Copa do MundoHolanda

Ataque decepcionou, Holanda perdeu… Mas há o orgulho

“Com um time em que mais da metade dos jogadores atua na Eredivisie, chegamos à semifinal. Podemos nos orgulhar disso.” Foi o que disse Dirk Kuyt à NOS, emissora pública de tevê da Holanda, após a derrota por 4 a 2 nos pênaltis, que tirou da Oranje a chance do título mundial, após novo empate em 0 a 0 nos 120 minutos. “Agora é muito difícil, mas precisamos parar e concluir que precisamos nos orgulhar inacreditavelmente do que alcançamos.” Essas palavras foram de Arjen Robben. “Esse time atuou fantasticamente.” Quem falou isso, após o jogo, foi Louis van Gaal.

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Orgulho. Alguns holandeses se cansam dessa palavra em relação a uma Copa do Mundo, após mais uma frustração. Foi o caso do jornalista Jaap Visser, por exemplo, que desabafou em seu perfil no Twitter: “Orgulho do time, orgulho dos rapazes, orgulho de nós mesmos, orgulho, orgulho, orgulho. Orgulho? Novamente, o jogo de consolo. Orgulho? Não”. De fato, deve ser chato para os holandeses ver a Oranje cair novamente num momento final. Mas também é claro, ao fim e ao cabo, que a equipe não tem do que se envergonhar pelo que fez no Brasil.

Mas deve-se reconhecer que a Holanda não jogou bem na Arena Corinthians, nesta quarta-feira. Claro que a Argentina não colaborou para isso, jogando também com a máxima cautela. No entanto, a Albiceleste trazia mais perigo com seus atacantes: Higuaín, Messi e Enzo Pérez – e Agüero e Palacio, quando entraram – não foram perfeitos nem decisivos. Mas criaram mais chances do que o ataque holandês. Se os argentinos não marcaram, isso se deveu às ótimas atuações de De Vrij e Vlaar, que surpreenderam positivamente (até o colunista) na Copa, com bom senso de antecipação e calma.

Até na boa partida da defesa holandesa, aliás, também é possível observar a mão de Louis van Gaal. O primeiro tempo mostrou o melhor momento do ataque dos comandados de Alejandro Sabella, principalmente pela esquerda, onde Daley Blind e Bruno Martins Indi não estavam bem. Van Gaal trocou Martins Indi por Janmaat, mandou Blind para o lado esquerdo do miolo de zaga, e as coisas melhoraram inegavelmente – até pela cautela cada vez maior dos argentinos.

Mas por que, então, a Holanda não jogou bem? Ora bolas, porque a defesa argentina também foi muito bem. Sabella foi, talvez, quem melhor tenha pensado num esquema para marcar Arjen Robben. Assim como Messi sempre estava cercado por três holandeses quando pegava a bola, o camisa 11 da Oranje nunca teve espaço para suas arrancadas, também. E quando tinha, sempre havia um defensor argentino para impedir seu último toque. Fosse Garay, fosse Demichelis. Ou até um volante, como Javier Mascherano, cuja atuação estupenda já foi esmiuçada à exaustão.

Robben, todavia, ainda tentou alguma coisa. Já Van Persie deu razão a todos que o criticaram por sua brusca queda de desempenho: foi apagado no jogo, sem trazer grande perigo no miolo de zaga. Tudo bem, provavelmente o atacante estava fora de suas melhores condições, e isso até motivou sua troca por Huntelaar. Mas podia ter trazido uma movimentação maior no ataque, sem dúvida.

Sneijder foi ainda mais decepcionante. O camisa 10 errou quase tudo o que fez: lançamentos, chutes, cobranças de falta… Sem seu trio de ataque funcionando bem, a Holanda também foi decepcionante durante os 120 minutos. O meio-campo até melhorou com a entrada de Clasie no lugar de De Jong (de atuação razoável, mesmo fora de suas melhores condições), mas a inatividade de Van Persie motivou sua substituição por Huntelaar.

E Van Gaal comentou sobre isso, que o impediu de usar a “alternativa Krul” tão falada após o jogo contra a Costa Rica: “Achei que era necessário tirar Van Persie. Ele estava morto de cansaço e não era mais capaz de fazer jogadas no ataque. Eu realmente teria trocado Cillessen se pudesse, mas não fiz isso”. Diga-se de passagem, medida justa. Assim como a aposta do sábado passado deu certo, manter o goleiro titular hoje deu errado. Acontece.

Assim como também acontece errar cobranças de pênalti. Não é por elas que Vlaar e Sneijder devem ser considerados vilões. E não serão – ainda mais Vlaar, que não só foi o melhor holandês em campo, mas também se colocou à disposição de Van Gaal, num momento difícil: “Antes de falar com Vlaar, eu perguntei a outros dois jogadores se queriam bater. Não quiseram. Na minha opinião, Vlaar era nosso melhor batedor. Infelizmente, perdeu”.

E o zagueiro falou, talvez, a frase mais justa da terça: “Honestamente, não tivemos uma chance realmente grande para marcar”. Aí, sim, Sneijder merece críticas. Até apareceu em alguns lampejos da Copa, como contra o México, mas não cumpriu direito o papel principal que lhe cabia: criar jogadas para Robben e Van Persie finalizarem. Com ambos também em baixa, a eliminação holandesa foi compreensível e justa.

A tristeza foi inevitável. Assim como a desmotivação já clara para a disputa do terceiro lugar. A frase de Van Gaal foi definitiva: “Jogos assim não deveriam ser realizados nunca. Não têm nada a ver com o esporte em alto nível. Você pode até fazê-los em jogos de categorias de base, mas nunca num torneio tão grande. O Brasil tem um dia a mais de descanso. E acima de tudo, há a probabilidade de perder duas vezes seguidas. Aí você chega à sua casa como perdedor, após um torneio fantástico. É muito frustrante. Ainda mais depois de atuações tão boas”.

Mas mesmo que esteja triste, dificilmente os holandeses terão má vontade com a seleção de seu país. Declarações como as citadas no início deste texto mostram que a Oranje sabe que fez mais do que lhe era pedido e previsto na Copa do Mundo. Por isso, e só por isso, ela já merece créditos. E provavelmente será recebida amistosamente em seu país, na próxima terça. Não com a mesma festa de outras nações. Mas terá uma sensação boa de dever cumprido. Até mesmo se perderem para o Brasil, que é quem chega com a maior responsabilidade no sábado.

Afinal, a Seleção não deu orgulho nenhum a seu país. A Holanda deu.

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