O fraco trabalho de Peter Bosz enfim acabou e o Lyon confia em Laurent Blanc como novo técnico
Blanc não dirige uma equipe relevante desde que saiu do PSG em 2016, mas renova os ares depois da estagnação com Peter Bosz

Peter Bosz durou no Lyon além de seu prazo de validade. Não era dessa temporada que o holandês fazia um trabalho insatisfatório nos Gones, abaixo das possibilidades do elenco. Porém, se mantinha no cargo, numa paciência incomum para os padrões do próprio presidente Jean-Michel Aulas. Neste final de semana, porém, o empate contra o Toulouse marcou a gota d'água e rendeu a demissão do veterano após pouco mais de um ano no cargo. E não demorou para que o OL acertasse com o seu substituto: assina com Laurent Blanc, um técnico de renome por suas passagens pela seleção da França e pelo Paris Saint-Germain – mesmo sem deixar saudades.
O Lyon apostou em Peter Bosz a partir do início da temporada 2021/22. Não era uma lacuna fácil de suprir, considerando que substituía Rudi García depois de um período relevante, em que os Gones alcançaram as semifinais da Champions em 2019/20 e disputaram o troféu da Ligue 1 até as rodadas final de 2020/21. O antecessor saiu em conflito interno, enquanto Bosz trazia como virtudes o estilo de jogo ofensivo e o trabalho com jovens talentos, características que se encaixavam bem no Estádio Groupama. Entretanto, deixava algumas dúvidas pela maneira como seus trabalhos se desgastaram no Borussia Dortmund e no Bayer Leverkusen.
Diferente do que aconteceu na Bundesliga, Peter Bosz nem conseguiu engrenar na Ligue 1. O treinador fez uma campanha morna, de meio de tabela, em que os Gones não garantiam grandes sequências. Alguns talentos individuais, sobretudo Lucas Paquetá, evitaram uma campanha pior no Francês. Mesmo assim, a equipe nunca entrou na zona de classificação às copas europeias e terminou numa insatisfatória oitava colocação. Já na Liga Europa, o OL até fez uma boa fase de grupos e eliminou o Porto nas oitavas, mas sucumbiu diante do West Ham nas quartas. Não era nada fora de série.
Apesar do desempenho abaixo das exigências, Peter Bosz ganhou um voto de confiança para 2022/23. Teria inclusive um elenco mais qualificado. Paquetá saiu, mas o Lyon conseguiu repatriar antigos pratas da casa, como Alexandre Lacazette e Corentin Tolisso. Nada que melhorasse o futebol. De novo, os Gones não engrenam na Ligue 1. Chegaram a fazer um início interessante, mas se aproveitando dos confrontos contra adversários mais fracos e da ótima fase de Tetê. Quando o caldo engrossou nas últimas rodadas, diante de oponentes mais fortes, o time sofreu três derrotas consecutivas até o empate com o Toulouse. A nona posição na tabela é ruim e não dá nem para colocar culpa no cansaço causado pelas copas europeias. A esperada demissão foi oficializada neste domingo, em meio a rumores de um racha com lideranças do elenco.
A contratação de Laurent Blanc é mais grife que confiança num trabalho recente. O ex-zagueiro possui enorme cartaz pelos tempos em que era uma figura de destaque na França campeã do mundo em 1998, experimentado em vários clubes de grandes ligas europeias. Como técnico, porém, não fez tanta coisa que justificasse as pompas. Seu melhor trabalho foi o primeiro da carreira, à frente do Bordeaux entre 2007 e 2010. Os girondinos foram exatamente os responsáveis por encerrar a hegemonia de sete títulos consecutivos do Lyon na Ligue 1, ao ficarem com o troféu em 2008/09. As duas equipes também se pegaram nas quartas da Champions em 2009/10, mas os Gones levaram a melhor. De qualquer maneira, o sucesso credenciou Blanc à seleção.
Não seria um bom momento para assumir a França, após o caos que imperou na Copa de 2010. Blanc até parecia retomar os rumos, mas igualmente conviveu com o racha no elenco que culminou numa opaca participação na Euro 2012. Deixaria o cargo logo após o torneio continental, substituído por Didier Deschamps. Mesmo assim, tinha reputação o suficiente para assumir o PSG em 2013, após a saída de Carlo Ancelotti para o Real Madrid. Conquistou três títulos da Ligue 1 consecutivos em seus três anos no Parc des Princes, mas amargou três eliminações consecutivas nas quartas de final da Champions – para Chelsea, Barcelona e Manchester City. Não se mostrou o nome mais adequado para o vestiário pesado dos parisienses. Curiosamente, sua melhor campanha no Francês foi a última das três, indicando que a dominância nacional não valia tanto.
Nos últimos seis anos, Blanc só teve um trabalho na casamata. O francês dirigiu o Al-Rayyan de 2020 a 2022. Teve um aproveitamento de menos de 50% dos pontos disputados e foi demitido em fevereiro de 2022, na nona colocação do Campeonato Catariano. Isso até o Lyon pensar no ex-zagueiro como uma solução aos seus problemas. Não é um técnico contratado por um estilo de jogo específico ou por algum momento especial nos últimos anos. É a vivência de futebol que o sustenta, o que talvez dê certo num elenco com seus medalhões. Mesmo assim, não é um cenário animador pela falta de rumo deixada por Peter Bosz.
O Lyon tem um elenco capaz de lutar pelo G-3 da Ligue 1, embora os principais talentos se concentrem do meio para frente. A questão é o tempo perdido, com o time já nove pontos abaixo da zona de classificação à Liga dos Campeões. A insistência em Peter Bosz se provou um erro caro demais. É ver se Blanc consegue gerar um impacto instantâneo. Não dá para esperar um salvador da pátria. Mas, diante da estagnação recente, pode sim garantir uma guinada que provavelmente nunca existiria com seu antecessor.