Imparável, Bellingham decide para o Real Madrid com golaço e virada nos acréscimos contra o Barcelona
Absolutamente decisivo, Bellingham fez dois gols no segundo tempo, quando o Real Madrid perdia do Barcelona, e mais uma vez mostrou o quanto joga futebol
Em um duelo estratégico bastante equilibrado, o Real Madrid conseguiu uma virada incrível sobre o Barcelona fora de casa graças àquele que tem sido o grande craque da Europa: Jude Bellingham. O inglês marcou um golaço quando seu time perdia o jogo, depois virou a partida já nos acréscimos. Um final emocionante que tem a assinatura de Bellingham, o que tem sido a maior constante desta temporada do Real Madrid.
Enquanto o Barcelona venceu a batalha tática no primeiro tempo, com uma estratégia que pareceu afogar o Real Madrid, os merengues foram melhores na etapa final, conseguiram o empate e viram os catalães sentirem o gol. Foram ainda mais para cima até, nos acréscimos, conseguir a virada com o seu craque, que decide jogo atrás de jogo. Desde que a saída de Cristiano Ronaldo, o Real Madrid não tinha um jogador que consegue ser tão decisivo nos jogos – e olha que teve craques como Karim Benzema brilhando nos últimos anos.
Não foi uma exibição que o Real Madrid conseguiu mostrar o seu melhor em campo e não dá para dizer que o Barcelona jogou mal, pelo contrário. O time fez uma boa atuação de maneira geral, mas de fato sentiu muito o gol e acabou perdendo no segundo tempo. O Real Madrid continua sendo um dos times mais fortes do mundo mentalmente e, individualmente, é um time com alta capacidade de decisão. Dá para dizer que o Real Madrid ganhou o jogo mais na individualidade do que na estratégia, o que também é um mérito de um time capaz de superar adversidades.
Com a vitória, o Real Madrid assume a liderança de La Liga, porque empata em pontos com o Girona, mas vence o confronto direto – o Real Madrid venceu o Girona algumas rodadas atrás. Contra o Girona, um time catalão, Bellingham tinha sido decisivo. Contra o Barcelona, outro time catalão, Bellingham também foi decisivo. Mas o impressionante é que não há coincidência alguma: Bellingham tem sido decisivo em todos os jogos, de maneira impressionante.
As armas dos dois times nas escalações
Com Robert Lewandowski no banco, ainda se recuperando de lesão, o técnico Xavi Hernández fez algumas mudanças na equipe. Pedri foi desfalque por lesão, assim como Frenkie De Jong. Com isso, o time teve Marc-André ter Stegen, Ronald Araújo na lateral direita, Andreas Christensen e Iñigo Martínez na zaga e Alejandro Baldé na lateral esquerda.
No meio-campo, uma formação ofensiva: Ilkay Gündogan, Gavi e Fermín López. No ataque, a surpresa: João Cancelo, atuando como ponta, João Félix e Ferran Torres mais centralizado no ataque.
No Real Madrid, Kepa foi o titular, como tem sido habitual. Daniel Carvajal foi o lateral direito, Antonio Rüdiger e David Alaba foram os zagueiros, com Ferland Mendy atuando como lateral esquerdo. O meio-campo teve Aurélien Tchouaméni, Toni Kroos, Federico Valverde e Jude Bellingham, mais à frente. No ataque, dois jogadores de velocidade com Vinícius Júnior e Rodrygo. Os merengues ainda tinham Luka Modric e Eduardo Camavinga no banco.
Xavi ganha a batalha estratégica no primeiro tempo
Os primeiros minutos do jogo foram do Barcelona ficando com a bola, mas com dificuldades para sair jogando e chegar ao campo de ataque. Foram minutos sem que nenhum um dos dois times conseguisse criar alguma coisa, ou chegassem ao menos com algum perigo.
O primeiro gol saiu aos cinco minutos de partida, em uma incrível falha defensiva do Real Madrid. Gündogan apareceu pelo meio, fez o passe para Ferran Torres, que devolveu para o alemão, Tchouaméni tocou na bola, que foi para trás, Gündogan foi para a bola, David Alaba tentou o corte com um carrinho, mas a bola tocou no alemão e ficou com ele, de frente para o goleiro Kepa. Aí foi só tocar com categoria e tranquilidade para marcar 1 a 0.
Apesar de ter um meio-campo sem um marcador nato, o Barcelona conseguia se defender bem quando não tinha a bola. Congestionava muito o setor central, onde o Real Madrid tinha mais qualidade, especialmente com Bellingham. Os merengues não conseguiam levar muito perigo, com tanto Vinícius quanto Rodrygo sem espaço para trabalhar a bola pelo meio.
O Barcelona passou a se segurar um pouco mais depois, quando João Félix recebeu em contra-ataque e colocou no meio das pernas de Rüdiger, mas Dani Carvajal conseguiu chegar a tocar na bola antes que o atacante português conseguisse finalizar.
O primeiro tempo terminou com o Real Madrid tendo pouco jogo pelo lado direito e muito pelo lado esquerdo, justamente o que Xavi intencionalmente congestionou. Vinícius naturalmente tentava cair mais pela ponta, mas era marcado por Ronald Araújo e também por João Cancelo, atuando mais à frente, mas voltando bastante para marcar sem a bola. Rodrygo, na média, ficava por dentro. Federico Valverde também ficava mais para o meio, sem fazer o papel que por vezes se acostumou, abrindo o campo pela direita. O jogo era travado.
Por sua vez, o Barcelona atuava de maneira muito compacta, marcando muito firme. Na prática, era como se o Barcelona atuasse com três zagueiros, já que Ronald Araújo não avançava na lateral direita. Na esquerda, Baldé chegava ao ataque, abrindo bastante o campo. Gavi era o que menos avançava no meio-campo, com Fermín e Gündogan encostando em Ferran Torres e João Félix.
O primeiro tempo acabou com poucas chances dos dois lados, mas com o Barcelona claramente mais feliz por sua estratégia de travar o jogo do Real Madrid ter funcionado. Além de fazer o seu gol, o Barça esteve mais perto do segundo do que o Real Madrid de marcar seu primeiro.
A posse de bola ficou bem dividida, com 56% para o Barça e 44% para o Real Madrid. Foram poucos chutes a gol, com cinco para cada lado, e só com um deles certo: o gol de Gündogan. Não tivemos grandes chances de lado a lado. Estrategicamente, porém, Xavi certamente teve mais motivos para comemorar.
Um golaço de Bellingham muda o jogo
O Real Madrid foi quem primeiro conseguiu levar perigo no segundo tempo. Em uma bola pelo meio, Valverde colocou por cima para Rodrygo, do lado direito da área, e ele finalizou forte, mas por cima, sem levar perigo.
A resposta do Barcelona veio aos cinco minutos. Após cobrança de escanteio, a bola sobrou fora da área para Fermín López, que levantou na área, Iñigo Martínez tocou de cabeça e a bola saiu do alcance de Kepa e tocou na trave. No rebote, Ronald Araújo pegou a sobra e bateu de primeira, mas desta vez Kepa estava na bola para impedir o gol.
Carlo Ancelotti precisou fazer uma substituição logo aos sete minutos. Ferland Mendy sentiu uma lesão muscular e precisou sair, dando lugar a Eduardo Camavinga. Um francês substituindo outro, mas de características bem diferentes. Mendy é um lateral de origem, bastante ofensivo. Já Camavinga é um jogador de meio-campo defensivo, que tem se acostumado a jogar na lateral esquerda, tanto no clube quanto na seleção francesa, quando necessário.
As tentativas do Real Madrid seguiam pelo meio. Aos oito minutos, Vinícius fez o passe para Bellingham entrar com tudo pelo meio, mas Gavi fez um desarme perfeito para mandar a bola para escanteio. Boa ação defensiva do camisa 6 dos blaugranas.
Foi pelo lado direito de ataque que o Barcelona chegou de novo, aos 13 minutos. Fermín López fez o passe para João Cancelo, que fez a finta sobre Camavinga, tirando o francês, e chutou para fora. Uma grande chance para o time da casa aumentar o placar no Estádio Olímpico de Montjuic.
Xavi tinha no banco uma arma poderosa: Robert Lewandowski, mesmo sem plenas condições físicas. O camisa 9 foi chamado para entrar aos 15 minutos, substituindo Ferran Torres. Do outro lado, Ancelotti também chamou a experiência de Luka Modric e do centroavante Joselu. Os dois entraram logo em seguida, aos 17 minutos.
Buscando o gol de empate, o volante Tchouaméni chutou fora de fora da área aos 21 minutos e obrigou Ter Stegen a fazer uma boa defesa, mandando para escanteio. Foi exatamente assim, em um chute de fora da área, que o gol de empate saiu. Mas veio com o jogador que tem sido o craque do time: Jude Bellingham. De longe, o inglês soltou uma pedrada de pé direito e não deu a menor chance de defesa para Ter Stegen. Um golaço em Barcelona: 1 a 1.
Os números de Bellingham são impressionantes na temporada. São 13 jogos e 12 gols, além de três assistências. Um completo absurdo para um jogador que nunca foi um grande artilheiro, mas mostra há muito tempo que é um grande jogador.
Para tentar lidar com a ameaça de Bellingham, que estava bem controlada no primeiro tempo, Xavi mudou o time. Colocou em campo Oriol Romeu no lugar de Fermín López, de modo a tentar preencher esse espaço que o inglês normalmente desfila, entre linhas de meio-campo e defesa.
O clima do jogo mudou. O Real Madrid, que já pressionava, passou a ficar ainda mais empolgado e dominando o jogo. O Barcelona sentiu o gol e tinha muita dificuldade para tomar a bola dos merengues. O momento era todo do Real Madrid.
Xavi fez mais mudanças. Colocou Raphinha, que voltava de lesão, no lugar de João Félix, além de Yamine Lamal, que substituiu João Cancelo. O Barcelona voltava a ter um ponta bastante ofensivo. Raphinha foi para o lado direito e Lamal foi para o lado esquerdo do ataque. Tudo isso com Lewandowski pelo centro.
Depois de alguns minutos no sufoco, o Barcelona conseguiu assustar novamente. Em uma jogada com Raphinha, Lewandowski recebeu e, de fora da área, bateu de primeira, mas mandou por cima. Logo depois, Gavi recebeu dentro da área, dominou e mandou a bola por cima do gol.
Tudo indicava que o empate prevaleceria. Até que, aos 46 minutos do segundo tempo, Dani Carvajal fez o passe para Luka Modric, dentro da área, mas o croata não conseguiu dominar. Só que o erro virou acerto: a bola sobrou para Jude Bellingham dentro da área para tocar de primeira e colocar na rede, de virada: 2 a 1.
Algo absolutamente impressionante. Agora são 13 gols em 13 jogos de um jogador que tem sido um craque absoluto, o grande destaque do futebol europeu nesta temporada. Ele termina o seu primeiro El Clásico já com o nome marcado na história: dois gols fora de casa contra o principal rival e decisivo para a vitória. Nem parece que Bellingham ainda tem 20 anos, mas ele tem. E tudo indica que será um dos grandes nomes do futebol mundial nos próximos anos.
Próximos jogos
O Barcelona volta a campo no próximo sábado, dia 4 de novembro, quando vai até o País Basco enfrentar a Real Sociedad. O Real Madrid também volta a campo só no próximo fim de semana, mas no domingo, 5 de novembro, quando receberá o Rayo Vallecano no Santiago Bernabéu. Ambos são jogos de La Liga.