Espanha

Endrick concede entrevista ao Guardian que mostra de novo sua maturidade (e que quase não foi para o Real Madrid)

Campeão Brasileiro pelo Palmeiras em 2023, Endrick se prepara para novo desafio na carreira com a camisa do Real

Conhecido pela sua habilidade diferenciada, capacidade de decidir jogos e principalmente pela sua maturidade, apesar dos seus 17 anos, Endrick, joia revelada pelo Palmeiras e mais uma vez campeão brasileiro pelo Alviverde, está de malas prontas para o Real Madrid da Espanha. Entretanto, o pai do jovem revelou em entrevista para o The Guardian que seu destino poderia ser bem diferente, já que em 2022, foi convidado para conhecer o Chelsea e por pouco não assinou contrato com o gigante de Londres.

Na época, Todd Boehly convidou Endrick, com 16 anos na época, e toda a sua família para conhecer as instalações de Stamford Bridge, acompanhar a um clássico entre Chelsea e Arsenal e ainda tirar fotos com algumas figuras importantes do time como Thiago Silva, Azpilicueta e Jorginho. A joia palmeirense gosta mais do frio e por conta disso, se mudar para Londres parecia praticamente certo para o pai do jogador, Douglas Ramos, disse que estava praticamente tudo certo entre as partes para que Endrick jogasse na Inglaterra.

Douglas conta que a sua família foi apresentada aos responsáveis pelo processo de adaptação de Endrick, contando em detalhes qual seria a casa a qual iriam morar, a escola o jovem passaria a estudar e até mesmo a igreja que todos iriam congregar. Para o pai do jogador, era necessário ter de se acostumar ao frio da região para poder acompanhar o crescimento e sucesso do filho na Europa. Entretanto, uma ligação de última hora mudou tudo e os planos de jogar na Inglaterra se alteraram completamente.

“Eles nos apresentaram a pessoa que nos ajudaria a nos instalar. Ela nos mostrou a casa onde moraríamos, a escola que Endrick frequentaria, a igreja que frequentaríamos. Estava tudo bem entre nós e o Chelsea. Não posso afirmar 100% o motivo de não terem fechado o acordo. Já tinha colocado na cabeça que iria morar em Londres com todo aquele frio. Mas então, em uma noite noite, o empresário do meu filho telefonou e disse que o dono do Chelsea havia desistido do negócio porque o preço que teriam de pagar por Endrick inflacionaria o mercado. Seriam 60 milhões de euros (318 milhões de reais), para um rapaz de 16 anos que só chegaria ao país quase dois anos depois”, revelou o pai de Endrick.

Dificuldades dos pais incentivou Endrick a fazer o seu melhor em campo

Nascido em Taguatinga, Endrick teve uma vida diferente de seus pais, que conviveram com a pobreza e com a necessidade de lutar para sobreviver e literalmente passar fome para ter o que dar a Endrick e aos seus irmãos. Sabendo desta condição a joia mais promissora do futebol brasileiro nos últimos anos, utilizou este cenário de muita luta e sacrifício para dar o seu melhor em campo, para conseguir alcançar um status diferente enquanto jogador e dar o melhor para sua família, para que nunca mais a fome atingisse seus pais.

“Nunca passei fome, mas meus pais passaram. Eles morreram de fome por mim. Isso me deu muita força porque não queria vê-los fazer aquilo de novo. Eu não queria vê-los passando necessidade, me dar comida e deixá-los ficar sem”, afirmou Endrick.

Além de se importar em mudar a trajetória de sua família, Endrick quer aproveitar este momento único em sua carreira para se desenvolver profissionalmente e ajudar cada outras pessoas. Preocupado com a questão da inclusão, o jovem tem o desejo de aprender pelo menos cinco idiomas, o que vai aprimorar e facilitar sua convivência na Europa e também quer aprender a linguagem de sinais para conseguir contato com pessoas que sejam surdas ou mudas.

Endrick, além de jogar muita bola, mostra que não quer fazer o mesmo que boa parte dos jogadores de sua idade, que na primeira oportunidade, deixam a fama subir a cabeça e começam a se comportar sem responsabilidade, deixando de lado o foco profissional para aproveitar o que o dinheiro e a fama tem para oferecer. Pelo contrário, a joia palmeirense lida com todo o seu sucesso de uma maneira muito tranquila e de forma bem discreta, sendo extremamente frio para tomar decisões importantes.

“Estabeleci para mim mesmo a meta de aprender cinco idiomas. Um deles será muito diferente porque será muito importante para mim. Quero aprender a linguagem de sinais. Quero me conectar com todos. Quero falar com os mudos ou com as pessoas que não ouvem. Minha mãe e minha irmã dizem que estou com frio. As pessoas dizem que tenho o coração de gelo e sou muito frio com as decisões que tomo e com o que digo”, disse o jovem.

Endrick marcou 14 gols em 53 jogos em 2023, 11 pelo Campeonato Brasileiro, ultrapassando Neymar como jogador com menos de 18 anos a marcar mais de dez gols na competição. Em 2009, o craque do Al-Hilal fez dez gols vestindo a camisa do Santos. Tal desempenho fez com que a joia fosse convocado pelo técnico Fernando Diniz no último compromisso da seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo, o que trouxe muita alegria ao jogador e principalmente para sua família.

Neste ano, o desempenho de Endrick superou as expectativas da crítica e do próprio jogador, que estará ao lado de Vinícius Jr no Real Madrid e que segundo suas próprias palavras sente prazer e alegria ao entrar em campo e conseguir jogar futebol em alto nível.

“Hoje posso me divertir em campo. Eu realmente me divirto em campo. Eu me divirto jogando futebol. É isso que quero fazer na minha vida. Porque se eu não estiver feliz nada vai dar certo. Minha infância não foi a de toda criança, sempre brincando e indo à escola. Mas foi por uma boa causa e só tenho a agradecer a Deus por toda a vida que tenho hoje”, disse o futuro jogador do Real Madrid.

Foto de Lucas de Souza

Lucas de SouzaRedator

Lucas de Souza é jornalista formado pela Universidade São Judas em São Paulo. Possui especialização em Marketing Digital pela Digital House, e passagens pelos sites Futebol na Veia e Futebol Interior.
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