Blanc nunca pareceu a aposta certa para o Lyon e no fim não foi mesmo
O campeão mundial de 1998 era apenas um dos problemas mais amplos do Lyon - mas também não se ajudou muito

O Lyon surpreendeu quando contratou Laurent Blanc, 11 meses atrás, para substituir Peter Bosz. Era difícil ter certeza do que pretendia com o campeão mundial de 1998 porque ele havia treinado apenas o Al-Rayyan, do Catar, desde que deixara o Paris Saint-Germain. Parecia uma aposta em pura grife e, se foi, não deu certo. Embora os resultados não tenham sido péssimos no geral, um começo trágico de temporada, em meio a uma crise mais profunda, levou à saída de Blanc nesta segunda-feira, por “comum acordo”, segundo a nota do clube francês.
Contratado em outubro do ano passado, ainda pelo ex-presidente Jean-Michel Aulas, conseguiu uma guinada de resultados depois da paralisação da Copa do Mundo, mas foi insuficiente para levar o Lyon às competições europeias. Terminou em sétimo lugar, a cinco pontos de vaga na Conference League. Teve o quinto melhor aproveitamento após o torneio do Catar e o terceiro do segundo turno, mas sem um futebol convincente.
As sensações não melhoraram na pré-temporada. Se foram apenas jogos de preparação, o Lyon perdeu todos, menos para um time da terceira divisão holandesa. E as preocupações se estenderam para o começo da Ligue 1 com três derrotas e um empate com o Nice. Lanterna após quatro rodadas. No entanto, além dos resultados, as pauladas que levou em casa de Montpellier e Paris Saint-Germain deixaram uma péssima impressão.
Blanc balançava desde o começo da Data Fifa. Desde antes da goleada para o PSG, inclusive, que terminou com uma bronca pública da torcida aos jogadores pelo megafone. O novo dono, John Textor, havia dito que, apesar das dificuldades financeiras, o Lyon ainda tinha um time superior aos de muitos adversários e não deveria ter resultados tão ruins. Também puxou a orelha de Blanc, que havia dito, ironicamente, que a solução era simples: bastava trocar o treinador.
E foi isso que o Lyon acabou fazendo.
?? Olympique Lyonnais e Laurent Blanc decidiram, de comum acordo, encerrar a colaboração a partir de hoje. pic.twitter.com/helVnuGhms
— Olympique Lyonnais ???? (@OL_Portugues) September 11, 2023
A carreira de Laurent Blanc
Blanc é um personagem grande do futebol francês pelos títulos com a seleção na virada do século e, como jogador, vestiu camisas importantes, como as Barcelona, Internazionale, Manchester United, Napoli, Saint-Étienne e Olympique de Marseille. A carreira como técnico começou promissora ao encerrar a hegemonia do próprio Lyon conquistando a Ligue 1 em 2008/09 com o Bordeaux. Na temporada seguinte, chegou às quartas de final da Champions League e se credenciou para tentar limpar a bagunça deixada por Raymond Domenech após a Copa do Mundo da África do Sul.
Não foi bem sucedido nessa empreitada e deixou a seleção francesa na esteira de um fraco desempenho na Eurocopa de 2012. Transformou-se em um dos primeiros técnicos do projeto bilionário do Paris Saint-Germain, substituindo Carlo Ancelotti, e também em um dos primeiros a ser criticado por não conseguir fazer o clube francês praticar um futebol à altura do investimento ou ser competitivo na Champions League. O domínio doméstico foi quase absoluto. Em três anos, o único título que lhe escapou foi a Copa da França de 2013/14. Conquistou as duas edições seguintes, além do tricampeonato da Ligue 1, da Copa da Liga Francesa e da Supercopa da França. Na Champions, porém, empacou todas as vezes nas quartas de final e saiu em junho de 2016 para dar lugar a Unai Emery.
Desde então, o Al-Rayyan havia sido seu único trabalho até assumir o Lyon ano passado.
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Os problemas do Lyon
Blanc nunca pareceu uma boa escolha para treinar o Lyon, que tem produzido abaixo dos seus recursos faz tempo, mas nem de longe ele é o único problema do clube neste momento. A mudança de gestão, de Jean-Michel Aulas para Textor, não foi das mais suaves. A Direção Nacional de Controle de Gestão, órgão supervisor das finanças do futebol francês, decidiu sancionar o Lyon, após não ficar satisfeito com as garantias apresentadas pelo empresário americano, que precisou operar sua primeira janela de transferências de verão sob limitações.
Os negócios foram modestos, com um gasto total de aproximadamente € 20 milhões, e isso porque Textor aproveitou sua rede de clubes para contratar Ernest Nuamah, uma promessa ganesa do Nordsjaelland, pelo Molenbeek, da Bélgica, e depois emprestá-lo ao Lyon. Pela outra porta, as promessas Castello Lukeba e Bradley Barcola foram vendidas para RB Leipzig e PSG, devido à forte necessidade de arrecadar para equilibrar as contas.
O clima ficou ainda pior com a troca de farpas entre os dirigentes. Textor acusou Aulas de ter enterrado um aviso da Direção Nacional nos e-mails das negociações da venda e culpa a gestão anterior pela atual situação financeira. Aulas ameaçou processá-lo pelos comentários e o cutucou pelas vendas de Lukeba e Barcola.
Isso tudo culminou no maravilhoso protesto da torcida do Lyon na última rodada do Campeonato Francês antes da pausa internacional, quando um líder das arquibancadas pegou o megafone e soltou o verbo contra os jogadores, reunidos na entrada da área após a goleada por 4 a 1 para o PSG.
E agora quem assume?
O Lyon estava de olho em Graham Potter, treinador inglês que fez um trabalho ótimo no Brighton e não deu certo no Chelsea, mas o The Athletic publicou, ainda na semana passada, que ela rechaçou a abordagem. Segundo o L’Equipe, os favoritos são Gennaro Gattuso, demitido pelo Valencia em janeiro, Oliver Glasner, campeão da Liga Europa pelo Eintracht Frankfurt e também associado ao cargo vago da seleção alemã, e Habib Beye, comandante do Estrela Vermelha. A Sky Sports acrescente Jules Lopetegui, ex-Wolverhampton, Sevilla, Real Madrid e Espanha, à lista.