Gestão de crise: Mbappé e Griezmann aparam arestas sobre escolha do capitão
Griezmann ficou insatisfeito com escolha de Mbappé para capitão por se considerar herdeiro natural, mas os jogadores se acertaram em conversa privada
É raro uma seleção que consiga criar tantas confusões fora de campo quanto a francesa. Muitas vezes com razão, diga-se, mas é uma característica francesa que temos visto no noticiário atual. Com grande parte da população insatisfeita com a reforma da previdência proposta pelo governo e tem feito protestos constantes. Nos Bleus, vice-campeões do mundo, a insatisfação era de Antoine Griezmann sobre a escolha de Kylian Mbappé como capitão da França.
É importante lembrar o contexto. O capitão da França até a Copa do Mundo no Catar era Hugo Lloris, goleiro que decidiu se aposentar do futebol internacional. Com isso, abriu-se a questão: quem será o novo capitão? Antoine Griezman era um dos principais candidatos. Aos 32 anos, com três Copas do Mundo no currículo, só tem menos jogos nos Bleus que Olivier Giroud. Só que o escolhido foi outro: Kylian Mbappé, segundo anunciado pelo técnico Didier Deschamps, algo que gerou insatisfação em Griezmann.
“Kylian cumpre todos os requisitos para ter essa responsabilidade. Dentro de campo e com o elenco, por ser um elemento chave, um elemento de união entre os mais jovens ou até os mais velhos. Por isso fiz essa escolha, mas não foi em detrimento de Antoine porque Antoine também terá uma responsabilidade importante”, explicou Deschamps, em entrevista à Téléfoot.
Abriu-se uma pequena crise na seleção francesa com a insatisfação de Griezmann, que obviamente se sentiu preterido pelo técnico. Há uma sensação que todo mundo precisa agradar Mbappé o tempo todo e Griezmann, além de mais experiente, mais tempo de seleção francesa e ser um sucessor mais natural da braçadeira de Hugo Lloris, ainda tem sido um jogador também fundamental dentro de campo. Fez uma grande Copa do Mundo no Catar, ainda que Kylian Mbappé tenha brilhado ainda mais.
Dado esse cenário, e já com Mbappé escolhido, o novo capitão chamou Antoine Griezmann para uma conversa particular. Segundo o L’Equipe, o jogador do PSG explicou ao companheiro que entendia a sua decepção depois de não ter sido escolhido capitão, mas que contava com ele para ser um dos principais líderes do novo ciclo da seleção francesa. Mbappé considera que há outros jogadores, como o próprio Griezmann, que podem expressar liderança no elenco, mesmo sem vestir a braçadeira.
Depois da reunião, os dois saíram sorrindo e, aparentemente, deixaram a questão para trás. Até porque a insatisfação tinha feito até uma especulação sobre Griezmann estar considerando o seu futuro na seleção por isso. Griezmann é o jogador com mais assistências na história dos Bleus e, embora vista a camisa 7, ele atua como um camisa 10, por vezes sendo um típico meio-campista, embora seja um atacante de origem e atue assim no Atlético de Madrid.
Griezmann já é um jogador histórico da França. Estreou em 2014 e já foi para a Copa do Mundo daquele ano como titular. Levou o time também como o principal jogador à final da Eurocopa 2016, perdida para Portugal. Também foi titular e importante na conquista da Copa do Mundo em 2018 e na campanha do vice-campeonato em 2022.
A atitude de Mbappé, de conversar em particular com Griezmann, já é um bom sinal da liderança do atacante. Aos 24 anos, ele já deu muitos sinais de não ter medo de usar a sua voz, como quando brigou com a Federação Francesa por uma revisão no acordo de direitos de imagem ou mesmo quando contestou o então presidente da Federação Francesa, Noël Le Graet, que detonou Zinedine Zidane. “Zidane é a França. Nós nãos desrespeitamos a lenda desse jeito”, escreveu Mbappé no Twitter, em janeiro. Le Graët renunciou à presidência dois meses depois, afundado em acusações de assédio sexual e moral.
A França volta a campo nesta sexta-feira, dia 24, pelas Eliminatórias da Eurocopa 2024, em um jogo pesado contra a Holanda. Na segunda-feira, 27, a França enfrenta a Irlanda.