Champions League

Como a força do vestiário fez Pioli ser blindando no Milan e levou à vitória contra o PSG

Com Maignan e Theo Hernández como líderes, o time do Milan se uniu em torno de Pioli e conseguiu uma necessária reação para seguir vivo no grupo da morte

A vitória do Milan sobre o Paris Saint-Germain por 2 a 1 na terça-feira (7), pela Champions League, teve o protagonismo de líderes importantes do elenco antes, durante e depois do jogo. Nomes como Mike Maignan, goleiro que se apresentou em julho de 2021, não gostam de falar ou dar entrevista. Mas foi o goleiro que esteve ao lado de Stefano Pioli na entrevista coletiva na segunda-feira à tarde, na prévia do jogo contra os parisienses. Não foi uma escolha aleatória, também não foi direcionada pelo fato de Maignan ser um francês antes de um duelo contra o clube francês. Foi um pedido do goleiro, o que é raríssimo. E é uma das razões que explicam o triunfo dos rossoneri.

Maignan é um líder silencioso, ao menos em relação ao exterior. Maignan fala bastante, mas em campo. Fora de campo, ele tanto não gosta de falar que a última entrevista coletiva que o jogador tinha participado antes de terça-feira foi na sua apresentação como jogador do clube, em julho de 2021. O goleiro francês foi à coletiva para mostrar apoio ao técnico. Algo que os líderes do elenco consideraram importante diante de um momento de tanta pressão. Mais do que isso: era para reforçar algo que é muito falado internamente: o trabalho duro está sendo feito e o grupo confia em Pioli.

Foi por isso também que Theo Hernández, outro líder do elenco, apareceu depois do jogo para falar. “Trabalhamos bem e é por isso que a vitória veio”, ele disse logo depois da partida. Foi um desabafo. Theo é outro que não é de dar entrevistas. Ele sentiu a necessidade de falar, voluntariamente, para mostrar que o elenco está trabalhando e há confiança em Pioli. O relato da Gazzetta dello Sport deixa claro: os jogadores compraram a briga por Pioli e queriam fazer o técnico sair por cima de um momento de pressão.

“Acredito que muitas vezes a maneira como o time conversa entre si é mais efetiva do que as palavras do treinador. Às vezes não éramos tão enérgicos, determinados e focados. Apenas tentei relembrá-los de suas qualidades, suas capacidades e que eles poderiam oferecer isso à torcida hoje. Claro que eu gostaria de ver o Milan sempre assim. Erramos contra a Udinese, mas o time tem esse espírito. O PSG jogou bem e teve mais posse de bola. Tivemos oportunidades de marcar mais gols do que fizemos, por isso foi apenas um pequeno passo”, analisou Pioli depois do jogo.

Momento ruim e pressão sobre Pioli foram motivações

A noite de terça-feira era crucial. O time vinha de quatro jogos sem vitória, sendo três derrotas, uma na Champions League e duas em casa pela Serie A, incluindo o clássico contra a Juventus. A situação na competição europeia era difícil, com o time cada vez mais distante de uma vaga nas oitavas de final e sem sequer ter feito um gol.

A derrota para o Udinese, três dias antes do jogo contra o PSG, deixou um sinal negativo. Tudo isso deixava o técnico Stefano Pioli muito pressionado. Contra a Udinese se ouviu até vaias da arquibancada. A vitória sobre o PSG em San Siro por 2 a 1, de virada, valeu mais do que os três pontos e foi simbólica para os jogadores e para a comissão técnica.

Tudo começou na segunda-feira de manhã. No sábado, o time tinha perdido da Udinese por 1 a 0 em San Siro e, no domingo, o clima era de desânimo e decepção. O time se dividia entre aqueles que trabalharam na academia e outros que corriam no gramado. Até por isso, a reunião pensando no próximo jogo é que foi crucial.

A reunião técnica de segunda-feira era para preparar o time para o duelo com o PSG, provavelmente o time mais forte da chave. Internamente, havia uma sensação de insatisfação com o ambiente externo. Os rumores sobre a insegurança de Pioli no cargo incomodava, porque ele é muito querido pelos jogadores e as suas ideias são muito apreciadas no elenco. A pressão externa irritava os jogadores rossoneri. Não por ela existir, mas por ela direcionar o mau momento a Pioli, colocando a responsabilidade no técnico.

Por isso, os jogadores sentiam que era o momento de eles assumirem essa responsabilidade. A preparação para a partida teve um compromisso dos jogadores que parece muito simples e até um pouco batido, mas que tem uma execução difícil: “Todos temos que dar algo mais, o melhor de nós mesmos”. Conceito bonito e por vezes usado como discurso, mas a prática é que complica isso.

O que facilitou é esse clima de insatisfação com o que se falava externamente. Era uma questão de orgulho pelas críticas que foram lidas e ouvidas. Esse tipo de raiva é bastante motivadora. Os jogadores conversaram entre si para dizer que era o momento de “mostrar a todos quem nós realmente somos”.

Isso tudo foi feito diante de um estádio lotado, com ingressos esgotados, e diante de Kylian Mbappé e o PSG. Mais ainda: depois de sofrer o primeiro gol de Milan Skriniar, um ex-jogador da Inter de Milão, rival dos rossoneri. A atuação do Milan, porém, foi imensa. Não foi por acaso.

Uma das cenas que marcaram a vitória do Milan sobre o PSG veio após o apito final. A comissão técnica de Pioli vai até ele para o abraçar, um sinal de como todos sabiam da imensa pressão que o técnico vivia. Ele, brincando, disse “vão pro inferno, me deixem em paz”, entre sorrisos. A adrenalina foi alta na partida e Pioli desabafou, mas internamente. Os abraços no vestiário após o jogo foram mais intensos.

O Milan segue vivo na Champions League e está pronto para tentar retomar o caminho na Serie A. Com Stefano Pioli no comando e com seus líderes ao redor, dando apoio para que continue assim.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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