) para contratar reforços de outros países. A discussão é necessária, mas saídas simples, como uma maior restrição a extracomunitários, não são as mais razoáveis.