Eliminatórias da Eurocopa

A Eslováquia passou por cima da Islândia e se confirmou na terceira Euro seguida

A Eslováquia teve muita segurança em seu grupo para garantir a vaga por antecipação, com grande vitória no confronto direto desta quinta

A Eslováquia não é vista como herdeira direta da Tchecoslováquia, mas teve bastante importância na história vitoriosa do antigo país. A conquista da Euro 1976, afinal, contou com sete titulares nascidos em cidades hoje eslovacas. E o legado se preserva nos últimos anos, com a representatividade da Eslováquia nas edições mais recentes da Eurocopa. Nesta quinta-feira, os eslovacos confirmaram a terceira participação consecutiva no torneio continental. A classificação foi selada com uma grande partida dos anfitriões em Bratislava, em que Lukás Haraslín comandou o triunfo por 4 a 2 diante da Islândia. Comemoração com uma rodada de antecipação, antes do embate já sem importância contra a Bósnia no próximo domingo.

A Eslováquia passou a contar com sua seleção independente a partir de 1994, após a chamada Revolução de Veludo, com uma cisão pacífica em relação à República Tcheca. A primeira aparição do novo país nas competições internacionais aconteceu na Copa do Mundo de 2010, numa campanha digna até as oitavas de final. Já a estreia na Eurocopa demorou um pouco mais, mas os eslovacos se tornaram assíduos desde então. Foram até as oitavas da Euro 2016 e ficaram pela fase de grupos da Euro 2020. Terão uma nova chance de fazer bom papel na Euro 2024.

É um momento importante para a Eslováquia especialmente após a aposentadoria de Marek Hamsik, grande símbolo da seleção nestas competições internacionais. Sem mais o meia, outras lideranças ascendem na equipe. A principal delas é o capitão Milan Skriniar, um nome respeitado por sua história na Internazionale e agora com a camisa do Paris Saint-Germain. A defesa está muito bem servida, aliás. Dávid Hancko (Feyenoord) e Denis Vavro (Copenhague) são outros bons nomes para o setor. Já no gol. Martin Dúbravka (Newcastle) segura as pontas.

O meio-campo é conduzido agora por outro ídolo do Napoli, Stanislav Lobotka, que segue os passos de Hamsik como referência da equipe. A faixa central também se vale de outros jogadores experimentados, como Juraj Kucka (Slovan Bratislava) e Ondrej Duda (Verona). Já na frente, um pouco mais de juventude. Lukás Haraslín (Sparta Praga) e Ivan Schranz (Slavia Praga) são destaques no país vizinho, enquanto Robert Bozeník desponta no Braga. Há outros jovens no setor, como Tomás Suslov (Verona) e Leo Sauer (Feyenoord).

No comando técnico, a Eslováquia fez uma aposta diferente a partir de 2022. A seleção deu uma chance a Francesco Calzona, italiano que nunca tinha trabalhado como técnico principal. O currículo recheado, no entanto, guardava momentos como assistente de Maurizio Sarri, inclusive no Napoli. Voltou depois aos celestes mais recentemente em 2021/22 e era o braço direito de Luciano Spalletti, até aceitar o convite dos eslovacos antes da temporada do Scudetto. É um velho conhecido de Hamsik, que continua por perto – o antigo capitão agora faz parte da comissão técnica da seleção. Ainda pode auxiliar no ambiente.

A classificação

A Eslováquia passou longe de disputar uma vaga na Copa do Mundo de 2022, bem atrás na terceira colocação de seu grupo, que teve a Croácia na ponta e a Rússia barrada da repescagem. Mesmo na Liga das Nações o time eslovaco não chamou atenção, com a terceira colocação numa chave da Liga C, que teve Cazaquistão e Azerbaijão à frente. Não à toa, a mudança de técnico aconteceu na esteira dos resultados ruins. Stefan Tarkovic, que dirigiu o time na Euro 2020, deixou o comando. Francesco Calzona ofereceu novas perspectivas.

A Eslováquia compôs um grupo nivelado por baixo nas eliminatórias da Eurocopa. Dá para dizer que os eslovacos deram muita sorte no sorteio, já que figuravam apenas no Pote 5. Ainda assim, o time só não conseguiu competir com o líder Portugal, que venceu os dois confrontos. Nos outros jogos, a Eslováquia somou seis vitórias e um empate até aqui. Até deu mole na estreia, com o empate por 0 a 0 em Trnava contra a ascendente equipe de Luxemburgo. De resto, só triunfos contra os concorrentes diretos. Ganhou as duas da Islândia e também de Liechtenstein. Bateu a Bósnia em Bratislava. Também arrancou um importante 1 a 0 na visita a Luxemburgo. Em nove partidas, o time não sofreu gols em cinco, com a defesa fazendo a diferença.

Nesta quinta-feira, a Eslováquia poderia garantir a classificação antecipada em Bratislava, no confronto direto com a Islândia. Só a vitória interessava aos nórdicos, enquanto o mero empate carimbaria o passaporte dos eslovacos. Fizeram até mais do que isso, com a virada por 4 a 2. A Eslováquia era melhor de início, mas a Islândia anotou o primeiro gol aos 17 minutos. Numa bola alçada por Victor Pálsson, Orri Óskarsson se infiltrou na área e definiu de cabeça, surpreendendo Dúbravka. Em meio à pressão, os eslovacos mereceram a virada no primeiro tempo. Juraj Kucka empatou de cabeça, aos 30, após um escanteio cobrado por Lukás Haraslín. Já a virada pintou aos 37, num pênalti sofrido e convertido por Ondrej Duda.

O início de segundo tempo arrasador da Eslováquia consolidou o resultado. Haraslín arrebentou, com ambos os tentos. O primeiro foi um golaço, aos dois minutos. O ponta arrancou do meio do campo e passou por dois marcadores, entortando o segundo num slalom antes do potente chute cruzado. Já aos dez, Haraslín assinalou mais um, num lance de velocidade. Cortou na diagonal e bateu rasteiro, com colaboração do goleiro Elias Ólafsson. A Islândia demorou a acordar e só descontou aos 30, num escanteio que Andri Gudjohnsen (filho de Eidur e neto de Arnór) mandou para dentro. De qualquer maneira, a tendência era de que os eslovacos fizessem até o quinto.

A Eslováquia fica com 19 pontos no Grupo J, atrás apenas dos 27 pontos de Portugal, com 100% de aproveitamento. Sem mais chances via grupo, Luxemburgo se isolou na terceira posição com 14 pontos, com a Islândia logo atrás somando dez e a Bósnia parada com nove pontos. No entanto, como a pontuação do grupo não interfere na repescagem via Liga das Nações, estes times terão uma sobrevida. A Bósnia disputará a repescagem da Liga B da Nations, que ainda pode contar com a Islândia. Já Luxemburgo está confirmado na repescagem da Liga C. O formato será em três “Final Four”, com semifinal e final em jogos únicos. O vencedor de cada liga se garante na Euro.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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