Nico Williams: “Iñaki e eu podemos compensar o sacrifício dos nossos pais fazendo com que se sintam orgulhosos”
Novidade na convocação da Espanha, Nico Williams falou sobre a história de sua família e também sobre o combate ao racismo
A estreia de Nico Williams gera expectativas na Espanha. O ponta de 20 anos se firmou como um dos melhores jogadores do Athletic Bilbao nas últimas temporadas e se candidata a disputar sua primeira Copa do Mundo. O contexto auxilia na visibilidade, depois que o irmão Iñaki optou por defender a seleção de Gana, sem chances na Roja desde 2016. E a ascensão dos irmãos também é importante pelo debate atual dentro do futebol espanhol sobre racismo, diante da perseguição execrável contra Vinícius Júnior nos últimos dias. Os filhos de imigrantes ganeses, que atravessaram o deserto do Saara a pé em busca de melhores oportunidades no País Basco, são figuras de peso no combate à discriminação.
Nesta quarta-feira, o jornal Marca estampou Nico em sua capa, com uma manchete contra o racismo. O novato também falou sobre diversos temas, da relação com o irmão às suas influências no futebol. Abaixo, selecionamos alguns dos principais trechos da entrevista, juntando respostas em comum sobre determinados temas. Confira:
Racismo e xenofobia na Espanha
“Creio que há muita gente boa. Os racistas são coletivos muito pequenos que é preciso erradicar. Em geral, as pessoas na Espanha são boas e ajudam os que vêm de fora. Somos muito agradecidos que nos tenham dado essa ajuda. Por sorte, não vivenciei episódios de racismo, mas vi meu irmão irritado nesse aspecto. Espero que essas pessoas pensem e reflitam sobre o que fazem, que isso acabe. A educação é algo que se começa de pequeno. Ninguém nasce sendo racista. Educação em casa, educação na escola, e creio que pouco a pouco o racismo vai desaparecer”
A reação de Iñaki sobre a convocação de Nico
“Iñaki estava um pouco surpreso. Ele tampouco esperava essa convocação. Está muito feliz por mim, muito orgulhoso. Disse que preciso trabalhar, manter os pés no chão e pouco a pouco siga apresentando meu futebol. Ele me dá muitíssimos conselhos. Às vezes nos desentendemos, mas sou muito agradecido de tê-lo como irmão e que me dê conselhos, porque nem todos têm essa sorte”.
O que Nico se lembra da convocação de Iñaki pela Espanha, em 2016
“Estava muito orgulhoso que meu irmão pudesse estar aqui com a seleção. Também não entendia muito, era muito pequeno e não entendia ainda como ia a seleção. Eu me lembro de ir à aula e todos os colegas me felicitavam. Eu não entendia o motivo, mas estava muito contente por Iñaki”.
A reação da mãe sobre a convocação de Nico
“Minha mãe está muito orgulhosa. Ela soube que fui convocado porque comecei a gritar em casa: ‘Mãe, mãe, eu vou à seleção!'. Ela veio correndo e me abraçou. Começou a chorar e em seguida veio meu pai também. Meus pais são meus heróis, meus ídolos. Gostaria que todos tivessem pais como eles em suas vidas e tomara que eu possa passar muito tempo com eles”.
A história dos pais
“Tenho calafrios quando ouço a história deles. Passaram por momentos muito duros no deserto. Quando fomos a Dubai de férias, minha mãe pisou na areia e se sentiu muito triste pela situação que aconteceu com ela no deserto do Saara. Foram momentos muito desagradáveis que eles viveram. Sempre estarei aqui para tranquilizá-la e ajudá-la, que se sinta orgulhosa de seu filho. Podemos compensar o sacrifício com gols, demonstrando que sempre estamos aqui, fazendo que se sintam orgulhosos. Minha mãe sempre estará orgulhosa que seus filhos sejam jogadores. Meus pais merecem tudo de melhor”
As influências
“Meu grande ídolo é meu irmão, mas na seleção estão alguns que observo muito para ter coisas que não tenho em meu jogo: Asensio, Carvajal, Alba… Uns fenômenos. Admirava Didier Drogba. Meu irmão gostava muito dele e colocava vídeos de Drogba para eu ver, dizia para eu prestar atenção nele porque era muito bom. Eu era muito pequeno, colocava os melhores momentos no YouTube e eu olhava bastante para aprender. Vemos muito no YouTube para querer ser fenômenos como Messi ou Neymar. Quem não quer ser como eles?”
A sensação de ser um ídolo
“As pessoas me reconhecem na rua e fico animado porque eu fazia isso, pedia autógrafos e fotos. Era pequeno e parava meus ídolos na rua. Eu me sinto representado em quem agora me para. Não me lembro exatamente de meu primeiro autógrafo, mas certamente eu é que estava nervoso. Não sabia nem como assinar! Não tinha uma assinatura fixa, defini com o passar dos meses”
O senso de oportunidade na seleção da Espanha
“Tenho que seguir trabalhando para isso, não sei se vou poder estar na Copa do Mundo. Esteja onde estiver, estarei torcendo e mantendo os pés no chão. Eu me encontrei com Luis Enrique, me dá muitos conselhos, me ajudou muito durante a estadia com a seleção. Espero que possa me ajudar mais e possa me fazer conhecer seu jogo. Daria a vida e muito mais para jogar a Copa. Tenho que trabalhar muito para esse momento chegar. Seja agora ou depois, vou continuar trabalhando para que chegue”