Decano da Premier League, Hodgson recebeu bonita despedida no Selhurst Park após anunciar que deixará o Palace
O treinador de 73 anos, na estrada desde 1976, não quis cravar aposentadoria, mas disse que ficará um tempo afastado do futebol

Quando Roy Hodgson começou a sua carreira como treinador, a Apple havia acabado de ser fundada, John Lennon estava vivo e o brasileiro pagava contas com cruzeiros. Desde 1976, Hodgson passou pelos altos e baixos inerentes a uma carreira tão longa e que está prestes a terminar. E é bacana que a linha de chegada seja o clube em que tudo começou, no qual tentou ser jogador e para o qual torceu na infância. Isso aumenta o significado da bonita despedida que o decano da Premier League, treinador mais velho em atividade, aos 73 anos, recebeu no Selhurst Park, nesta quarta-feira, em seu último jogo em casa como treinador do Crystal Palace – que acabou perdendo para o Arsenal por 3 a 1.
Sem nos alongar em detalhes sobre quatro décadas e meia de profissão, Hodgson não foi bem na peneira do Crystal Palace e se tornou treinador antes dos 30 anos. Ganhou destaque no futebol europeu na Suécia, entre as décadas de setenta e oitenta, conquistando quatro títulos suecos, dois pelo Hamlstads e outros dois pelo Malmö. Depois de passar pela Suíça, chegou à Internazionale, pela qual foi vice-campeão da Copa da Uefa de 1996/97. Alcançaria o mesmo feito de maneira mais impressionante, por tê-lo feito no comando do Fulham, em 2009/10, o que o colocou no caminho das melhores oportunidades da sua carreira.
Nelas, ficou claro qual era o seu teto como treinador. Durou apenas seis meses no Liverpool, de muito, muito longe o técnico menos longevo da história do clube. O fracasso em Anfield não desencorajou a Federação Inglesa, que estava muito afim de ter um treinador inglês no comando da seleção após a experiência com Fabio Capello. E… não deu muito certo. Hodgson supervisionou a campanha vexatória da Inglaterra na Copa do Mundo de 2014 e a eliminação para a Islândia na Eurocopa de 2016.

Se não conseguiu dar um salto, a experiência e a estabilidade que oferecia, com campanhas sempre sólidas na Premier League por times como Blackburn, Fulham e West Brom, foram atraentes para o Crystal Palace, desesperado após a passagem desastrosa – e curta – de Frank de Boer. Foi um acerto. Hodgson garantiu quatro anos seguidos de Premier League para o Palace, geralmente com bastante folga e de vez em quando arrancando vitórias enfáticas contra equipes mais ricas. Montou uma defesa forte e um contra-ataque mortal, baseado nas qualidades de Wilfried Zaha, e ao longo do seu trabalho teve um dos melhores times da liga como visitante.
A sua saída deixa o Palace em um impasse. O clube havia se acomodado na estabilidade fornecida por Hodgson, ciente de que não seria rebaixado, mas que também não teria um time especialmente empolgante para apresentar aos seus torcedores. A decisão de quem será o próximo treinador será vital o seu futuro, e a especulação de que Frank Lampard seria o favorito é um indicativo de mudança de direção.
Hodgson não quis cravar a sua aposentadoria, mas confirmou que ficará pelo menos um tempo afastado do futebol. “Nunca se sabe. Dar declarações contundentes sobre aposentadoria é perigoso quando você ainda se sente bem. Eu certamente não estou deixando o Crystal Palace pensando em me colocar novamente no mercado por mais um emprego. Estou me afastando do futebol um pouco, mas ninguém sabe o que o futuro será. Eu vi muitas pessoas se aposentarem com pompa e circunstância, apenas para voltar em outro lugar pouco tempo depois. Eu prefiro não fazer isso. Estou ansioso para passar um pouco mais de tempo com minha esposa e meu filho e talvez ouvir o que eles querem fazer pela primeira vez, porque isso não aconteceu muitas vezes nos últimos 50 anos”, afirmou.
Respeitado por todos, elogiado pelos colegas, ao que tudo indica um cara muito legal, Hodgson foi recebido com muita festa em seu último jogo como treinador do time da casa do estádio que costumava visitar quando era criança. Havia torcedores nas arquibancadas, de volta para as últimas duas rodadas da Premier League, o que deixou o momento ainda mais especial. Recebeu a guarda de honra de jogadores de Arsenal e Crystal Palace e ouviu do povo: “Você é um dos nossos”.
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Roy Hodgson walks out at Selhurst Park as the manager of Crystal Palace for the final time ❤️ pic.twitter.com/5al0v6kUJC
— Football on BT Sport (@btsportfootball) May 19, 2021
Com a bola rolando, Gabriel Martinelli marcou aos 46 minutos do segundo tempo para arrancar a vitória do Arsenal, que havia aberto o placar, com Nicolas Pépé, aos 35 minutos da etapa inicial. Christian Benteke empatara depois do intervalo. Ainda houve tempo de Pépé ampliar para 3 a 1.
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