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A Itália aproveitou a decisão do bronze da Nations para valorizar talentos e aumentar as desconfianças sobre a Holanda

A Itália dominou o primeiro tempo e construiu a vitória cedo, sem que a reação da Holanda no segundo tempo evitasse a derrota

A decisão de terceiro lugar do Final Four da Liga das Nações é das ocasiões mais desimportantes possíveis do futebol, mas serve para os participantes não perderem a viagem num torneio de tiro curto. E a Itália acabou aproveitando a partida em Enschede, não apenas para levar o bronze, mas também para valorizar talentos. Roberto Mancini promoveu várias alterações no time e os novatos entraram em campo com vontade. Permitiram a vitória por 3 a 2 sobre a Holanda, com direito a um primeiro tempo soberano da Azzurra. Dimarco, Frattesi e Chiesa anotaram os gols. Do outro lado, a Oranje viveu uma decepção considerável na campanha. Teve espírito de luta, mas faltou qualidade e organização. Nem mesmo a equipe titular mantida por Ronald Koeman neste domingo auxiliou. Os holandeses só melhoraram na segunda etapa, a ponto de reduzir a diferença, mas não de indicar uma boa direção ao futuro.

Ronald Koeman manteve uma formação mais parecida com a das semifinais, com vários de seus protagonistas preservados. Justin Bijlow protegia o gol, com a zaga formada por Denzel Dumfries, Lutsharel Geertruida, Virgil van Dijk e Nathan Aké. O meio tinha Frenkie de Jong e Mats Wieffer na proteção. Xavi Simons era o responsável pela criação, com as pontas ocupadas por Donyell Malen e Noa Lang – este, a única novidade. Já o comando do ataque ficava com Cody Gakpo. Do lado da Itália, várias mudanças e chances a novatos. Gianluigi Donnarumma abria a escalação, com a defesa alinhada com Rafael Tolói (na lateral), Francesco Acerbi, Alessandro Buongiorno e Federico Dimarco. Marco Verratti, Bryan Cristante e Davide Frattesi formavam a trinca de meio. Já o novo ataque tinha Mateo Retegui, Giacomo Raspadori e Wilfried Gnonto.

Mesmo com tantas mudanças, entretanto, a Itália se mostrou muito mais organizada e objetiva. Vários dos novatos queriam mostrar serviço na decisão do terceiro lugar. E o primeiro gol demorou seis minutos para sair. Raspadori ajeitou a bola de calcanhar e Dimarco soltou uma sapatada cruzada, em bola fortíssima que entrou no alto da meta de Bijlow. O ala da Internazionale, de ótima temporada, ganhava novo reconhecimento. O chacoalhão não fez muito efeito na Holanda, com pouquíssima conexão. A mínima tentativa de resposta veio numa cabeçada de Van Dijk que ficou no meio do caminho.

A Itália se defendia com competência e seguia com mais escape no ataque. Foi mais contundente para ampliar a diferença aos 22 minutos. A tentativa de Gnonto foi travada, mas a bola espirrou na área com Frattesi. Ficou fácil para o meio-campista guardar seu primeiro gol pela seleção, depois da ótima apresentação nas semifinais contra a Espanha. Dimarco ainda quase anotou o terceiro, numa pancada de fora da área que passou triscando pelo travessão. A Oranje era nula do outro lado e nem fez Donnarumma sujar o uniforme. No máximo, Gakpo teve um tiro sem direção aos 40, ao ficar diante de Donnarumma.

Diante das claras necessidades, a Holanda precisava mudar. Foram três trocas na volta do intervalo: Wout Weghorst, Georginio Wijnaldum e Steven Bergwijn entraram, com as saídas de Malen, Geertruida e Lang. A equipe melhorou visivelmente e colocou a Itália contra a parede, com a Azzurra também mais contida. Gakpo quase descontou de imediato, numa batida que deu trabalho a Donnarumma no mano a mano. As tentativas se sucediam, mesmo que fossem bloqueadas – Dimarco foi providencial numa dessas. O volume de jogo era todo da Oranje, que também ganhou Teun Koopmeiners no lugar de Xavi Simons, enquanto Federico Chiesa e Nicolò Zaniolo tentariam melhorar os italianos nas vagas de Gnonto e Raspadori. Porém, merecidamente, os holandeses descontaram aos 23. Numa sobra, Bergwijn deu um corte seco na área sobre Dimarco e anotou o gol da equipe.

As esperanças da Holanda só não duraram muito. A Itália conseguiu o terceiro gol logo na sequência, quatro minutos depois, aos 27. Méritos de Chiesa, que precisou de pouco tempo em campo para fazer a diferença. Acionado por Frattesi na esquerda, o ponta acelerou, pedalou para cima da marcação de Van Dijk e chutou no canto de Bijlow. Tiro preciso, sem chances de defesa. Logo na sequência, Leonardo Spinazzola suplantou Dimarco e Joel Veerman entrou na vaga de Wieffer. E a Holanda ainda lamentaria um gol anulado aos 37, com Weghorst impedido na hora de mandar para as redes. As últimas trocas italianas aconteceriam pouco depois, com Lorenzo Pellegrini e Nicolò Barella nas vagas de Retegui e Verratti.

No apagar das luzes, a partida ficaria um pouco mais animada. A Holanda descontou novamente aos 44 minutos. O passe de Veerman veio forte, mas Wijnaldum conseguiu o domínio dentro da área e bateu no alto da meta para vencer Donnarumma. O barulho nas arquibancadas aumentava e os nove minutos de acréscimos garantiam a chance de reviravolta. Os holandeses apostavam nas bolas aéreas, mas os italianos tiveram uma chance de ouro para marcar o quarto num contra-ataque, para um chute torto de Pellegrini. A Itália, de qualquer forma, foi melhor para gastar o tempo em bolas paradas e deixar o relógio correr. Apesar do esforço, a Oranje se frustrou com mais uma derrota.

A Itália ainda tenta encontrar um caminho após se ausentar na Copa do Mundo, mas o processo de renovação empreendido por Roberto Mancini rende novas peças. Não se nega que a Azzurra ganha alternativas, mesmo que o 11 inicial tenha claramente perdido forças em relação à Euro 2020. Enquanto isso, a Holanda se mostra perdida. O início do trabalho de Ronald Koeman é ruim. Não é a geração mais inspiradora da Oranje, que ainda está desorganizada coletivamente com o novo técnico.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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