Numa Espanha que deixa a Euro com bons sinais ao futuro, Pedri é quem mais promete tomar conta da seleção
Pedri registrou um desempenho estupendo ao longo da Euro 2020, ainda mais pensando que só tem 18 anos

A Espanha se despede da Eurocopa com um saldo positivo. A Roja não entrou na competição na primeira prateleira de favoritos, após perder medalhões de outros tempos e sofrer algumas oscilações durante o atual ciclo. O time de Luis Enrique também esteve longe de empolgar no início da fase de grupos e gerou dúvidas sobre o seu potencial. No entanto, os espanhóis cresceram durante a competição e aproveitaram muito bem a qualidade de seu elenco para encarar a maratona de prorrogações nos mata-matas. Luis Enrique manteve a força do time com suas substituições e soube desamarrar jogos difíceis. Contra a Itália, os pênaltis derrubaram a Espanha, mas ainda assim o time foi superior nos 120 minutos de bola rolando. E num elenco que pode fazer mais no futuro, Pedri é a melhor notícia possível. Aos 18 anos, o meio-campista foi um dos melhores da equipe e deixa a sensação de que poderá protagonizar o país num futuro próximo.
O elenco da Espanha não é necessariamente o mais jovem da Eurocopa, mas poucos jogadores possuíam experiências prévias nas competições internacionais. Considerando o passado recente da Roja, com três grandes títulos quatro anos, é até estranho ver que apenas Sergio Busquets e Jordi Alba permanecem daquelas conquistas. Luis Enrique fez sua escolha ao priorizar o momento e também o rendimento em clubes menores, em detrimento aos astros de outrora. Até por isso, mais gente nova ganhou oportunidade na Euro 2020. E mais gente jovem.
A base titular da Espanha tem vários jogadores abaixo dos 25 anos. Dani Olmo foi um dos melhores do ataque, Ferrán Torres estrelou a vitória sobre a Croácia, Unai Simón se redimiu do erro, Mikel Oyarzabal foi uma boa opção vinda do banco, Eric García ajudou a arrumar a zaga. Outros atletas podem render mais do que se viu na Euro, como Pau Torres e Rodri. Ainda assim, num grupo com tantos futebolistas que buscam seu lugar ao sol na seleção, Pedri ganha de qualquer companheiro por sua precocidade. E sem sentir o peso da responsabilidade.
A própria temporada de Pedri mostrou como o meio-campista tinha uma maturidade acima do comum. O garoto trocou o Las Palmas pelo Barcelona depois de fazer uma campanha excelente com os canários na segunda divisão, mesmo completando apenas 17 anos durante o campeonato. No Camp Nou, muita gente poderia apostar que sua progressão se daria no máximo como reserva esporadicamente utilizado. Pelo contrário, o novato virou um dos melhores jogadores dos blaugranas e em diversos momentos se botou até mesmo como o sócio mais apropriado a Lionel Messi dentro de campo. Deu saltos e saltos na hierarquia do Barça, de promessa ao futuro para uma peça imprescindível ao meio-campo. Que os títulos tenham faltado no Camp Nou, isso não impediu que o camisa 16 logo pintasse na seleção.
Dentro da meritocracia de Luis Enrique, Pedri estreou em março de 2021. Não apenas ganhou minutos durante as Eliminatórias da Copa, como virou titular pelas boas atuações em partidas duras da Espanha. O time não empolgou naquela Data Fifa, mas o prodígio mostrou a que veio. Garantiu ali sua vaga na Eurocopa, embora tenha ficado no banco durante os amistosos preparatórios. Era apenas mistério de Luis Enrique, que logo botou o garoto no seu 11 inicial para a estreia da Euro e o utilizou em 629 dos 630 minutos disputados pela Roja ao longo da competição continental.
Sem Sergio Busquets, o homem de confiança de Luis Enrique, a Espanha começou a Eurocopa com uma trinca central composta por Rodri, Koke e Pedri. Mesmo com a qualidade técnica de Thiago Alcântara à disposição ou mesmo o bom trabalho de Fabián Ruiz, o menino virou o preferido do treinador. Não evitou a decepção contra a Suécia e a Polônia, mas ficava claro como auxiliava no ritmo da equipe e no estilo espanhol de posse de bola. Com a recuperação de Busquets, o adolescente não perdeu seu lugar diante da Eslováquia. E o time deu liga a partir de então, mais agressivo no ataque e mais consistente no meio. O camisa 26 brilharia naquela goleada, a ponto de ganhar o prêmio de melhor em campo.
Foi neste momento que Pedri caiu nas graças da seleção espanhola em definitivo. E o seu futebol cresceu durante a Eurocopa, formando uma ótima parceria com Busquets e Koke. O jovem ganhou mais liberdade para se aproximar da linha ofensiva e aproveitar sua leitura de jogo. Se a defesa espanhola entregava gols bobos nos mata-matas, compensava pela quantidade de tentos do outro lado. Pedri desempenhava um papel essencial nesta organização, com muita eficiência e precisão no campo do adversário. Criou oportunidades aos companheiros e primou inclusive nos lançamentos em profundidade.
Pedri foi bem diante da Croácia (apesar do gol contra) e realizou outro jogaço contra a Suíça. Já diante da Itália, seu trabalho na construção beirou a perfeição. Ao longo dos 90 minutos, o garoto não errou um passe sequer de 55 tentados. E não que fizesse apenas a parte burocrática, numa equipe espanhola que era mais agressiva que a italiana. Providenciava boas enfiadas de bola para a progressão de seus companheiros. Mais do que isso, auxiliava demais inclusive sem a bola, ao travar a saída dos adversários – sobretudo apertando para cima de Jorginho. Somente na prorrogação é que errou os dois de seus 67 passes tentados. Tal aproveitamento, contudo, não seria suficiente para valer a vitória. No fim, ficariam as lágrimas do guri, consolado por Thiago.
Na saída de campo, Luis Enrique seria apenas elogios ao seu pupilo: “Alguém percebeu o que fez na Euro um menino de 18 anos que chama Pedri? Isso nem Don Andrés Iniesta conseguiu. O que Pedri jogou nesta competição não se viu ninguém fazer com 18 anos de idade. É algo fora de toda a lógica. Fico encantado que subam no bonde de Pedri muitos mais”.
Alguns jogadores espanhóis deixaram a Eurocopa em alta, até pensando na Copa do Mundo de 2022. Aymeric Laporte foi o melhor da defesa, com Alba servindo de escape pela esquerda. No meio, Koke e Busquets corresponderam bem do alto de suas experiências. Já na frente, Dani Olmo foi a peça mais dinâmica. Ainda assim, Pedri é aquele que indica como o futuro pode ser brilhante. Se no Barcelona o meio-campista já se mostrava o herdeiro ideal à tradição do clube de sempre contar com um cérebro na faixa central, na seleção é aquele com potencial de virar um craque da geração ao longo da próxima década.
E tudo isso acontece muito cedo. Raríssimos são os jogadores de 18 anos que se tornam titulares absolutos de uma seleção tão bem servida de peças, justo numa grande competição. Mais escassos ainda são aqueles que mantêm um nível altíssimo ao longo do torneio, a ponto de ninguém questionar a falta de experiência. Tudo isso com demonstrações claras de maturidade e talento. A Espanha promete chegar mais forte na Copa de 2022, com tempo para se desenvolver e aproveitar esta base, por mais que Luis Enrique privilegie suas rotações. Dentre as certezas que ficam, é a de que Pedri deverá chegar no Catar com um moral elevado. E isso completando apenas 20 anos durante o Mundial.