‘Visite o Tottenham’: O que está por trás do protesto da torcida do Arsenal exaltando o arquirrival
Grupo "Gunners for Peace" lança campanha contra patrocínio do clube e promete ações durante jogo no Emirates

Desde 2018, o Arsenal tem nas mangas de seu uniforme a mensagem “Visit Rwanda (Visite Ruanda)”, um patrocínio firmado por intermédio de Paul Kagame, presidente do país africano e torcedor dos Gunners. Do que depender de alguns adeptos do clube londrino, no entanto, essa parceria está com os dias contados no Emirates Stadium.
O grupo de torcedores “Gunners for Peace” pediu o fim do contrato de patrocínio e criticou veementemente as práticas do governo ruandês: “Este é o mesmo regime que financia uma milícia brutal com milhares de vítimas na República Democrática do Congo. Pensamos que qualquer coisa — literalmente qualquer coisa — seria melhor do que visitar Ruanda”.
Com intuito de derrubar tal acordo, o grupo lançou a campanha “Visit Tottenham (Visite Tottenham)”, fazendo uma irônica referência ao arquirrival do Arsenal. A justificativa usada pelos fãs dos Gunners ao “pedirem” para visitarem os Spurs é bem clara: “(Usamos o Tottenham) Porque qualquer coisa é melhor do que visitar Ruanda”.
Nesta quarta-feira (23), no jogo do Arsenal contra o Crystal Palace, membros do “Gunners for Peace” distribuirão braçadeiras pretas para os torcedores presentes no Emirates taparem a mensagem “Visit Rwanda” de suas camisas. Do lado de fora do Emirates, será exposto também um outdoor da campanha.
A partida, vale destacar, pode decidir o campeão da Premier League: se os Gunners perderem para os Eagles, o Liverpool conquista o título antes mesmo de enfrentar o Tottenham, no domingo (27). A diferença entre as equipes é de 13 pontos na tabela — 79 (Liverpool) a 66 (Arsenal).
.@Arsenal is a great club. We have standards.
— Gunners For Peace (@gunnersforpeace) April 22, 2025
Which is why Visit Rwanda needs to end. This is the same regime that's funding a brutal militia with thousands of victims in Eastern Congo. We think anything – literally anything – would be better than Visit Rwanda.
Even Tottenham pic.twitter.com/rngJhzBKq4
Paul Kagame e a atuação do grupo rebelde M23 no Congo
Em fevereiro, o governo do Reino Unido suspendeu o apoio à Ruanda e ao partido liderado por Kagame (Frente Patriótica do Ruanda — FPR), por conta do auxílio que este prestou ao grupo rebelde 23 de março (M23) na República Democrática do Congo.
Nas últimas semanas, o M23 intensificou suas operações militares na região, tomando, inclusive, Goma, maior cidade do leste do Congo. Segundo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado em fevereiro, mais de 700 pessoas morreram e outras 2.800 ficaram feridas em virtude desses conflitos.
O Relatório da Human Rights Watch (HRW) de 2023 acusa a FPR de promover a censura e a falta de liberdade de expressão no Congo: “(o partido) continuou travando uma campanha contra opositores reais e percebidos do governo” e que “mais de uma dúzia de membros da oposição política estão na prisão”.
Kagame foi eleito presidente de Ruanda pela primeira vez em 2010. Sete anos depois (2017), o mandatário acabou reeleito com 98,8% dos votos para seu sétimo mandato, segundo a Comissão Eleitoral Nacional de Ruanda. Na época, a HRW constatou que o pleito “ocorreu em um contexto de liberdade de expressão e espaço político muito limitados”.

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Visit Rwanda patrocina Arsenal, Bayern de Munique e PSG
“Visit Rwanda” é a agência de turismo oficial do governo ruandês, pertencente ao Conselho de Desenvolvimento de Ruanda. O Arsenal renovou sua parceria com a agência em 2021, por um valor de US$ 49,2 milhões. Firmado desde 2018, o patrocínio está presente nas camisas da equipe masculina e feminina.
Além dos Gunners, o “Visit Rwanda” possui acordos com Bayern de Munique e Paris Saint-Germain. Nesta terça-feira (22), inclusive, o clube francês anunciou a renovação da parceria até 2028. A prorrogação do vínculo faz com que a logomarca da patrocinadora siga estampando o uniforme de treino e de aquecimento do time masculino e a manga da camisa da equipe feminina parisiense pelos próximos três anos.
No início de fevereiro, a ministra das Relações Exteriores da República Democrática do Congo, Therese Kayikwamba Wagner, pediu para que os três clubes encerrem seus acordos de patrocínio “manchados de sangue” com o “Visit Rwanda”. Ela cita o apoio do governo ruandês a grupos rebeldes responsáveis por “estupros, assassinatos e roubos” em solo congolês.

“Esta campanha é para os torcedores do Arsenal no Congo”
— Queremos que a diretoria cancele o acordo a tempo para a próxima temporada. Agora que estamos recebendo jogos regulares da Liga dos Campeões, deve haver uma fila de patrocinadores prontos para assumir o lugar de Ruanda, e isso enviaria uma ótima mensagem de que algumas coisas são mais importantes do que dinheiro — disse James Turner, porta-voz dos “Gunners For Peace”, em entrevista ao “The Athletic”.
— Estamos em contato com os torcedores do Arsenal no Congo que se recusam a vestir a camisa até que este patrocínio termine. Esta campanha é para eles — concluiu.