Ex-técnico do Birmingham não se espanta com impacto de Bellingham: “Eu o conheço”
Aitor Karanka perdeu a chance de trabalhar com Bellingham por semanas, mas conseguiu conhecê-lo o suficiente para saber o quanto é forte mentalmente
É difícil não ficar surpreso com o que Jude Bellingham está fazendo. Ele era um dos melhores jogadores da Bundesliga, mas o papel de liderança que assumiu imediatamente em um clube como o Real Madrid, o poder de decisão e a maturidade são surpreendentes para um garoto de 20 anos. A menos que você o conheça. Mesmo que brevemente, como o espanhol Aitor Karanka, que por algumas semanas perdeu a chance de treiná-lo no Birmingham.
Autor de um grande trabalho no Middlesbrough, Karanka chegou depois da temporada interrompida pela pandemia, em julho de 2020. Ficou decepcionado quando ouviu que o garoto que havia visto em vídeos não estaria disponível porque já estava vendido para o Borussia Dortmund.
– Eu disse para o executivo-chefe: “Esse garoto? Vendido. Nããão. Deixe eu ficar com ele para a pré-temporada pelo menos”. Quando a transferência para o Dortmund foi confirmada, o Birmingham ainda precisava de três pontos para não ser rebaixado (na segunda divisão). Jude disse: “Até estarmos seguros, continuarei jogando”. Aos 17 anos, qualquer outro garoto diria: “Não, obrigado, galera”. Mas ele disse: “Este é o meu time, minha cidade, não vou abandoná-los” – afirmou em entrevista ao Guardian.
Apesar de não ter trabalhado diretamente com Bellingham, Karanka diz que o conhece o bastante para não ficar surpreso com o impacto que causou imediatamente ao Real Madrid.
– Para todos na Espanha, a mentalidade de Bellingham surpreendeu, mas não para mim. Porque eu tenho a sorte de conhecê-lo. E o azar de não ter trabalhado com ele por duas semanas. O que Jude está fazendo não é por acaso. Ele tem uma grande família, isso é vital. Eu conheci Jobe (irmão, jogador do Sunderland). Ele tinha 14 anos. “Você deve ser irmão de Jude. Me dizem que você é melhor que ele”. Ele me respondeu: “Melhor? Não. Muito melhor”.
– Está ficando cada vez mais difícil (que Jobe seja melhor), não porque Jobe não é bom, mas porque Jude continua melhorando. Essa personalidade está em ambos, o equilíbrio. Dezenove, 20 anos, não importa. Eu sou eu. Ele está roubando a bola, passando, correndo, marcando. Se você acrescentar inteligência, talento e personalidade… bom, é o Jude Bellingham – completou.
Clássico da juventude
Barcelona e Real Madrid farão o primeiro Superclássico da temporada neste sábado, um jogo familiar a Aitor Karanka. Como jogador, conquistou três edições da Champions League e uma de La Liga pelos merengues, entre 1997 e 2002. Depois, foi assistente de José Mourinho, durante o auge da rivalidade, no começo da última década. E escudo porque muitas vezes tinha a responsabilidade de dar as entrevistas coletivas.
– Era… intenso. As pessoas viam como um saco, eu ter que aguentar as pancadas, mas eu nunca tive que encarar a imprensa quando o time perdia. Eu dei 89 entrevistas coletivas. Era Cristiano Ronaldo, Messi, Espanha campeã do mundo. José chegou e encontrou uma maneira de competir (com o Barcelona de Guardiola). Foi um privilégio passar por isso.
– Nunca havia pensado em ser técnico. Fernando Hierro me convenceu a fazer os cursos e depois me chamou para a federação, sem salário. Primeiro com a Espanha sub-16, depois sub-17. E aí, José me ligou. Ele queria alguém que conhecesse o clube. O Real Madrid lhe deu quatro ou cinco nomes. Depois ele disse: “Você tem bons amigos. Perguntei a Figo, Mijatovic e Seedorf e eles colocaram você no topo da lista” – contou.
Depois da passagem pelo Real Madrid, era a hora de fazer carreira solo, mas Karanka não tinha certeza se estava preparado. Para a sorte do Middlesbrough, o qual conseguiu levar de volta à Premier League, o ex-defensor ouviu os conselhos das pessoas certas.
– Depois do Real, eu disse ao meu pai: “Eu ainda não vejo”. Ele disse: “Você esteve com a seleção, passou três anos no melhor clube do mundo com os melhores jogadores do mundo, o melhor técnico do mundo. Como não consegue ver?”. Foi a mesma coisa com José. Eu disse: “Não tenho certeza se estou pronto”. Ele disse: “Você fazia 70% das sessões de treino, trabalhou com os melhores jogadores, deu 90 entrevistas coletivas e não está pronto, seu tonto?”. Você pensa: “Se o seu pai e José Mourinho dizem isso, talvez você tenha que tentar” – afirmou.
Com tanta experiência em Superclássicos, a juventude de quem estará em campo chamou sua atenção.
– Jude tem 20 anos, Rodrygo tem 22, Vinícius, 23. Olhe para o Barcelona: Lamine Yamal, Pedri, Gavi, Baldé, todos jovens. Talvez eles tenham menos o sentimento do que é esse jogo, mas eles verão – completou.