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Capitão do Rayo Vallecano renuncia braçadeira por não concordar com desmandos dos proprietários

"São muitíssimos motivos, mas o principal é não concordar com a metodologia e nem com o trato dado aos trabalhadores e aos torcedores", declarou Trejo, no Rayo desde 2017

A relação dos proprietários do Rayo Vallecano com o entorno do clube é bastante conflituosa. Enquanto os franjirrojos possuem uma identidade clara, o empresário Raúl Martín Presa muitas vezes virou as costas a essa ideologia. Basicamente, uma torcida identificada com movimentos antifascistas viu seu dono levar ao estádio elementos que flertam com o fascismo, além de diversos exemplos de má gestão. Os atritos com os principais grupos de ultras são intensos, com boicotes e protestos nos últimos anos. E tal queda de braço resultou numa postura emblemática de Óscar Trejo, digna de um ídolo. Por discordar do tratamento oferecido pelos proprietários rayistas a funcionários e torcedores, o argentino decidiu renunciar a braçadeira de capitão. Seu anúncio aconteceu neste final de semana e deixou clara sua visão.

“A braçadeira para mim nunca foi uma prioridade. Desde o dia em que conheci este clube e sua gente, soube que era meu lugar. Não sei por quanto tempo mais terei espaço, mas o que sei é o que quero. Enquanto estiver, quero me dedicar a aproveitar as partidas, os meus companheiros e a gente – a que está dentro e fora a cada dia, essa que faz o clube especial e é o seu melhor patrimônio”, declarou Trejo, em seu anúncio.

“Tinha essa ideia na cabeça faz um tempo e, depois de pensar bem, decidi deixar de ser o capitão. São muitíssimos motivos, mas o principal é não concordar com a metodologia e nem com o trato dado aos trabalhadores e aos torcedores. Que ninguém duvide que, do meu novo lugar, seguirei apoiando, defendendo e sobretudo cuidando para que esta seja minha casa. Seja de onde estiver, sempre um mais. Um forte abraço a todos”, complementou o veterano.

A idolatria de Trejo

Óscar Trejo está no Rayo Vallecano desde 2017. O meia formado pelo Boca Juniors rodou por diversos clubes espanhóis, entre eles Mallorca e Elche, enquanto teve uma passagem anterior por Vallecas em 2010/11. No entanto, seu elo mais forte se firmou a partir de sua segunda passagem, vindo do Toulouse. O armador soma 270 partidas pela equipe, com 40 gols e 25 assistências. Foi um símbolo nos últimos acessos e também nos sucessos mais recentes em La Liga.

Trejo voltou ao clube na segunda divisão, em 2017/18, e brilhou na campanha da promoção à elite. Não saiu mesmo com o rebaixamento em 2018/19 e disputou mais duas edições da segundona, até buscar novo acesso em 2020/21, com direito ao gol decisivo na final dos playoffs. Já nas duas últimas temporadas, o veterano de 35 anos foi um dos artífices do excelente papel dos rayistas na primeira divisão do Campeonato Espanhol, sob as ordens de Andoni Iraola. É uma liderança técnica e também anímica dos franjirrojos.

No entanto, segundo a imprensa espanhola, Trejo vinha sentindo os desgastes nos bastidores do Rayo. O argentino nunca deixou de expor publicamente sua insatisfação com a administração, enquanto mantinha uma postura ativa para tentar resolver os problemas internos. Segundo o site Relevo, o capitão estava cansado de lutar por melhores condições aos funcionários e não ver qualquer tipo de resposta do clube. Assim, como forma de protesto, por sentir que a braçadeira não tem significado, preferiu dar um passo para trás. Tal atitude de Trejo tende a ser valorizada pela torcida do Rayo. Óscar Valentín deverá ser o novo capitão.

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Os conflitos entre ultras e proprietário

O Rayo Vallecano é administrado pelo empresário Raúl Martín Presa desde 2011. O sucesso esportivo do clube no período é relativo, mas o proprietário é acusado de ignorar as raízes franjirrojas e os interesses da torcida, fincada num bairro operário de Madri. São inúmeras as disputas desde então, quase sempre com os Bukaneros, o principal grupo de ultras. Os episódios mais conhecidos aconteceram com a contratação de Roman Zozulya, ucraniano acusado de apoiar grupos neonazistas em seu país, e a presença de políticos do Vox, partido extremista espanhol, na tribuna de honra em Vallecas.

No último ano, também gerou revolta a contratação de Carlos Santiso ao time feminino, após a divulgação de áudios em que ele fazia piadas incentivando o estupro. A torcida do Rayo Vallecano se mobilizou para pressionar pela demissão. Protestos e boicotes contra Presa são recorrentes, com inúmeros jogos em que as arquibancadas acabaram esvaziadas nos últimos anos, da mesma forma como o dirigente tenta minar a presença dos ultras. Tornaram-se comuns bloqueios rigorosos no acesso da torcida, proibindo adereços e mesmo retardando as entradas dos rayistas.

Além disso, o Rayo Vallecano possui uma série de entraves trabalhistas com seus funcionários nos últimos anos, com um incômodo claro dos jogadores especialmente na forma como foram tratados durante a pandemia – colocados num plano de assistência governamental, enquanto o lucro do clube chegava às dezenas de milhões de euros. O clube também não se mostra muito interessado a valorizar seu produto. Nesta temporada, mesmo às vésperas da comemoração do centenário, o Rayo só lançou suas novas camisas e iniciou a venda de carnês de temporada dias antes do início de La Liga. O aumento no preço dos ingressos e os problemas nos sistemas de venda são outras reclamações recorrentes. Maneiras de Presa também atacar seus opositores, mesmo que prejudique o próprio negócio.

A esta altura, a permanência de Presa soa muito mais como capricho do que qualquer real compromisso com o clube. A posição do proprietário inclusive se enfraqueceu nos últimos anos, com a saída de outros dirigentes importantes do Rayo Vallecano. A maneira como Óscar Trejo lidou com a braçadeira deixa ainda mais expostas as feridas. E talvez conscientize mais gente que a queda de braço não se restringe apenas a ultras contra dono, como acontece em tantos cantos do mundo.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.

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