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Coletivo foi trunfo da Juventus que amassou Barcelona de forma incontestável

Às vezes ouvimos que um time taticamente bem montado é coisa de quem não tem talento. Que quando há craques, a tática é menos importante. Uma afirmação como essa nunca seria feita por um italiano. E um time italiano mostrou a união de tática, técnica e precisão. A Juventus de Massimiliano Allegri foi monumental contra o Barcelona. Contra os craques do clube da Catalunha, mostrou preparo em todos os aspectos. Venceu por 3 a 0 no jogo de ida das quartas de final, em Turim, e poderia ter feito até mais. Foi a sobreposição de um grande time sobre um time de craques. E com um grande nome: Paulo Dybala.

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O argentino, de 23 anos, fez dois gols em pouco mais de 20 minutos de partida. Golaços, que mostram a sua capacidade goleadora, com chutes de precisão e jogadas bem trabalhadas. O Barcelona tinha Lionel Messi, Luis Suárez e Neymar, mas em campo, parecia que era cada um por si. Não por culpa deles. A Juventus, muito bem posicionada, não dava espaço. Mas não pense que a Juventus entrou em campo para marcar. Entrou para jogar e assim o fez desde o apito inicial, pressionando forte e mostrando um preparo físico, tático e até menta.

A Juventus teve uma chance clara logo no começo. Logo a dois minutos, Pjanic cobrou falta para a área e Higuaín tocou de cabeça, livre no meio da área, mas de olhos fechados e no meio do gol. Ter Stegen defendeu em dois tempos. Alguns torcedores da Juventus podem ter sentido um calafrio. Higuaín perdendo uma chance clara em jogo decisivo, e tão cedo? Nada mais do que uma impressão, dissipada minutos em seguida.

Aos sete minutos, Juan Cuadrado fez a jogada pela direita, tocou para Dybala dentro da área e o argentino fez um movimento ágil e surpreendente. Ele estava de costas para o gol, dominou, girou com muita velocidade e tocou no cantinho. Impossível para o goleiro Ter Stegen defender. A defesa do Barcelona deu bobeira deixando o camisa 21 da Juventus sozinho. Camisa 21, aliás, que um dia foi usada por Zinedine Zidane.

Com o jogo muito fechado, Messi fez das suas aos 20 minutos. Dominou a bola na intermediária e achou um passe perfeito para Iniesta, que se projetou às costas da zaga e tocou no canto, de primeiro. Buffon fez uma defesa monumental e impediu o gol. Eis, aqui, um daqueles sinais que os torcedores mais supersticiosos já sentem: nem quando o maior craque do time – talvez o maior da história do clube – faz uma jogada genial que deixa outro craque na cara do gol o time marcou. É, ao menos, simbólico.

Um minuto e meio depois, a Juventus que foi ao ataque e não perdoou. A bola saiu das mãos de Buffon em um contra-ataque rápido nos pés de Madzukic, que tocou para trás, rolada perfeitamente para Dybala. O argentino bateu firme de pé esquerdo, no canto, sem chance para Ter Stegen: 2 a 0 Juventus. Mais um golaço da perna esquerda talentosa do atacante da Juve. Mais uma daquelas sensações para o torcedor: se para o Barcelona, nem com jogada genial algo dava certo, na Juve bastou acertar um pouco para fazer dois gols.

Dybala comemora o segundo gol da Juventus (Photo by Mike Hewitt/Getty Images)
Dybala comemora o segundo gol da Juventus (Photo by Mike Hewitt/Getty Images)

Sabendo do estilo do Barcelona, a Juventus viu o adversário ter mais a posse de bola e trabalhar de um lado para o outro, tentando encontrar espaço balançando a defesa da Juventus. Chegamos a ver uma cena curiosa, com Manduzkic, um centroavante típico, marcando Messi até a linha de fundo, protegendo a bola e encarando o rival. Um dos sinais do que a Juventus de Massimiliano Allegri é capaz de fazer: dedicação de todos os jogadores, o tempo todo.

Com o apito final do primeiro tempo, Luis Enrique deve ter coçado a cabeça. A sua escalação não funcionou. Mascherano fez um péssimo primeiro tempo, mal na distribuição do jogo. Com o time ficando mais tempo com a bola que o rival, era preciso construir mais. O português entrou para fazer a função. A substituição levou o Barcelona a uma formação mais tradicional, com Sergi Roberto guardando mais a posição como lateral direito, Macherano recuado para a zaga e Umtiti, o outro zagueiro, deslocado para a lateral esquerda. Assim como Mathieu, é mais marcador.

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Só que o início do segundo tempo foi muito parecido com o primeiro. Aos oito minutos, uma bobeada da defesa, Higuaín recebeu lançamento livre, mas a demora para virar já tirou um pouco do ângulo. Ele chutou forte para defesa de Ter Stegen. Higuaín, que vinha livre pelo meio, ficou enfurecido. A Juventus sufocava o Barcelona com uma marcação que deixava o time de Luis Enrique muito desconfortável.

O terceiro gol ainda sairia, mas de outra forma. Em um escanteio, aos 10 minutos, Miralem Pjanic cobrou de pé direito na segunda trave, Giorgio Chiellini deu uma cabecada no canto, baixo, novamente deixando Ter Stegen sem ter o que fazer. O placar indicava 3 a 0. Implacável. Incontestável. E ainda tinha muito jogo no segundo tempo. A Juventus, claro, recuou. Mas continuou sendo perigosa.

O Barcelona teve posse de bola, mas pouca efetividade. A Juventus parecia exatamente o que fazer em campo. O Barcelona não. O jogo do time catalão, que tantas vezes nesta temporada teve em seus craques o caminho da vitória, desta vez viu os seus três atacantes morrerem de fome no ataque. O time não conseguia ir bem. O meio-campo, sem Sergio Busquets, sentiu muito a falta de alguém para construir o jogo. Cabe aqui falar também de Iniesta, outro que esteve longe do seu futebol. Rakitic, outro que faz má temporada, e André Gomes, foram improdutivos.

Messi e Neymar, do Barcelona (Photo by Emilio Andreoli/Getty Images)
Messi e Neymar, do Barcelona (Photo by Emilio Andreoli/Getty Images)

Na Juventus, os destaques são muitos. Falar de Chiellini e Leonardo Bonucci é chover no molhado: uma zaga de dois jogadores que estão entre os melhores do mundo. Buffon é um dos melhores, se não o melhor goleiro do mundo em atividade. Mas há outros pontos a serem destacados: Daniel Alves e Alex Sandro, pelas laterais, vão muito bem. E não só no ataque, como é típico de laterais brasileiros: também no posicionamento. Isso, claro, tem a ver com a mecânica do time. Cuadrado, pela direita, ajuda na marcação até o fim, ajudando Daniel Alves. Manduzkic, pela esquerda, faz o mesmo com Alex Sandro.

Quando chegamos ao meio-campo, a Juventus tem um jogador que aparece pouco, mas brilha sempre e muito: Sami Khedira. O volante é participativo, defensiva e ofensivamente. É dinâmico, ágil, tem um bom preparo físico e bastante técnica. Pjanic é um meia ofensivo de origem que joga recuado. Dybala é, cada vez mais, o dono deste time da Juventus. Higuaín, mesmo em um dia que não vai tão bem como neste jogo com o Barcelona, teve duas chances claras – poderia ter saído consagrado de campo. Os méritos de Massimiliano Allegri, o técnico, são gigantes. É preciso reconhecer.

Vale aqui lembrar que o Barcelona não fez as três alteração que tinha direito. Luis Enrique não fez as alterações. Vale aqui lembrar que o Barcelona gastou 120 milhões de euros para reforçar, basicamente, o seu banco de reservas. Mesmo assim, não tinha opções de jogo. É verdade que Rafinha, que vinha ganhando espaço no time, acabou fora, machucado. O mesmo com Arda Turan, outro que poderia entrar e ser importante em um jogo como este contra a Juventus. Mesmo assim, o time tinha Paco Alcácer, jogador no qual se gastou muitos milhões de euros para não ser uma opção em um jogo que o time precisava marcar um gol desesperadamente.

A virada do Barcelona no Camp Nou é mais do que improvável. Não é impossível, porque o futebol não gosta dessa palavra, mas a diferença da Juventus para o PSG é gigantesca em todos os aspectos. A começar pela tradição, camisa, experiência. O time tem alma. E tem um técnico que trabalha já há algum tempo na Juventus e sabe ler o jogo muito, mas muito bem. Para o Barcelona evitar a eliminação, precisará de mais que um milagre. porque o milagre já aconteceu contra o PSG.

Assista abaixo os melhores momentos do jogo. 

Jogadores da Juventus comemoram  (Photo by Mike Hewitt/Getty Images)
Jogadores da Juventus comemoram (Photo by Mike Hewitt/Getty Images)
Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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