Football Manager, Harvard e Messi: Rooney conta sua visão como técnico
Técnico do DC United, o ex-jogador Rooney conta como a base do Football Manager para observar jogadores, fala sobre a sua formação como treinador e até a chegada de Messi à MLS
Football Manager é sem dúvidas o jogo do estilo manager mais famoso do mundo. Sua popularidade dentro do mundo do futebol é muito grande, com jogadores como Antoine Griezmann, Paul Pogba e Felipe Melo sendo conhecidos jogadores. Para além dos jogadores, o jogo também é apreciado por técnicos, como o agora ex-jogador Wayne Rooney. Ele contou não só gosta do jogo, como usa os olheiros do jogo para o seu trabalho.
Rooney tem se mostrado um técnico ávido por aprender e usar o máximo de conhecimento possível para melhorar o seu trabalho. Um dos recursos que ele utiliza é o Football Manager. Algo que ele aprendeu com um dos grandes técnicos do futebol: José Mourinho, tão marcante na Inglaterra.
“Muito do mercado é a América do Sul e fizemos um acordo com o Football Manager onde damos a eles algumas propagandas e eles nos dão acessos aos seus olheiros, uns 11 ou 12 deles, que eles usam em diferentes lugares ao redor do mundo e que os ajudam a criar o jogo. José Mourinho fez algo similar no passado”, disse Rooney em entrevista ao The Times.
Football Manager é um jogo muito elogiado pela sua base de dados, que é o ponto mais positivo do jogo. Sua capacidade de analisar uma gama ampla de jogadores com atributos que tentam refletir ao máximo suas capacidades acaba sendo um trabalho de pesquisa e observação muito grande. Em 2018, um pesquisador do jogo contou como fazem para que a base de dados seja tão robusta: se preocupando com detalhes. É justamente esse olhar que, muitas vezes, torna a base de dados e a capacidade de observação do jogo tão boa.
Outros clubes já usaram a base de dados do Football Manager como uma fonte inicial de pesquisa, como confirmou o presidente do Toulouse, em 2020. Isso sem falar em como a TV inglesa passou a usar dados do Football Manager para complementar análises sobre jogadores.
O uso do Football Manager, porém, é só um dos truques na manga de Rooney, que tem se preocupado em estudar para ser um treinador de elite. O seu objetivo é chegar no mais alto nível e chegar à Premier League para ser um técnico do topo do futebol europeu. Ele conta como a experiência americana está o ajudando a aprender mais.
A experiência nos EUA como parte da sua formação como treinador
Rooney atuou no DC United como jogador de julho de 2018 a dezembro de 2019. Teve uma passagem com alguns momentos marcantes, como a assistência que ele dá que tem uma recuperação de bola espetacular, nos acréscimos. Foi em agosto de 2018 e você tem que assistir a esse lance.
Rooney depois iria para o Derby County, onde jogou suas últimas partidas como jogador e se converteu em técnico. Tentou evitar um rebaixamento certo pela punição que o clube sofreu e, milagrosamente, quase conseguiu. Voltou aos Estados Unidos para ser o técnico do DC United, em julho de 2022. O inglês aproveita a experiência e cita outros técnicos que treinaram no exterior antes de chegar ao mais alto nível, o que parece ser o seu objetivo.
“Me sinto como em uma jornada. Este é o meu terceiro ano como técnico, em duas circunstâncias diferentes e difíceis. E sinto que você tem que passar por isso para chegar onde quer chegar. Olho para Arsène Wenger indo para o Japão, Carlos Queiroz treinando em muitos lugares diferentes. Então, muitos técnicos estiveram em diferentes países e aprenderam antes de chegar ao mais alto nível e eu sinto que era o lugar certo para mim”, afirmou o ex-jogador em referência a estar trabalhando nos Estados Unidos.
“Não sou estúpido ou arrogante o suficiente para achar que posso começar do zero e treinar no mais alto nível. Sinto que tenho passado por um processo e uma formação e isso com todo jogo e toda semana estou melhorando. Estou amando”, continuou.
Na quarta-feira, Rooney estará como técnico do time de All Stars da MLS contra o Arsenal, em um jogo que serve como pré-temporada para os ingleses. Ele terá um elenco de 28 jogadores para gerenciar, sendo metade escolhida por ele, metade escolhida pelos torcedores, imprensa, jogadores e até o comissionário da MLS.
Aulas de Oxford e Havard online para aprender mais como técnico
Quando deixou o Derby County, Rooney teve propostas para continuar na Championship, a segunda divisão inglesa, mas preferiu outro caminho. Ele se dedicou a entender mais e assistiu aulas online da Universidades de Oxford e Havard como forma de abrir mais a sua mente. Isso o ajuda na sua tarefa no DC United, que tem um elenco com 16 nacionalidades diferentes.
“Temos jogadores sul-americanos, europeus, um iraquiano, um jogador de Honduras — todos com formações e experiências diferentes. Eles realmente se uniram. Ajuda que joguei com diferentes nacionalidades e olhei muito por coisas diferentes em termos de raça e religião. Olhei profundamente para isso e tentei entender mais e isso me ajudou a me comunicar com os jogadores”, contou Rooney.
“Eu li muitas coisas e assisti aulas de Oxford e Havard. Entender por que as pessoas pensam de certa forma. Tentar me educar, então quando chegar o momento que eu tenho conversas com os jogadores sobre coisas que eu já estou ciente, eu tenha um pouco mais de conhecimento”.
“Entender religião também é importante. Seja muçulmano, judeu, católico ou o que for, os jogadores terão jeitos diferentes. No Ramadã, por exemplo, você tem que ser diferente em como você treina os jogadores muçulmanos e saber quando eles podem se alimentar. Todas essas coisas podem fazer só 1% de diferença, mas eu sinto que aprender realmente me ajudou”.
Licença Pro da Uefa e apresentação sobre sistema de transferências da MLS
Recentemente, Rooney tirou a sua licença Pro da Uefa na Football Association (FA), participando de seminários online no horário de Londres, o que pode vezes significava seminários às 6h da manhã. Sua apresentação no curso foi entre as diferenças entre os sistemas de transferências da Inglaterra e da MLS. A principal diferença ressaltada é a “Discovery List”, um conceito bem curioso.
“OK, pense por exemplo em Erling Haaland. Poderíamos ter colocado Haaland na Discovery List e isso significa que se ele vier um dia para a MLS mas, vamos dizer, queira jogar por um dos times de LA e não nós, o time de LA tem que pagar ao Manchester City e para nós. Porque nós o ‘descobrimos’! É maluco. Mas se você é inteligente, você pode fazer dinheiro”, explicou.
“No ano passado, quando Jesse Lingard assinou com o Nottingham Forest, nós o colocamos na Discovery List, porque pensamos que havia toda chance que depois de um ano ele pudesse vir para os Estados Unidos. Isso significa que poderíamos o contratar com ele ou ganhar dinheiro com ele”, continua Rooney.
Messi aumentará interesse dos americanos, segundo Rooney
“A MLS já é uma liga muito boa, há muitos jogadores aqui que poderiam jogar (na Europa) que não são conhecidos, que poderiam jogar na Premier League”, afirmou Rooney. “O acordo com a Apple foi enorme, outro dia os dois times de Los Angeles jogaram no Rose Bowl (para uma torcida de 82.110 pessoas)”.
Rooney se refere ao acordo de transmissão da Apple TV pago pela MLS, em um acordo pouco usual. A empresa da maça pagou US$ 2,5 bilhões por 10 anos dos direitos de transmissão da MLS globalmente. Ou seja: em todos os países onde a Apple TV está, os direitos de TV da MLS são dela.
É um modelo diferente do que vemos em outras ligas, onde os acordos são fechados regionalmente. Essa estratégia tem tudo para render muito em um momento que o maior jogador de futebol do planeta vai jogar por lá e o único modo de assisti-lo é assinando o serviço, esteja onde você estiver no globo.
Com isso, Rooney quis dar um panorama do que espera Messi na MLS. “Está tudo pronto para ele. Ele tem trouxe todos seus amigos (Sergio) Busquets e Jordi Alba vieram para o Inter Miami e talvez (Andrés) Iniesta pode se juntar a eles. Luis Suárez também. Messi tem um técnico que ele gosta e acredita (Tata Martino, anunciado no dia 28 de junho)”, comentou Rooney.
Aqui é importante dizer que Rooney fala sobre Jordi Alba, mas ele ainda não está confirmado para jogar no Inter Miami. Há interesse e negociações, que podem ser anunciadas em breve, mas o negócio ainda não aconteceu. Iniesta também é especulado, mas ainda não há negócio. E menos ainda Luis Suárez, que tem contrato com o Grêmio até o fim de 2024 e não deve ser liberado pelo clube para ir para a MLS se juntar a Messi. De qualquer forma, Rooney acredita que a chegada do argentino é uma grande vitória da liga norte-americana.
“É enorme, especialmente pelo que está acontecendo na Arábia Saudita, em conseguir atrair Messi. Ele não achará fácil por aqui. Parece loucura, mas jogadores que vem descobrem que é uma liga dura. As viagens, as diferentes condições em diferentes cidades, e há muita energia e intensidade em campo”.
Rooney acredita que Messi pode fazer com que o interesse do americano por futebol, que tem crescido, aumente ainda mais. “Americanos adoram vencedores. Acima de tudo, eles querem ver habilidade e se divertirem e Messi traz tudo isso”, afirma.
A estreia de Messi pelo Inter Miami está programada para a próxima sexta-feira, quando enfrentará o Cruz Azul pela Leagues Cup, competição que envolve apenas clubes do México e da MLS.