Mudanças no elenco e grandes em baixa: como Valencia conquistou a Espanha em 2004
Equipe de Albelda, Baraja e companhia se consagrou no cenário com dois títulos nacionais em três anos
Contamos aqui mesmo na Trivela como o título da Copa da Uefa de 2004 aumentou o reconhecimento do Valencia no cenário europeu após dois vice-campeonatos seguidos da equipe na Champions League, em 2000 e 2001. Em âmbito nacional, os comandados de Rafa Benítez já haviam mostrado o seu valor com a conquista do Campeonato Espanhol em 2001/2002, título que não vinha desde 1971, em uma campanha incontestável com 21 vitórias, 12 empates e apenas cinco derrotas em 38 jogos.
Marcado por um sistema de defesa muito organizado, o time do Valencia foi a melhor defesa daquela competição com 27 gols sofridos e surpreendeu a toda imprensa espanhola na época já que passou os primeiros 13 jogos sem perder, conhecendo seu primeiro revés somente na 14ª rodada contra a Real Sociedad, em derrota por 2 a 0 no País Basco. O time foi campeão com sete pontos à frente do vice La Coruña.
Na temporada seguinte a expectativa era de que a equipe lutasse novamente por títulos, mas o saldo foi decepcionante com a quinta colocação no Campeonato Espanhol, eliminação ainda na segunda fase da Copa do Rei e nas quartas de final da Champions League para a Lazio de Héctor Raúl Cúper, treinador responsável por levar o time espanhol às finais da competição contra o Real Madrid em 2000 e Bayern de Munique em 2001.
Mexidas sutis no elenco formaram um Valencia competitivo
O Valencia mexeu pouco em seu elenco para a temporada 2003/2004. Na época, a diretoria investiu na contratação de jovens atletas, mas manteve a espinha dorsal do time, enquanto outros mais experientes saíram do clube naquele ano. Entre as vindas, o volante Sissoko, o meia Canobbio, o ponteiro Jorge López e Ricardo Oliveira — que chegava à Espanha após temporada brilhante no Santos, vice-campeão da Libertadores.
Em contrapartida, Kily González foi para a Internazionale, o norueguês Carew seguiu para a Roma por empréstimo e Djukic foi encerrar sua carreira no Tenerife. Mesmo assim, o time de Rafa Benítez seguiu competitivo e se mostrava pronto para encarar de frente as principais equipes do futebol espanhol. A segurança e agilidade de Cañizarez, no auge de seus 33 anos, foi um dos pontos altos daquele time. Mesmo nos momentos mais difíceis da temporada, o goleiro foi fundamental com defesas que garantiram bons resultados.
Na zaga, uma dupla formada por Marchena e Roberto Ayala. O argentino era ótimo no jogo aéreo e tinha um tempo de bola excelente, enquanto o jovem espanhol viu do banco de reservas o título espanhol em 2001/2002 e duas temporadas mais tarde ganhou a chance de jogar e se firmar como titular do time. Atleta em ascensão desde seus tempos de Sevilla, formou uma dupla muito segura com seu companheiro de defesa e conferia tranquilidade ao restante do time.
Curro Torres na lateral-direita e Amedeo Carboni na esquerda faziam o simples, mas bem feito pelos lados do campo. Fábio Aurélio, ex-São Paulo, era outro brasileiro no elenco, mas acabou prejudicado por conta das lesões. Um dos pontos mais fortes daquele Valencia era seu meio-campo, formado pela dupla Baraja e Albelda, dois dos maiores meias centrais da história do clube. Precisos no desarme e ótimos na saída de bola, a dupla ditava o ritmo do time no jogo.
Capitão do time, Albelda era responsável pela contensão, enquanto Baraja tinha maior liberdade para chegar ao ataque, seja com assistências ou gols. Vicente era o meia esquerda daquele time e sua habilidade e visão de jogo tornou o camisa 14 no titular absoluto daquele time, mesmo com apenas 21 anos. Do outro lado, Rufete e Jorge López revezavam mais pela direita. Pablo Aimar, era o armador central daquele time e já estava em sua quarta temporada no time do Valencia.
Não fosse pelas lesões que o atrapalharam durante a campanha em 2003/2004, principalmente no segundo turno do Campeonato Espanhol, o argentino seria o titular absoluto do time. Como não podia contar com o armador em todos os jogos, Rafa Benítez precisou mudar a formação tática, saindo do 4-2-3-1 para o 4-4-2 com a entrada de Angulo, ou Ricardo Oliveira, ao lado de Mista, referência no ataque da equipe.
O próprio treinador do Valencia trouxe o atacante após ter trabalhado com o jogador nas categorias de base do Real Madrid e do Tenerife. Dono de um bom porte físico, o centroavante se encaixou perfeitamente no esquema de jogo montado e foi fundamental na conquista do sexto título espanhol do clube.
A campanha do Valencia campeão espanhol em 2004
O Valencia ganhou seis dos sete primeiros jogos que fez no Campeonato Espanhol da temporada 2003/2004. Mas o que chamou a atenção da imprensa na época foi a sequência de três triunfos seguidos contra o Atlético de Madrid, 3 a 0 fora de casa, Real Madrid, no Mestalla por 2 a 0 e diante do Barcelona por 1 a 0 em pleno Camp Nou nas rodadas quatro, cinco e seis. A parte ofensiva do time treinado por Rafa Benítez passou a ser muito mais eficiente e a equipe não recorria mais ao seu bom sistema defensivo para ganhar os jogos, como fez duas temporadas antes.
Foram 23 vitórias, oito empates e sete derrotas, com 77 pontos somados, cinco a mais do que o Barcelona, vice-campeão e na época já contava com o brilhantismo de Ronaldinho Gaúcho. Aliás, o Valencia soube aproveitar muito bem a pouca inspiração dos grandes na Espanha para conquistar seu segundo título nacional em três anos. O galático Real Madrid, por exemplo, terminou o Campeonato Espanhol na quarta colocação com 70 pontos e não levantou nenhuma taça naquela temporada, amargando a eliminação para o Porto na Champions League.
O Barça, por sua vez, ficou pelo caminho nas oitavas de final da Copa da Uefa, sendo eliminado pelo Celtic e parou nas quartas da Copa do Rei, perdendo para o campeão Zaragoza, que bateu o Real Madrid na grande decisão.
A consistência contra os adversários diretos também contribuiu para que o Valencia conseguisse aumentar a quantidade de títulos em sua sala de troféus. A equipe de Rafa Benítez ficou invicta contra o Real, vencendo no primeiro turno e empatando no Santiago Bernabéu, venceu um jogo contra o La Coruña e perdeu outro fora de casa, tendo o mesmo retrospecto frente ao Barcelona.
Ao todo, foram 71 gols marcados, o segundo melhor ataque, atrás do próprio Real Madrid que marcou 72, mas foi novamente a melhor defesa, sofrendo os mesmos 27 gols da campanha que culminou no título da temporada 2001/2002. Mista foi o grande destaque daquele time, marcando 19 gols e sendo terceiro maior artilheiro da competição, atrás de Ronaldo Fenômeno do Real, que marcou 24, Fernando Torres, na época defendendo o Atlético de Madrid e Julio Baptista, que estava no Sevilla, ambos com 20.