Parece inacreditável, mas o Aberdeen se tornou uma ameaça ao reinado do Celtic

Por Bruno Cassali*
Não é das situações mais comuns falar de futebol na Escócia e não ter Rangers ou Celtic no centro das atenções – ainda mais num domingo onde o Celtic fez seis a zero jogando em casa contra o Dundee. Mas a temporada 2015/16 reúne duas boas histórias paralelas a esses gigantes. E elas ficaram frente à frente na capital do país nessa tarde de domingo.
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O palco para Hearts x Aberdeen foi Tynecastle, histórico estádio de 1896, um dos símbolos da Edimburgo do final do século XIX. Não havia mais ingresso para a partida há 20 dias e a expectativa de grande público se confirmou: 16.702 presentes (ou seja, 96% de ocupação dos 17.420 lugares do estádio) fizeram do jogo o recorde de público dos Jambos na atual temporada.
A relação Hearts e torcida ganhou uma homenagem do clube nessa semana, com a terceira camisa do time trazendo 8000 nomes de torcedores que ajudaram os Jambos a não falir em 2013. Em mais um evento pra reforçar esse vínculo, quatro crianças da escola que fica ao lado do estádio foram recebidas pelos jogadores em campo e tiraram fotos com cada um dos 18 relacionados pelo Hearts. Para elas (e para o clube), os aplausos de todos nas arquibancadas.
O setor da “linha do trem” foi dividido ao meio para o confronto de domingo. Separados por 10m, torcedores dos Jambos e do Dons respeitaram-se durante todo o espetáculo.
Um espetáculo regido por um maestro. Niall McGinn, camisa 10 do Aberdeen, chamou a responsabilidade do jogo no primeiro tempo e decidiu o confronto em três atos. Logo aos oito minutos, foi ele que bateu escanteio pro primeiro gol de David Goodwillie no ano: 1 a 0 para os visitantes.
Na metade da primeira etapa, McGinn executou seu espetáculo solo. Ao receber lançamento na esquerda da área, driblou o zagueiro Augustyn ao dominar a bola e rumou em direção ao gol. Gingou e passou como quis por Ozturk antes de bater colocado, no ângulo de Alexander: Dons 2 a 0.
No desespero dos donos da casa em descontar, McGinn foi cirúrgico no contra-ataque. Aos 44 minutos, ele arrancou pela direita, deu uma meia-lua em Miguel Pallardó e apenas rolou para Goodwillie fazer seu segundo gol na partida. Uma atuação de gala do Aberdeen no primeiro tempo – e sem contar com seu artilheiro, Adam Rooney, poupado pelo técnico Derek McInnes.
A história da segunda etapa pode ser contada por muitos dos futebolistas brasileiros. Na pressão para descontar o placar, o Hearts achou um gol após confusão na área dos visitantes. O nome do autor: Igor Rossi.
Zagueiro de origem, bom porte físico e canhoto, Igor tem sido uma peça defensiva fundamental para o time de Robbie Neilson. O camisa 18 se mostra polivalente ao fazer com a mesma qualidade tanto a zaga quanto a lateral esquerda. Nesse domingo, com a suspensão do nigeriano Juwon Oshaniwa, Rossi jogou no lado do campo e passou trabalho pra conter o atrevido David Goodwillie.
O brasileiro, que fez carreira no Marítimo de Portugal antes de desembarcar em Tynecastle, fez seu primeiro gol com a camisa dos Jambos. A data perde um pouco de força histórica pela derrota dos donos da casa. Mas pode servir como pretexto pra manter Rossi entre os titulares quando o elenco defensivo do Hearts estiver completo no decorrer da temporada.
Pra um time que veio da segunda divisão, o início de cinco vitórias consecutivas era acima das expectativas. Por isso, a manutenção do 3º lugar ainda é o máximo que o Hearts pode fazer nessa edição do Campeonato Escocês. Não há motivos para se fazer terra arrasada por causa de três resultados negativos consecutivos. E a torcida dos Jambos sabe muito bem disso.
Já o Aberdeen supera o ritmo dos atuais tetracampeões na Scottish Premier League nesse início. São oito jogos e oito vitórias, transformando 2015/16 na melhor abertura de campeonato da história do Dons. O desempenho de hoje, ganhando num dos campos mais difíceis do torneio de forma convincente, demonstra que o Aberdeen vai lutar pra impedir o tão provável pentacampeonato do Celtic. A disputa pela SPL é a mais aberta possível. Resta torcer que siga assim até o final.
*Bruno Cassali (@brunocassali) é jornalista esportivo desde 2008 e atuou em coberturas esportivas no Rio Grande do Sul até novembro de 2014. Desde janeiro de 2015, mora em Edimburgo, capital da Escócia.