O que La Liga faz para combater o racismo contra Vinicius Júnior?
Durante evento em São Paulo, Daniel Alonso, delegado da La Liga no Brasil, explicou à Trivela o que tem sido feito nos casos de racismo contra Vinicius Júnior
Seja em Barcelona, Sevilha ou Valência, Vinicius Júnior tem sido alvo de ataques racistas na Espanha. O primeiro caso de preconceito contra o brasileiro aconteceu em 2021 e hoje já são pelo menos 13 ocorrências em menos de três anos. Quem vê do Brasil, se incomoda e cobra por ações dos órgãos envolvidos do país europeu que possam frear os crimes contra o jogador do Real Madrid. Para entender como a La Liga lida com isso, a Trivela esteve presente em uma palestra realizada em São Paulo na última segunda-feira (11).
Durante o evento La Liga Extratime, Daniel Alonso, delegado da competição no Brasil, explicou aos jornalistas e influenciadores presentes as medidas feitas pela organização do Campeonato Espanhol. Um exemplo é a plataforma LALIGA VS, que busca conscientizar torcedores para erradicar os discursos de ódio nos estádios. Inclusive, desde o início da temporada atual, todas as arenas na elite do futebol espanhol contam com QR Codes espalhados nas arquibancadas para os fãs denunciarem algum comportamento nocivo.
— Temos uma figura que é o diretor de partida, o responsável da La Liga que está no estádio para identificar se há ataques racistas e denunciar isso. Incrementamos esse time de pessoas no estádio para ficar mais ligado e se acontecer qualquer coisa, estamos prontos. Um caso como aconteceu no Sevilla x Real Madrid [em setembro do ano passado], que uma pessoa que fez um ataque racista contra o Vinicius. La Liga e o próprio clube identificaram na hora o torcedor e o tirou do estádio, durante o jogo. Esse cara foi banido para sempre do Sevilla, sendo denunciado pelo Ministério Público. Esse é o tipo de ações que a gente vem implementando para não deixar acontecer. E se acontecer, combater isso — afirmou Daniel Alonso, que atendeu a reportagem da Trivela com exclusividade após o evento.
Diferenças na forma como casos são tratados no Brasil e na Espanha
Alonso também explicou as diferenças da forma que os casos são tratados no Brasil e Espanha. Enquanto aqui a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cuida de tudo e tem direito de punir clubes, na nação europeia a La Liga tem competência apenas de ajudar os órgãos públicos nas investigações de racismo, mas não tem poder de banimento dos estádios — feito pelos próprios times quando identificam algum crime, como no caso do Sevilla — ou penalização aos clubes, algo feito pela Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Quando acontece com Vinicius Júnior ou qualquer outro jogador que sofra preconceito, o executivo apontou que o campeonato trabalha lado a lado com os órgãos competentes para identificação.
No entanto, não dá para tirar toda responsabilidade da organização do Campeonato Espanhol, que já que não pode intervir diretamente nos clubes, como banir os torcedores, deve tentar, ao menos, conscientizá-los para passar a mensagem aos torcedores. O delegado de La Liga no Brasil detalhou o que tem sido feito, como workshops com as seguranças dos estádios e em escolas, conversas com as polícias locais e um manual de comportamento para jogadores e torcida.
— Nós [La Liga] podemos falar, mas é o clube que tem que agir. Porque quem trabalha com o torcedor é quem ele vai ouvir, ou quem pode banir o torcedor de entrar no estádio se não se comportar. Temos trabalhado com os clubes desde que aconteceu isso [com o Vinicius], colocamos um manual de comportamento para jogadores e com torcedores, também aconteceram workshops com seguranças privadas dos clubes [que ficam nos estádios] e nas bases das equipes. Também conversamos com as polícias das distintas cidades para agir, para entender os casos, para prever os potenciais casos de racismo e evitar. Trabalhamos essa prevenção. Vamos às escolas também das cidades e trazemos essas palestras de valores e de conscientizar. A gente está fazendo isso, só que isso não gera tanta mídia. Mas é um trabalho que a gente vinha fazendo e que intensificou.
Ações de La Liga contra o racismo existem antes mesmo de casos como de Vini Jr
Questionado sobre as ações a partir dos seguintes casos contra o atacante brasileiro, Alonso destacou que La Liga já fazia isso antes e deu como exemplo o banimento dos “ultras”, torcedores organizados extremistas que pregam o ódio, realizado nas últimas décadas. Por conta de Vini, também foi reforçado o combate ao preconceito.
— [A partir do Vinicius] Nós intensificamos as nossas ações, já vinhamos atuando com isso. Nós lideramos o movimento de banir os utras do estádio para tirar esses comportamentos [de ódio], não foi agora, são muitos anos que trabalhamos nisso. É uma mudança na sociedade, não acontece na hora. E não foi pelo Vinícius, o Vinícius não é o primeiro a ter um caso de discriminação. Mas é uma mudança da sociedade também. De agora estar mais atentos a esses casos. Agora tem mais denúncia. O que é não é negativo, é muito positivo. Traz o problema para frente para confrontar ele. Antes, era mais ‘aceito’. Mas é importante que não começou agora. Não foi devido ao Vinicius. Já se vinha trabalhar nisso. O Vinicius ajudou a reforçar isso — finalizou.
Mesmo com todas essas ações, o brasileiro ainda sofre com o ódio na Espanha. O mais recente caso, no início de março, foi de uma criança o chamando de “mono” (macaco) nas arquibancadas do Estádio Mestalla, em Valência, local onde Vinicius ouviu o mesmo xingamento de um grupo de torcedores em maio do ano passado. Ainda há um longo caminho no combate ao preconceito, especialmente na Europa.