Com ou sem Kane para o futuro, vitória sobre o City teve um peso grande ao orgulho do Tottenham
Aconteça o que acontecer com Kane, o resultado do último domingo permite que o torcedor dos Spurs acorde de cabeça erguida nesta segunda-feira

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Não é a primeira vez que o Tottenham passa por esta situação – e, sinto dizer, dificilmente será a última. Aconteceu com Dimitar Berbatov, Luka Modric e Gareth Bale. Até com Christian Eriksen, em menor medida. Por mais que o torcedor dos Spurs esteja vacinado com grandes jogadores querendo ir embora, com Harry Kane parece um pouco diferente, e por isso é difícil quantificar o quanto a vitória sobre o Manchester City no último domingo foi importante para o orgulho do clube.
Kane atingiu um tamanho enorme dentro do Tottenham. Goleador mais letal da Inglaterra nos últimos anos, era também um exemplo de profissionalismo e comprometimento até se ausentar da primeira semana de treinos da qual deveria participar nesta temporada para forçar a transferência ao City. Não é apenas um dos capitães do time, mas também o da seleção inglesa. Entre a qualidade técnica e o que representa, é um jogador único aos Spurs.
A maneira como o processo tem sido conduzido também incomoda bastante porque, além da forçada de barra da semana passada quando Kane não se apresentou quando deveria, o City está ostentando o seu poder econômica no momento em que a maioria dos outros clubes conta os prejuízos da pandemia, ao mesmo tempo em que se recusa a pagar o que o presidente do Tottenham, Daniel Levy, exige pelo jogador – cerca de £ 150 milhões, segundo a imprensa inglesa.
O Tottenham, por outro lado, desembolsou um pouco mais do que isso, mas para pagar um empréstimo que havia contraído com o banco central do Reino Unido para cobrir suas despesas operacionais durante a pandemia. Ou seja, o montante que um deles precisa para manter as luzes acesas o outro reserva para transferências. Mesmo que o City acabe pagando menos do que os £ 150 milhões pedidos por Levy, a combinação entre Jack Grealish e Kane superaria esse valor.
A saída de Kane também seria o golpe mais simbólico do recuo do projeto esportivo do Tottenham, que atingiu o ápice com a final da Champions League de 2018/19. O torcedor esperava que seria apenas mais um degrau da escalada contínua ao longo da última década da hierarquia do futebol inglês, e não o último deles, como neste momento parece ser. O ciclo de Mauricio Pochettino chegou ao fim, José Mourinho foi um erro e agora há um novo trabalho promissor começando sob o comando de Nuno Espírito Santo, com um teto muito maior se contar com Harry Kane do que sem ele.
Porque a presença de Kane passa a esperança de que o time precisa apenas de uma ajeitadinha, um técnico que sabe o que está fazendo e um ou outro reforço para voltar para onde estava antes de duas temporadas seguidas sem disputar a Champions League e agora com o primeiro título desde 2007/08 parecendo cada vez mais longe. Sem ele, a readequação começará de um ponto mais baixo.
Ganhar do Manchester City sem Harry Kane não é exatamente uma novidade. O retrospecto do Tottenham é surpreendentemente bom nesse cenário: desde que Pep Guardiola chamou os Spurs de “o time do Harry Kane” em outubro de 2017, foram quatro confrontos sem a presença do capitão da seleção inglesa. O Tottenham venceu dois deles e uma das derrotas foi o 4 x 3 nas quartas de final da Champions League que acabou eliminando o City.
Não é uma questão de mostrar que há vida sem Harry Kane. O torcedor do Tottenham já esteve em situações muito piores do que esta, mesmo se vender um de seus principais líderes, e sabe que isso é verdade. Nem há uma pessoa racional que ache que um resultado isolado significa que o clube pode abrir mão de um jogador desse calibre sem perdas técnicas e simbólicas. Foi mais encaixar um soco de volta em um bully (esportivamente falando), o que permitiu que o apaixonado pelos Spurs acordasse de cabeça erguida nesta segunda-feira, independentemente do que acontecer com Harry Kane daqui para frente.